Os dois principais investimentos da Vale em fase final de implantação, o projeto S11D, na Serra Sul de Carajás (PA), e o Moatize, em Moçambique, poderão ter rentabilidades menores do que as programadas pela empresa, disse Murilo Ferreira, presidente da mineradora. Mesmo menores, ambos os projetos têm um bom retorno garantido, segundo o executivo.
“Quem estiver no primeiro quartil [da indústria, em termos de custos], ou no começo do segundo quartil, os produtores de custo baixo, aqueles que tiverem melhor produto, esses vão sobreviver. Poderão ter rentabilidades menores, mas vão sobreviver e terão boa rentabilidade”, disse Ferreira, em entrevista ao Valor Econômico.
O presidente afirmou que, no atual cenário de mercado, os riscos serão menores para os projetos mais competitivos, caso do ativo de minério de ferro S11D e do ativo de carvão Moatize.
O S11D está no primeiro quartil da indústria da mineração de ferro em custos e vai produzir minério com alto teor de ferro, o qual recebe prêmios, em termos de preços. A Vale está com o cronograma de obras dos projetos “absolutamente” em dia, de acordo com Ferreira, que afirmou que não há atrasos na implementação do projeto.
“Sempre será necessário fazer um esforço adicional para que, com novos investimentos em tecnologia e com criatividade, seja possível assegurar o retorno prometido aos acionistas. Será um desafio permanente nesses novos tempos.”
Segundo avaliação de um analista, em um cenário de menor demanda por commodities minerais os preços tendem a permanecer em patamares mais baixos e, nesse ambiente, cai o retorno de projetos como S11D e Moatize.
Ferreira disse que a mineradora trabalhou nos últimos anos para ter ativos de “classe mundial”, projetos com escala, baixo custo de produção e boa qualidade dos produtos vendidos. “O níquel que produzimos no Canadá é amplamente disputado no mercado internacional”, afirmou o presidente, acrescentando que o carvão produzido em Moatize também deverá se tornar referência para preços no mercado daqui a alguns anos.
“O importante, em qualquer cenário econômico, é ter ótimo produto e ótimas reservas para dar continuidade à produção, ter ativos de primeira qualidade e custos baixos. Com isso, você está assegurado na indústria”, disse Ferreira.
Ele afirmou que, na atual situação do mercado, a abertura de capital do negócio de metais básicos não deve acontecer. “Sempre dissemos que não estávamos procurando recursos adicionais na operação do IPO [venda de ações] dos metais básicos. Seria para destravar valor [do negócio] e no nosso entendimento [o IPO] não se justifica neste momento”.
Ele falou ainda sobre a possibilidade de a Vale fechar o ano com investimentos na faixa de US$ 7 bilhões, 30% abaixo dos US$ 10 bilhões previstos para 2015. O investimento menor em dólares reflete, em boa parte, a desvalorização do real frente ao dólar. “Temos 70% do investimento feito em reais. A desvalorização [do real] permite investir menos dólares.”
O S11D é o maior projeto de minério de ferro da história da Vale e vai exigir investimentos de mais de US$ 16 bilhões, incluindo a logística, e entrará em operação no fim de 2016. Já Moatize, projeto de carvão em Moçambique, vai demandar mais de US$ 6 bilhões em investimentos e está em fase de aumento da produção.