Brasília – Frases como: “Decepção com as velhas ‘raposas’ da política”, ou “Se está ruim, pior não pode ficar!”, são algumas das razões que levaram um contingente considerável de eleitores espalhados pelo Brasil, a decidir romper com o tradicional e apostar na eleição de uma “onda” de jovens candidatos, mulheres e homens, que resultou a nova legislatura na menor idade per capita da história do Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, foram eleitos 25 deputados com idades entre 21 e 30 anos. Um recorde sem precedentes.
Alguns desses novatos, debutam no Congresso Nacional como campeões estadual e nacional de votos, como o polêmico deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que saiu da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, direto para uma cadeira na Câmara dos Deputados, com nada menos que 1.492.047 votos. A votação de Nikolas, se fosse no Pará, por exemplo, elegeria, com as sobras, mais três deputados federais pela sua legenda.
O deputado mineiro começou o mandato com ações arriscadas que podem lhe custar o mandato. No Dia da Mulher, Nikolas Ferreira vestiu peruca e afirma que as mulheres estão perdendo seu espaço para “homens que se sentem mulheres”.
Da Tribuna, o deputado usou o momento de fala quando e disse que “se sente mulher”.
“Me sinto mulher, deputada Nikole, e tenho algo muito interessante para poder falar. As mulheres estão perdendo o seu espaço para homens que se sentem mulheres”, disse.
“E, para terem ideia do perigo de tudo isso, estão querendo colocar uma imposição de uma realidade que não é uma realidade. Eu posso ir para a cadeia caso seja condenado por transfobia, porque eu, no Dia Internacional das Mulheres, há dois anos, parabenizei as ‘mulheres XX’. Ou você concorda com o que estão dizendo ou, caso contrário, você é um transfóbico, um preconceituoso”, prosseguiu.
Menos polêmico, o deputado federal mais jovem dessa legislatura, Ícaro de Valmir, do PL de Sergipe, foi o segundo mais votado no estado. Ao agradecer seus eleitores, o deputado repudiou as críticas ao seu jeito simples e reiterou suas promessas de campanha de conseguir mais recursos para o interior sergipano.
“Iremos trazer a maior quantidade de recursos possíveis que um deputado federal pode trazer para seu estado. Iremos trazer a quantidade de recursos para a saúde, para a infraestrutura, iremos trazer toda a qualidade vida para os sergipanos”, prometeu, com discurso nada devendo aos grisalhos colegas eleitos na bancada do estado nordestino.
Já a deputada mais nova desta legislatura, Amanda Gentil, do Progressistas do Maranhão, tem 24 anos e afirmou que vai mostrar a força dos mais jovens na defesa dos direitos de todos os brasileiros.
“Hoje eu estou aqui como a deputada federal mulher mais jovem do país, para mostrar que irei lutar todos os dias pelos nossos direitos. O direito de nós mulheres estarmos representadas na política, para que os jovens também saibam que eles podem chegar no lugar onde estou hoje”, ensinou.
Aos 22 anos, o deputado Lula da Fonte, do Progressistas de Pernambuco, filho do deputado Eduardo da Fonte, começou sua carreira política em 2018 e foi eleito com mais de 92 mil votos.
“Defendendo pautas importantes como a proibição dos testes de cosméticos em animais, defendendo o programa de aquisição de alimentos, defendendo o projeto de lei que institui a obrigatoriedade no oferecimento de duas merendas escolares por turno nas escolas públicas. E defendendo principalmente o nosso povo que deve pautar o nosso mandato”, o jovem deputado tem DNA e neurônios, o que encantou. Parte do eleitorado pernambucano, considerado tradicionalista quando o assunto é política.
Ademais, nos estados do Norte e Nordeste, a chance de um herdeiro de família que faz política para se dar bem, supera os prognósticos das demais regiões do país. Nas duas regiões, os coronéis e seus currais eleitorais continuam como há um século, tem dono e entusiastas fiéis.
Com 21 anos, Amon Mandel, do Cidadania do Amazonas, foi o deputado mais votado daquele estado, com respeitáveis 288.555 votos, e tem entre suas bandeiras o fim do serviço militar obrigatório e a preservação ambiental.
“Eu sou o terceiro mais jovem no Congresso Nacional nesta legislatura e eu espero com isso apresentar uma perspectiva diferente sobre a nossa juventude. Não é só para falar em levar em consideração a opinião dos jovens, mas também na questão da inclusão social, do investimento em educação, da assistência social de famílias em vulnerabilidade social e a questão da desigualdade como um todo em nosso país”.
Amon Mandel estava exercendo o cargo de vereador na cidade de Manaus desde 2021, tendo sido o vereador mais jovem da cidade, com apenas 19 anos.
“É um talento nato para a política”, disse o deputado Átila Lins (PSD-AM), congressista com mais mandatos na Câmara dos Deputados pelo estado do Amazonas, com inacreditáveis 9 mandatos consecutivos, referindo-se a Mandel.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.