Há algo a ser dito sobre a capacidade que o fim do ano e o fechamento de um ciclo possuem para fazer você pensar. É quase uma tradição o fato de o espírito que rodeia a celebração do Natal e do Ano Novo ser cheio de esperança e possibilidade, mesmo que o próprio ano tenha deixado um gosto desagradável.
Com esse senso de esperança em mente, trago-lhe a história de uma conterrânea que, como eu, veio para Parauapebas quando a cidade era apenas um pedaço de terra e minério no sudeste do segundo maior estado do país. Seu nome é Maria Onilce Rosa Pereira, ou apenas Onilce para os amigos.
Nascida no município de Formoso, estado do Goiás, ela se mudou primeiro para Xinguara, aos cinco anos de idade, e, mais tarde, aos dez, veio de vez para a Capital Nacional do Minério de Ferro. Foi aqui que, pela primeira vez, a menina frequentou uma escola, na pacata rotina de correr pelas ruas de terra batida e tomar banhos nos córregos.
Sua alfabetização tardia tornou-a alvo de bullying entre os colegas, mas também abriu caminhos e realidades com que Onilce jamais havia sonhado. Nos livros ela encontrou um lugar de consolo e autodescoberta, em que as condições que pareciam ditar e dificultar tanto sua vida não eram páreo para a sua fome de conhecimento e sede de determinação para perseguir uma paixão que já se mostrava nas brincadeiras infantis de contar nos dedinhos: as Ciências Contábeis.
Muitos poderiam considerar a natureza humilde de sua criação um obstáculo para a sua jornada ou mesmo para a sua força de vontade, mas, para Onilce, foi o contrário. Sua realidade serviu de trampolim e inspiração para estudar, alimentando seu apetite por conhecimento e lhe motivando a se lançar às novas experiências que foram aparecendo conforme sua jornada acadêmica avançava.
Uma vez formada no ensino médio, no início da década de 1990, seu esforço foi recompensado com a aprovação em um concurso público. Onilce atuou como docente do magistério, mas logo foi promovida a coordenadora pedagógica, permanecendo no cargo até 1996. No ano seguinte, ao concluir seu segundo grau técnico em Contabilidade, passou a prestar serviços em gestão técnica contábil, da qual se desligou em 2013 — após tornar-se profissional de destaque na área — para abrir seu próprio negócio.
Sua experiência como servidora pública na Prefeitura de Parauapebas lhe permitiu um conhecimento aprofundado das técnicas contábeis, sendo hoje, reconhecidamente, uma das maiores especialistas em todo o Pará.
A carreira e a lição de vida que Onilce nos mostra ao longo dos tempos servem de espelho para aqueles que têm a mania de deixar as coisas pelo caminho e abandonar tarefas assim que aparecem os obstáculos. Seu instinto de compromisso, primeiro com ela mesma, depois com as tarefas que lhe são entregues, apresenta-nos a certeza de que, com vontade e persistência, podemos chegar onde jamais sonhamos. Onilce é prova viva disso. Uma profissional que chegou menina a Parauapebas, como tantos outras, e que jamais deixou se abater pelas dificuldades, quer fossem financeiras, quer fossem por cansaço ou pela rotina da repetição que tantas carreiras afugentou.
Nossa terra, o Pará, é um local de oportunidades. Contudo, para se chegar aonde se quer, é preciso ter a determinação dos vencedores, a exemplo de Onilce.
Que 2019 seja de bênçãos a todos e que, ao longo do futuro, outras Onilces apareçam para transformar este nosso estado em um local onde a competência e o caráter se sobreponham às mazelas legadas por nossos políticos.