Brasília – Uma mudança de humor do telespectador, atribuída à desaprovação da adoção de uma linha editorial em permanente litígio com o atual governo, suspensão de verbas governamentais e cansaço da fórmula de algumas de suas principais atrações, forçou a outrora “vênus platinada” – a Rede Globo –, após a divulgação pelo mercado de perdas de R$ 114 milhões no primeiro semestre de 2021, a rever a sua estratégia para manter a liderança da audiência.
Neste domingo (10), a emissora anunciará mudanças em sua grade de atrações: Tadeu Schmidt assumirá o Big Brother Brasil (BBB) em 2022; Maju Coutinho vai para o Fantástico e César Tralli fica com a apresentação do Jornal Hoje.
A emissora carioca vem rescindindo contrato com grandes nomes da sua equipe há pelo menos um ano e reduzindo drasticamente o salário de algumas de suas estrelas. Quem não concorda, é demitido ou tem o contrato rescindido.
A decisão foi tomada pouco depois do anúncio da saída de Fausto Silva dos domingos do canal da família Marinho. A Globo antecipou a saída do apresentador em 17 de junho, anunciando, em 22 de julho, que Luciano Huck estrearia com o “Domingão do Huck”, a partir de setembro. A atração até agora não decolou e não atingiu os índices de audiência facilmente conseguidos por Faustão.
No lugar de Luciano Huck, aos sábados, entrou Marcos Mion – que saiu da Record em janeiro de 2021, e a audiência do programa continua a desejar após dois meses da estreia. E mais: Tiago Leifert, que assumiu o Domingão do Faustão depois da saída abrupta de Fausto Silva da empresa, também anunciou o fim do contrato com a emissora, em 9 de setembro, alegando motivos pessoais.
Dívidas e prejuízos crescem sem parar
As alterações no quadro vêm na esteira de déficit milionário do grupo da família Marinho. A Globo registrou prejuízo de R$ 114 milhões no primeiro semestre – alta de 122% em relação ao mesmo período de 2020, quando perdeu R$ 51 milhões.
A receita líquida foi de R$ 6,5 bilhões – avanço de 17%. A empresa cortou R$ 281 milhões em pessoal de janeiro a junho. Os dados foram divulgados ao mercado no início de setembro.
Apesar de apontadas como fatores positivos, a retomada gradativa de gravações e a normalização da programação puxaram os resultados negativos da emissora. As medidas foram tomadas logo no início da pandemia – para combater a transmissão do novo coronavírus.
“A companhia manteve seus esforços na busca pela eficiência e, apesar de a pandemia ainda estar em curso, foi possível manter o alto padrão de segurança nos estúdios, permitindo a continuidade de projetos de conteúdos originais, programas ao vivo e reality shows,” diz em comunicado.
Nova estratégia
A plataforma de streaming do grupo, o Globoplay, tem conquistado espaço cada vez maior no mercado brasileiro. Em março de 2021, os assinantes da ferramenta assistiram a 253,3 milhões de horas de conteúdo – alta de 119% frente ao mesmo mês de 2020, quando foram 115 milhões de horas. Desde o lançamento da plataforma, em novembro de 2015, a Globo tem ampliado seu acervo nacional – disponibilizando, por exemplo, séries e novelas antigas.
O serviço, que já está disponível nos Estados Unidos, chegará à Europa e ao Canadá em 14 de outubro. O objetivo é expandir também para Ásia e África. Além do catálogo tradicional da plataforma, também são oferecidos os conteúdos de canais pagos, como GNT, Multishow, GloboNews e Off. Entretanto, a linha editorial do jornalismo é uma das razões da “fuga de audiência”, como a desconexão deliberada da emissora à realidade dos fatos.
Por exemplo, enquanto as pessoas que foram aos protestos de 7 de setembro testemunharam a adesão de milhares de pessoas nas ruas em todo o Brasil, o noticiário da Rede Globo afirmou que os protestos não tiveram relevância de público. “Isso arranha a credibilidade do jornalismo e é um caminho perigoso,” disse um colunista especializado em programas de TV.
Receita de transmissões exclusivas também foram reduzidas
Com efeito direto nas perdas financeiras da empresa, a Globo tem perdido seu poderio nas transmissões de eventos esportivos. Para cortar gastos, a empresa tem diminuído as transmissões, perdendo, por exemplo, os direitos da Copa Libertadores, depois de anos de domínio. Também deixou de transmitir Campeonato Carioca, Campeonato Paulista, Copa Sul-Americana e Recopa Sul-Americana. No exterior, deixou de ter os direitos da Liga dos Campeões da Europa e por pouco não perdeu a exibição da Copa do Mundo de 2022 – pois chegou a acordo com a Fifa, em 22 de agosto, por US$ 90 milhões.
Não foi só no futebol. A Band fechou, em fevereiro, o contrato de transmissão da Fórmula 1 para as temporadas de 2021 e 2022. A Globo disse que não houve acordo, citando a “nova realidade mundial dos direitos esportivos”. A resposta foi considerada como uma piada por executivos do setor. “A Globo há décadas transmitia com exclusividade a Fórmula 1 e agora critica os termos do contrato?”, questiona um analista.
A tendência é que a empresa continue com dificuldades no caixa. Mesmo com a maré contrária dos negócios, a empresa fez um investimento milionário na construção de um novo estúdio (MG4), de última geração em sua área no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, elevando ainda mais o seu endividamento.
Por Val-André Mutran – de Brasília