A professora de história da economia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Claudia Goldin, foi laureada nesta segunda-feira (9) com o prêmio Nobel de Economia. O telefone de Claudia tocou no fim da madrugada quando ainda dormia, sendo informada por um representante do Banco Central da Suécia sobre a notícia.
O comitê do Prêmio Nobel premiou a pesquisa de Claudia Goldin que revela a dinâmica da desigualdade de gênero e renda no mercado de trabalho.
Claudia Goldin parece predestinada ao pioneirismo. Em 1989, ela tornou-se a primeira mulher a receber oferta para ocupar um cargo efetivo no departamento de economia da Universidade Harvard.
Agora, aos 77 anos, a acadêmica é a primeira mulher a ganhar sozinha o Nobel de Economia. Professora titular da cátedra Henry Lee em economia em Harvard, sua pesquisa — também pioneira — lançou nova luz sobre desigualdade de gênero e renda no mercado de trabalho.
Entrevistada pelo jornal The New York Times momentos depois do anúncio, Claudia Goldin disse enxergar no fato de ser a primeira mulher a ganhar sozinha o Nobel de Economia o ápice de uma série de mudanças relevantes na busca por diversidade de gênero na área.
Quem foram as outras ganhadoras do Nobel de Economia
Desde 1968, quando o Banco Central da Suécia instituiu o Prêmio de Ciências Econômicas em Homenagem a Alfred Nobel, ela é a apenas a terceira mulher laureada.Antes dela, somente Elinor Ostrom e Esther Duflo haviam levado o prêmio. No entanto, ambas dividiram o laurel com homens.Elinor Ostrom foi a primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia. Ela dividiu o prêmio de 2009 com Oliver Williamson pelo trabalho da dupla sobre governança econômica. Já em 2019, Esther Duflo dividiu o prêmio com Abhijit Banerjee (seu marido) e Michael Kremer.No Nobel de Economia deste ano, Claudia Goldin não era considerada entre os favoritos ao prêmio.
Desigualdade de gênero no mercado de trabalho
Goldin é reconhecida por sua pesquisa histórica sobre a participação das mulheres na economia norte-americana ao longo dos séculos.Ela demonstrou que o aumento e a retração da presença feminina no mercado de trabalho não ocorrem de forma linear.Também confirmou empiricamente o impacto da pílula anticoncepcional sobre os rumos do casamento e da carreira das mulheres.Ao anunciar o prêmio, o comitê do Prêmio Nobel destacou o fato de a pesquisa de Claudia Goldin ter ajudado “a expandir a compreensão sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho”.Em suas pesquisas, a professora de história da economia demonstrou como a industrialização afastou as mulheres do mercado de trabalho no século 19.Ela também mostrou como a presença feminina no mercado de trabalho aumentou no início do século 20, quando o setor de serviços começou a ganhar espaço na economia.Essas conclusões vieram ao longo de décadas de pesquisas sobre o mercado de trabalho norte-americano.Entretanto, a mais relevante de suas constatações encontra-se nas origens da desigualdade salarial entre homens e mulheres.No passado, as disparidades salariais entre homens e mulheres costumavam ser explicadas pelo grau de escolaridade e pelo tipo de ocupação.Com a popularização dos métodos de controle de natalidade, o ingresso na universidade e a presença cada vez maior de mulheres em campos de trabalho antes restritos a homens, tornou-se claro que a remuneração oferecida a elas era menor mesmo quando desempenhavam a mesma função.
Distorção
Claudia Goldin conseguiu então apontar quando a disparidade salarial entre homens e mulheres começa a aumentar: a diferença salarial ganha força entre um e dois anos depois de a mulher ter seu primeiro filho.Embora a disparidade venha diminuindo no geral, a Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que, no ritmo atual, a desigualdade salarial entre homens e mulheres será zerada somente daqui a mais de 250 anos.Na entrevista ao NYT, Goldin enfatizou que as estruturas sociais e familiares nas quais as mulheres e os homens crescem moldam não só o comportamento, mas também os resultados econômicos.Embora ela reconheça “mudanças progressivas monumentais”, diferenças importantes permanecem em cena.Segundo a historiadora, muitas vezes essas diferenças estão ligadas ao fato de as mulheres realizarem mais trabalhos domésticos.“Nunca teremos igualdade de gênero enquanto não alcançarmos igualdade conjugal.”
Formalmente conhecido como Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, o prêmio é o último da safra de prêmios Nobel deste ano e vale KR$ 11 milhões de coroas suecas, ou pouco menos de US$ 1 milhão de dólares ou ainda, R$ 5.169.045,00, na cotação do dólar desta segunda-feira.
Fonte: Com informações da BBC e do The New York Times.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.