Foi realizado, em Serra Pelada, o Seminário “Memória, Território e Futuros possíveis”, marcando a abertura do edital do Museu da Pessoa, metodologia e plataforma virtual para registrar a história de vida e da vila por meio de 20 personagens locais. A iniciativa prevê formação, em seis meses, de 14 membros da comunidade sobre tecnologias da memória. Ao longo desse processo, os participantes irão construir, organizar e socializar as memórias de Serra Pelada em formato de acervo virtual que ficará disponível na plataforma e acessível para pessoas de todo o mundo.
Ao final do bate-papo com convidados, os participantes do seminário seguiram para a inauguração dos painéis produzidos pelos moradores no ponto histórico conhecido da vila, o “Pau da Mentira”. Realizadas por meio de oficinas da Azulejaria, as atividades resgatam a memória local e deixam como legado uma obra de arte coletiva para Serra Pelada.
Representando a prefeitura de Curionópolis, Messac Rodrigues, destacou a importância da iniciativa com a participação efetiva dos moradores. “Nossa cidade é privilegiada em receber esse projeto muito importante para a nossa região, que contará a história de Serra Pelada, hoje nossa maior riqueza. E é muito gratificante saber que ela será contada pelos filhos daqui, que serão preparados aqui e terão esse brilho de aprender e transmitir para outras pessoas a nossa história”, disse Messac.
Diretora de Investimento Social Privado da Vale, Flavia Constant, ressaltou que o projeto com o Museu da Pessoa se soma a outras iniciativas que estão sendo realizados em parceria com a comunidade e o poder público. “Em 2022, concluímos um Censo em Serra Pelada que consolidou informações importantes, lançou luz sobre inúmeras potências e oportunidades para a região. A partir dos aprendizados do Censo que desenvolvemos, coletivamente, esses projetos de elaboração de memórias, com o objetivo de se pensar futuros possíveis. Por meio da produção criativa e empreendedora, envolvendo mulheres e homens de todas as idades, jovens e crianças, as memórias da região vêm sendo reveladas através da história oral, da azulejaria e do bordado”, diz Flávia.
Durante o evento de lançamento do edital do Museu da Pessoa, profissionais do cenário cultural brasileiro participaram de bate-papo sobre o trabalho de elaboração de memórias da região como a cantora e atriz Numa Ciro, também doutora em Ciência da Literatura e pesquisadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea pela UFRJ. A programação contou ainda com a participação de Alemberg Quindins, músico, artista plástico, escritor e empreendedor social, que criou em 1992 a Fundação Casa Grande/Memorial do Homem do Kariri em Nova Olinda, no Ceará. E ainda Belisário Franca, diretor de cinema, roteirista e produtor e documentarista.
Inscrições abertas
As inscrições para participar do edital do projeto do Museu da Pessoa seguem até o dia 5 de julho ou até atingir o número de 140 inscrições. Também nos dias 24, 25 e 26 de junho poderão ser feitas inscrições presenciais na subprefeitura de Serra Pelada. Para se inscrever, a pessoa precisa morar no distrito e ter disponibilidade de horário para o curso e as atividades previstas. O projeto é uma realização do Museu da Pessoa e do Ministério da Cultura, com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio da Vale e poder público. Mais informações sobre o edital e inscrições no site bit.ly/formacaomuseudapessoa.
Criação de moradores ganha mural no Pau da Mentira
O “Pau da Mentira” é ponto conhecido do distrito. Dona Maria Cleonice Lopes, moradora de Serra Pelada desde 1986, conta a história do local. “Era uma arvorezinha pequena. Com o decorrer desses 38 anos, ela está uma árvore gigantesca e muito bonita, onde se aglomerava muitos garimpeiros e parada de vans. Como garimpeiro gosta de aumentar um pouquinho, não são todos, mas gosta de contar história com aumento, pegou esse apelido de Pau da Mentira”.
O local testemunhou inúmeros encontros e agora reúne a expressão artística de cerca de 230 moradores que contam as suas histórias e as da comunidade de Serra Pelada. Entre elas, Josiana Poetisa, como ela prefere ser chamada. Perguntada sobre sua participação no curso, ela foi logo respondendo em forma de poema. “Para mim foi uma grande evolução, primeiramente de antemão quero agradecer a oportunidade de estar à frente da comunidade e fazer parte dela, porque é de grande alegria no meu coração começar a oficina de azulejaria nesse dia, que só me trouxe motivação, inspiração de viver e alegria”, declamou ela.
Realizado pelo Ateliê Azulejaria, a oficina teve patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio da Casa da Cultura de Canaã e do município de Curionópolis. O mural é resultado de sete meses de oficina, a partir de processo colaborativo entre os participantes sobre arte e educação, onde tempo e espaço se encontraram para lembrar, identificar, transformar, permanecer e expandir a memória e o futuro de Serra Pelada.
(Ascom Vale. Fotos: Divulgação)