Preço do açaí dispara e litro pode chegar a R$ 40, em março

Fora da safra, produto escasseia, consumidor reclama e batedores fecham as portas. Abap diz que Parauapebas pode ter sua própria produção para abastecer cidade. Só precisa de incentivo.

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“Dinheiro não traz felicidade, mas compra açaí, que é quase a mesma coisa”, dizem os paraenses. Pois, para um Estado que é o maior produtor de açaí do mundo, essa tal “felicidade” vem sendo dificultada e até negada para quem não vive sem o mais famoso alimento das mesas do Pará, que é saborear o açaí diariamente.

Isso porque, a cada ano, a compra do produto tem pesado no orçamento das famílias, principalmente no período fora da safra, como agora em janeiro em que já nas primeiras semanas o preço do litro subiu para R$ 28, quando em outubro poderia ser encontrado, em média, por R$ 18. Antes disso, em maio de 2024, o litro estava em R$ 13 e subiu para R$ 15, em setembro.

Quando o preço bateu em R$ 20, a reclamação começou. “E agora que está R$ 28, então? Tem cliente que chega, olha e fala: ‘ô, não dá mais para mim’. Então, bastante cliente some e a gente só vai revê-lo na safra. E aí a partir de maio a gente começa a ver os clientes novamente. Mas eu, realmente, concordo com eles de que o preço está alto”, reconhece Werbet Santana, presidente da Associação dos Batedores de Açaí de Parauapebas (Abap).

Afinal, observa ele, geralmente as famílias precisam mais que 1 litro de açaí no almoço. “Um litro não dá. E se a família compra dois litros são R$ 56. Então, dependendo da família, melhor comprar um quilo de carne, que dá pra todo mundo. Ao contrário de outros Estados aí, que veem o açaí como lanche, aqui a gente consome como comida principal”, compara.

E, para os próximos meses, a notícia não é nada boa: em março, o litro poderá bater em R$ 40. “Tranquilamente isso deve acontecer lá pelo mês de março e abril. Só que março é o mês que a situação complica mesmo para todo batedor. Isso é muito ruim porque os estabelecimentos periféricos acabam fechando”, anuncia Santana,

O presidente da Abap diz que não há existe levantamento de quantos estabelecimentos de venda de açaí fecham no período crítico de vendas, mas ele calcula em mais de 50%. “Uns voltam quando começa novamente a safra. Outros já vendem o equipamento e saem do segmento”, revela Santana, para esclarecer que o batedor de açaí não tem como evitar a alta dos preços.

No auge da safra, por exemplo, era possível comprar uma saca de açaí por R$ 140, valor que praticamente triplicou agora em janeiro. “Estou pagando R$ 460 o saco, com quatro latas”, conta o presidente da Abap, acrescentando que apesar das baixas no número de estabelecimentos nesse período o mercado só cresce a cada ano.

Enquanto a Abap tem 105 associados, Parauapebas já reúne mais de 200 pontos de venda de açaí. “Eu observei que de cinco anos para cá houve uma guinada grande e o mercado saturou um pouquinho. O Cidade Jardim tem mais de 16 estabelecimentos de açaí. O da Paz mais que dez. E um perto do outro, o que saturou o mercado. Mas dá pra todo mundo, tem cliente pra todo mundo, principalmente quando o preço está mais viável, mais convidativo”, avalia Werbet Santana.

Falta de incentivo

Somente a partir de maio, quando começa a safra do açaí, o preço do produto voltará a cair. Isso, até setembro ou outubro, época em que a “tal felicidade” voltará à mesa de muita gente. De Abaetetuba, Igarapé-Miri e Cametá, maiores produtores do Pará, e também de Parauapebas sai o açaí vendido no município.

De Parauapebas? “É daquela região de Contestado, que é de Marabá, mas também de Parauapebas. Ali, nas vilas de Três Poderes, Santa Fé, Vila do Rato, Vila Sanção”, confere Werbet Santana, acrescentando que ali os açaizeiros são nativos, com alta produção do fruto. Em 2024, a Abap fez um levantamento na região e aferiu produção de 40 a 60 toneladas de açaí, por dia, durante a safra.

Até um tempo atrás toda essa quantidade era vendida em Parauapebas, o que contribuía para a queda no preço do açaí devido à oferta ser maior que a demanda, mas com a crescente procura a situação mudou. “Antigamente, todo esse açaí ficava pra nós. Mas agora aqui em Parauapebas entra em torno de 25, 30 toneladas porque o pessoal de fora – e aí eu falo inclusive de Abaetetuba, Bragança, Imperatriz (MA) – vem buscar açaí aqui, com isso a gente tem que buscar fora”, informa o presidente da Abap.

Werbet Santana assegura que Parauapebas reúne todas as condições, climáticas e de solo, para plantio de açaizais de qualidade. E que poderia se transformar num forte segmento econômico na região se recebesse apoio e incentivo do governo municipal.

“Temos solo e clima ideais, já temos plantios grandes e não temos políticas públicas para a produção de açaí. A gente poderia ter pelo menos uma coordenadoria do açaí, pequenininha que seja, para fortalecer a cultura do açaí, o plantio, a agricultura familiar porque aí fortalece também outra matriz econômica em nossa cidade”, aponta Santana.

E garante o presidente da Abap, já dando a dica para quem pensa em investir: “O açaí é uma cultura boa porque logo te dá retorno. Com três anos, você já tem a primeira safra e é um negócio certo. Plantou o açaí, cuidou dele, irrigou, adubou, é retorno garantido”.

Texto e fotos: Hanny Amoras (Jornalista – MTb/PA 1.294)

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