Brasília – Em cerimônia, na manhã desta terça-feira (5), no Palácio do Planalto, com a presença do ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assina o decreto que regulamenta o Programa Cozinha Solidária. O ato marcará a plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Na ocasião, Lula assinará também outro decreto, que trata da composição da cesta básica de alimentos, alinhada com as recomendações e princípios dos Guias Alimentares Brasileiros.
O Programa Cozinha Solidária foi criado em julho de 2023, por meio da Lei 14.628/2023, e é coordenado pela pasta de Dias. Com a assinatura do decreto, será feito anúncio de R$ 30 milhões em recursos destinados à oferta de refeições, os quais serão acessados pelas entidades gestoras do Cozinha Solidária, por meio de editais de chamada pública.
A secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Lilian Rahal, explicou que o programa é uma estratégia do governo que permite a integração de outras ações de segurança alimentar e nutricional, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana.
“Estamos abraçando iniciativas da sociedade civil e fazendo com que essas políticas públicas cheguem ainda mais perto de quem mais precisa ter garantido o direito humano à alimentação adequada e saudável,” frisou.
As Cozinhas Solidárias surgem a partir das iniciativas da sociedade civil e de movimentos populares, que, especialmente durante a pandemia de covid-19, se articularam e criaram espaços para preparo e distribuição de refeições, em resposta à realidade da fome que se acentuou ainda mais naquele período.
Decreto
A regulamentação do Programa Cozinha Solidária também estabelece diretrizes e normas para orientar as diversas iniciativas que passarão a ser atendidas em todo o território nacional. Além disso, o documento determina as modalidades de apoio do Governo Federal, critérios para participação, princípios, diretrizes e finalidades ancorados em bases da segurança alimentar e nutricional.
A gestão e operacionalização do programa se dará por meio de parcerias entre MDS e entidades gestoras (entidades privadas sem fins lucrativos), que atuarão na gestão e coordenação compartilhadas com uma ou mais Cozinhas Solidárias, oferecendo suporte ao funcionamento dessas tecnologias sociais.
Além disso, as Cozinhas Solidárias que fizerem parte da iniciativa poderão participar da formulação, implementação e monitoramento do programa, garantindo a transparência e o engajamento da comunidade nas ações desenvolvidas.
Estas parcerias serão orientadas pelas seguintes diretrizes definidas no decreto:
- Acesso à alimentação adequada e saudável, de acordo com os preceitos do Guia Alimentar para a População Brasileira;
- Participação social na formulação, execução, acompanhamento, monitoramento e controle do Programa;
- Intersetorialidade, articulação e coordenação das ações relativas à segurança alimentar e nutricional e a
- Valorização da cultura alimentar e incentivo à utilização dos alimentos provenientes da agricultura familiar e da agricultura urbana e periurbana.
Os recursos destinados às iniciativas de Cozinhas Solidárias participantes terão como finalidade apoiar a oferta de refeições para ações já em funcionamento, fornecer alimentos in natura e minimamente processados, adquiridos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos, e apoiar a formação de colaboradores ou a implementação de projetos que abordem processos formativos com objetivo de aprimorar o funcionamento destes equipamentos.
Contexto
Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), publicados em 2022, revelaram que 33 milhões de pessoas no Brasil estão em situação de insegurança alimentar e nutricional considerada grave. A maioria dessas pessoas vivem em áreas urbanas. Além disso, a volta do Brasil ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em 2022 soa como alerta, apontando para a urgência de ações efetivas que respondam às demandas decorrentes dessa realidade.
Com a Lei das Cozinhas Solidárias, o Governo Federal passou a reconhecer estes equipamentos como uma tecnologia social crucial no combate à insegurança alimentar e nutricional. Em 2023, a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS deu início ao mapeamento dessas iniciativas em funcionamento em todo Brasil.
O objetivo é apoiar o planejamento e delineamento de ações estratégicas voltadas às experiências locais de abastecimento e oferta de refeições que atendem pessoas e famílias em vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional. Até o momento foram mapeadas mais de 2,4 mil cozinhas solidárias pelo país, a maior parte concentrada nas regiões sul e sudeste.
Por Val-André Mutran – de Brasília