Por reforma agrária acelerada, sem-terras ligados ao MST ocupam sede do Incra em Marabá

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Por Paulo Costa – de Marabá

Desde a meia noite desta terça-feira, 5, um grupo de trabalhadores rurais ligados ao MST (Movimento dos Sem Terra) ocupa a sede da Superintendência Regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Marabá para tentar forçar a coordenação do órgão fundiário a negociar uma pauta que eles trouxeram em mãos.

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Por conta dessa ocupação pacífica, servidores do Incra em Marabá não puderam entrar na sede para trabalhar na manhã desta terça-feira. E não são apenas adultos que estão no local. Eles levaram também crianças, muitas das quais ajudaram na montagem do acampamento, que não tem data para terminar.

Eles reivindicam a aceleração do processo de reforma agrária na região e colocam em pauta a desapropriação de oito áreas no Estado, entre elas as fazendas Peruano, Maria Bonita e Primavera.

Tito Moura, membro da direção estadual do MST, disse que a previsão é de que cerca de 300 famílias se unam à ocupação ainda esta semana e lamentou que as reuniões com a Superintendência do Incra em Marabá não tenham surtido o efeito desejado. “As famílias discutiram sobre o assunto e, juntos, decidiram realizar essa ocupação para pressionar o Incra a acelerar a reforma agrária”.

O MST exige que o presidente nacional do Incra, Carlos Guedes, mantenha um diálogo direto com a categoria. Do contrário, eles garantem que não vão desocupar a Superintendência Regional e avisam que já estão mobilizando integrantes de outros acampamentos mais distantes. “É uma reivindicação justa dos trabalhadores”, adverte Moura.

Barrados no portão
Alguns usuários ainda tentaram entrar na sede do Incra para resolver problemas pessoais, mas foram impedidos por alguns integrantes do movimento. Carlos Araújo Sampaio, que tem está pleiteando aposentadoria rural, foi ao Incra para conseguir documentos que o INSS requer e agora teme que a ocupação no Incra demore muitos dias. “Eu sei que a reivindicação deles é justa, mas não deveria impedir as pessoas de trabalhar”, avalia Sampaio, de 62 anos.

Atualização

No início da noite a direção do MST na região enviou ao Blog os seguintes esclarecimentos sobre a ocupação do INCRA de Marabá:

“O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), regional de Marabá, no sul do Pará foi ocupado por cerca de 500 famílias do MST na madrugada de terça feira (05/11).

As famílias reivindicam contra a morosidade do órgão perante as áreas irregulares pendentes para desapropriação. Ao todo são cinco fazendas que respondem as especificações legislativas para fins de reforma agrária, porém sem intervenção dos instrumentos públicos responsáveis.

As áreas reivindicadas pelos Sem Terra são a Fazenda Caumé, em Tucumã ao oeste do Pará, que foi sequestrada pela Polícia Federal por servir para plantação de drogas, cujo dono é o traficante Leonardo Mendonça. A área foi destinada a leilão e arrematada por um fazendeiro de Goiânia.

Pedimos que o INCRA interceda nesse caso e retome essa área para as famílias que lá já estão acampadas e trabalhando”, defende o coordenador regional do MST no Pará, Toninho.

A Fazenda Rio Vermelho, no município de Sapucaia, localizada no sul paraense está desde 2006 ocupada pelo acampamento João Canuto , com 150 famílias. Há mais de um ano o INCRA negociou uma permuta com os acampados que os levaria para outra parte da fazenda. Porém, até o momento a entidade nunca conclui a vistoria da área oferecida.

Outra disputa enfrentada pelas famílias Sem Terra é com o Grupo Santa Barbara do banqueiro Daniel Dantas. O INCRA tem criado vários empecilhos desde 2011, quando as negociações se iniciaram para desapropriação das fazendas Maria Bonita e Cedro.

Ambas as fazendas foram ocupadas pelo MST em Eldorado dos Carajás (PA) em 2008, estabelecendo os acampamentos Dalcídio Jurandir e Helenira Rezende, respectivamente, com mais de 400 famílias.  

Segundo levantamento cartorial feito pelo INCRA e Terra Legal, se trata de áreas irregulares, portanto apta para reforma agrária, o que beneficiaria muitos trabalhadores que já vivem da subsistência e do comércio dos produtos frutos dessas terras.

Ademais, a Fazenda Peruana, também em Eldorado dos Carajás, onde mais de 350 famílias vivem desde 2004, sofre com a morosidade do INCRA. A área foi grilada pela antiga família oligárquica de Marabá, “os Mutran”, conhecidos pela truculência contra trabalhadores rurais e os vários casos de trabalho escravo em suas terras no Pará.

Por fim, a mais emblemática é a Fazenda Fazendinha, em Curionópolis (PA) onde se encontra o acampamento Frei Henri, que nos últimos anos foi vítima de ataques de pistoleiros armados. O INCRA e o Terra Legal já deu parecer para desapropriar a área, mas o juiz da vara agrária de Marabá demora em dar o veredito da decisão.

Não vamos sair do INCRA enquanto o Superintendente  não nos der uma resposta satisfatória para toda essa problemática emperrada pela inoperância do estado”, conclui a nota.