Está quase tudo pronto para a 6ª Semana dos Povos Indígenas, que começou neste domingo (15), em São Félix do Xingu, sudeste do Pará. Na Praça do Triângulo, no Centro, onde se concentrarão algumas das principais atividades, a organização dá os últimos retoques na decoração, que este ano caprichou nas cores e nas referências às etnias participantes. O maior evento do gênero no Estado vai provocar uma discussão atual, sobre o empoderamento da mulher indígena, e falar ainda sobre gestão ambiental e territorial. À celebração da cultura dos povos tradicionais somar-se-ão uma ação de cidadania e oficinas diversas, tudo gratuito e oferecido pelo governo do Estado.
Um dos grandes momentos é a chegada, neste domingo (15), por volta das 17h, das 70 embarcações que trazem os cerca de cinco mil índios esperados para o evento. Eles pertencem a doze povos e vêm de todos os cantos do Pará e até de outros Estados, como Maranhão e Mato Grosso, segundo a coordenadora geral da semana, Viviane Cunha. “O que começou como um momento para atender, primeiramente, os Kayapós de São Félix, cresceu e se tornou um dos maiores encontros de índios da região e do Pará. Vivemos um momento crucial para o Brasil, com a definição de novos rumos, e os índios se inserem nesse contexto, na luta por direitos há muito negligenciados”, diz.
Entre os indígenas já presentes em São Félix estão os primos Fetxa e Thaysaka Fulni-ô, de Pernambuco. Depois de passar por três Estados, em uma viagem de oito dias, chegaram ao Pará, que ainda não conheciam. A expectativa para integrar os festejos, fazer coro nas discussões e expor o belo artesanato é grande. “Viemos representar nosso povo a convite de um irmão Kayapó aqui da cidade. Queremos mostrar nossa cultura e levar para nossa aldeia o conhecimento que adquirirmos aqui”, afirma Thaysaka, exibindo com orgulho peças como o cocar feito com penas de coruja e os tererês para ornar os cabelos das mulheres. Os Fulni-ô, ele conta, ainda mantêm preservados costumes e o idioma próprios.
Celebração
Antes de sair das aldeias em direção a São Félix – o terceiro maior município paraense em extensão territorial, atrás apenas de Altamira e Oriximiná –, as tribos fazem festa, numa espécie de preparação para os dias vindouros longe de casa. Na aldeia Krôkamôr, às margens do Rio Xingu e longe cerca de oito horas de barco da sede municipal, homens, mulheres e crianças Kayapó se unem na dança Kwyrykangô. Eles entoam cantos na língua materna e varrem o chão batido de terra com os pés, paramentados com a célebre pintura corporal e adereços feitos de miçangas. Entre um passo e outro, uma prova do Berarubu, iguaria feita com massa de mandioca e carne de caças. O ritual dura cerca de 20 horas antes da saída em direção à cidade.
“Nos preparamos para ir à Semana dos Povos Indígenas com tradições e costumes que foram repassados por nossos ancestrais. Fazemos essa celebração com música e comida, numa festa da mandioca. Chegando à cidade, nos reunimos com os líderes das outras aldeias e decidimos tudo em conjunto para que reine durante os jogos e debates um clima de harmonia entre todos”, assinala Mundico Kayapó, cacique da aldeia. “Mantemos aqui o que nos foi repassado pelos nossos antepassados. A caça é muito importante nessa celebração, assim como os ornamentos corporais”, complementou a esposa do cacique, Kôkôkri Kayapó. Moram na Krôkamôr, segunda maior aldeia do município, cerca de 480 índios.
Serviços
As equipes do Estado que vão prestar os mais diversos serviços aos índios e à comunidade também já estão em São Félix do Xingu. Defensoria Pública, Pro Paz, secretarias de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), de Saúde Pública (Sespa), de Turismo (Setur), de Esporte e Lazer (Seel), de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e de Comunicação (Secom), polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros se unem para levar ações diversas, como emissão de documentos, atendimentos de saúde, ações de segurança, oficinas de arte e cultura e orientações jurídicas. São mais de 60 servidores do Estado presentes na força-tarefa. Entre os cursos ofertados, estão os de texto, fotografia e audiovisual, que serão ministrados por monitoras do projeto Biizu, da Secom.
“A Semana dos Povos Indígenas, então, se torna esse momento em que o Estado vem até o índio e lhe assegura direitos e políticas públicas, sem contar nos debates, que este ano vão bater forte na questão da igualdade de gênero e na luta pela reconquista de territórios. Índio sem território não tem educação, não tem saúde nem outros direitos”, frisa a gerente de Promoção e Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas da Sejudh, Puyr Tembé.
A abertura oficial da Semana dos Povos Indígenas será na segunda-feira (16), às 19h, com apresentações culturais, exposição de artesanatos e show da cantora Maria Gadu. Só que às 7h30, os índios já participam dos jogos, em pontos diversos da cidade. Entre as modalidades estão atletismo, futsal, vôlei, futebol e arco e flecha. E mais: será eleita a Beleza Indígena, concurso com a participação de mulheres de todas as tribos. O evento termina no Dia do Índio, quinta (19), com uma caminhada pelas principais ruas de São Félix do Xingu, numa apoteose de força, beleza e tradições.