Por Demerval Moreno ( * )
Doze anos antes da emancipação de Parauapebas, Roberto Carlos colocava nas paradas um LP com uma música engajada chamando a atenção para o crescimento desordenado e a falta de sensibilidade dos que auferem o lucro sem pensar no futuro. Em “O Progresso”, de 1976, os versos clamam: “eu não sou contra o progresso mas apelo pro bom senso, um erro não conserta o outro, isso é o que eu penso”.
Vinte e seis anos depois de tornar-se município de fato, para com autonomia E AUTORIDADES poder crescer e se desenvolver, o que se vê em Parauapebas é uma verdadeira destruição do seu relevo natural composto de morros e serras que encantaram os primeiros visitantes e atraíram a atenção da segunda maior mineradora do mundo, a Vale.
Aliás, neste contexto, qualquer pessoa ou empresário que destrua o meio ambiente sob qualquer pretexto, tem o direito de criticar a Vale, quase sempre acusada de “levar o nosso minério e deixar só o buraco”.
O boom imobiliário, que começou por aqui bem antes que em qualquer outro lugar, avança engolindo fazendas, derrubando árvores centenárias, comendo os morros de pedra, e as serras de vegetação natural numa fome avassaladora.
Tratores, moto-niveladoras e outras máquinas insensíveis fazem o trabalho devastador; as imobiliárias se encarregam de lotear as áreas degradadas. Se faz qualquer negócio. Tudo em nome da necessidade de moradia e de diminuir o déficit habitacional.
Como a auto explicativa placa colocada nas margens da PA-275 são necessários profissionais gabaritados para levar a efeito a destruição dessa topografia natural, sui generis, sem igual.
E o que é pior: depende de autorização das autoridades que vieram como bônus da emancipação, para colocar em marcha o rolo compressor da agressão contra a natureza. Não pense que tudo é aleatório. Prefeito assina e vereador corrobora. E os engenheiros, que em países desenvolvidos se formam para garantir a sustentabilidade e elaborar formas adaptar projetos ao meio ambiente urbano, aqui enxergam paisagismo como obstáculo e os montes como monturo de pedra e terra que só atrapalham.
No futuro, com tudo o que esta terra nos proporcionou, teremos uma cidade sem cartão postal natural. O belo terá cedido lugar ao concreto e só restará o abstrato. Como alertou Roberto Carlos.
O preço que hoje se paga por dinamitar uma rocha criada há milhões de anos não se comparará ao que será cobrado pela natureza nas próximas décadas. A vegetação natural hoje descartada fazia a contenção das águas da chuva e os morros e serras (Parauapebas é uma cidade construída num vale) reduziam a força e a velocidade das ventanias comuns no inverno amazônico. Sem essas barreiras naturais para minorar os impactos das intempéries resta construir casas, muros e prédios que realmente sejam fortes o suficiente para quando a conta chegar. Quando os primeiros moradores de Parauapebas começaram fazer suas casas toscas, construídas de madeira, barro e palha das palmeiras da região, os morros e serras eram imensos, abundantes. Papagaios, sabiás, curiós e caboclos lindos despertavam os amanheceres. As capivaras, cotias, porcos do mato e mesmo as onças ainda pintavam por aqui.
As chuvas eras constantes mas não violentas; o ambiente era selvagem, mas havia amor e respeito por tudo que este lugar oferecia. Hoje os edifícios já desafiam os gigantes naturais e se tornam maiores, mais altos, que alguns morros que resistem bravamente a essa fome de progresso e a essa sede que já bebeu os igarapés e poluiu as águas antes potáveis e piscosas.
Como background deste post sugiro que escutem a voz de Roberto Carlos na canção O PROGRESSO. Quem sabe nossos olhos mornos e nossos ouvidos moucos consigam captar a essência da letra que diz: EU QUERIA SER CIVILIZADO COMO OS ANIMAIS.
* – Demerval Moreno é radialista em Parauapebas.
6 comentários em “Progresso agressivo.”
Quer o que? Que continuemos a viver numa pequena vila sem nenhum conforto, e sem nenhuma globalização!
Vá morar nos confins de um desses interiores, banhar de riacho, comer arroz colhido no terreiro. Ainda há muitas opções como esta!
É fato, é lógico que essa corrida maluca pelo progresso já esta causando danos notaveis em Parauapebas exatamente onde a destruição dos morros é maior nas proximidades da cidade Jardim o estrago é grande quando há temporal, sem falar das partes baixas que estão sendo aterradas, causando alagamentos em outras áreas inusitadas, até onde o progresso é positivo?
É fato, é lógico que essa corrida maluca pelo progresso já esta causando danos notavel em Parauapebas exatamente onde a destruição dos morros é maior nas proximidades da cidade Jardim o estrago é grande quando há temporal, sem falar das partes baixas que estão sendo aterradas, causando alagamentos em outras áreas inusitadas, até onde o progresso é positivo?
Hipocrisia !
Sustentabilidade é proporcionar o futuro com mais qualidade de vida para futuras gerações não alijando – as de fazer suas escolhas !
Meu pai teve dificuldade para me educar e me deu o melhor que recebeu do meu avô por isso consegui formar criar família de educar meus dando – lhes mais que meu pai me deu !
Avó rico ! Pai nobre ! Filho pobre ! Não é sustentabilidade !
Esta visão pragmática e simplista verve para poesia de música e de loge muito pobre perto do navio negreiro de Castro Alves !
É Demerval, aqui no pebas cidade sem lei, não existe fiscalização, o que manda é propina, é o que eles querem como sustentabilidade.
Quem pensa assim deveria se locomover de jumento e carregar lata d’água na cabeça – hipócrita! com certeza você gosta de conforto.