Em 1958, o escritor Raymundo Faoro publicou pela primeira vez o livro “Os donos do poder – Formação do patronato político brasileiro” -, um livro que convida o leitor para uma viagem ao universo de forças que impuseram ao país algumas de suas mais características feições políticas atuais, traçando cronologicamente a evolução pouco republicana dos nossos políticos e de nossos eleitores.
Mais do que um livro que conta a história política nacional, Faoro – creio que sem ter essa pretensão – profetizou o atual momento brasileiro quando afirma a ideia de um Estado como “máquina conspiradora“.
Conspiração. Não há outro termo mais apropriado para conceituar nossa política. A constatação veio anteontem com o depoimento do executivo Emílio Odebrecht ao juiz Sergio Moro no famigerado processo da Lava Jato. Nele, Emílio afirma que os pagamentos não contabilizados a políticos já existiam desde a época do pai dele, Norberto, fundador do grupo.
Ontem (14), Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, encaminhou uma lista com 83 pedidos de inquérito sobre políticos de diversos partidos, ratificando que nossa política nada mais é que um lixo. Políticos, no afã de se elegerem, em na contramão do que deveria ser a realidade, se vendem a empresários e depois se tornam subservientes a eles, deixando a população e os eleitores (os verdadeiros patrões) à mercê de negociatas que levaram o país a esse caos que se apresenta. Já não sabemos o que é público e o que é privado.
Já não sabemos o que é certo e o que é errado. Nos acostumamos com as migalhas, já que o grosso da receita, que deveria ser aplicada em saúde, educação, segurança, infraestrutura… segue nebulosamente para caixas 2 de campanhas e para políticos desonestos que autorizam obras e investimentos superfaturados com o único objetivo de que esse dinheiro retorne a eles, numa ciranda que parece não ter fim.
Essa ideia de que campanhas políticas devem ter gastos astronômicos para se sagrarem vitoriosas já não é mais prerrogativa dos grandes centros. Infelizmente o que se vê hoje são prefeitos empenhados em pagar seus patrões autorizando obras superfaturadas. O que era exceção virou regra e a política, que outrora ficava a cargo de idealistas, hoje está banalizada e com um único objetivo: o lucro.
Dizem, os mais próximos ao poder, que os desvios na Petrobras são “fichinha” perto do que está por vim. A investigação das negociatas no BNDES seria próxima mira de Janot e cia Ltda. Por lá bilhões e bilhões de Reais teriam sido desviados com o mesmo objetivo: abastecer os cofres de partidos e políticos. Que venha o BNDES e que toda essa grana roubada seja devolvida e os envolvidos presos. O Brasil, dos brasileiros agradece!