Dupla de pesquisadores americanos propõe uma reforma para tornar o calendário permanente. Segundo eles, a mudança traria benefícios práticos e econômicos, como cálculos mais precisos de juros e rolagem de dívidas
Se quase todas as festividades religiosas e cívicas de 2011 caíram justamente no fim de semana, os esticadores de feriados não têm o que reclamar da folhinha deste ano: segunda, terça, quinta e sexta serão as datas das folgas nacionais e dos pontos facultativos, conforme publicado no Diário Oficial da União.
Caso um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos consiga emplacar, universalmente, um projeto ousado, dificilmente os trabalhadores terão tantos dias livres por ano. Eles pretendem alterar o calendário, de forma que fique permanente — 7 de janeiro, por exemplo, será sempre um sábado; o Natal, sempre um domingo.
Richard Conn Henry, professor de astrofísica, e Steve H. Hanke, de economia, ambos da Universidade de Johns Hopkins, defendem a excentricidade por um motivo nobre: menos tempo e dinheiro perdidos. Desde 2004, quando Henry idealizou o projeto, depois abraçado por Hank, ele tem esperanças de que o mundo todo se convença não só de adotar a folhinha planejada, mas de unificar o horário em todos os cantos do planeta. Dessa forma, 20h seriam 20h em qualquer ponto da Terra, estando o céu claro ou escuro.
Para a dupla, há excessos de horários no mundo. Só no Brasil, existem três fusos — eram quatro até 2008. “As pessoas não precisariam trabalhar na madrugada, o que muda é só o nome da hora”, justifica Henry. No projeto de alteração do calendário, a ideia é que o primeiro dia inicie no que, atualmente, se costuma chamar de 19h, considerando o fuso da zona que cobre o leste dos Estados Unidos e do Canadá e fica cinco horas atrás do registrado no Meridiano de Greenwich. “O tempo é uma questão de semântica”, filosofa Henry. “Veja que prático: bancos, instituições financeiras e bolsas de valores, por exemplo, abririam e fechariam à mesma hora no mundo todo.”
“As pessoas podem achar estranho, mas a mudança permitiria planejamentos a longo prazo muito mais produtivos”, acredita o economista Steve H. Hanke. “Além dos benefícios práticos, haveria grandes vantagens econômicas”, garante. “Todos os anos, gastam-se tempo e energia com cálculos e o desenho do calendário do ano seguinte. Isso sem pensar no cálculo de juros de hipotecas, contratos e empréstimos. As pessoas nem sabem, mas um dia a mais ou a menos pode significar uma grande perda financeira e, com o calendário atual, cheio de anomalias, cada instituição financeira calcula taxas de juros como quer. Nosso calendário terá, permanentemente, 91 dias por trimestre, dois meses com 30 dias e um com 31. Isso acabará com qualquer risco de abusos na cobrança de juros”, explica.
Para chegar ao calendário permanente, Richard Conn Henry se valeu de cálculos matemáticos complexos e programas de computador, de forma a encaixar “perfeitamente”, como ele define, os 365,2422 dias que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol em 12 unidades de tempo. Pela ideia do astrofísico, só haverá meses com 30 ou 31 dias. Os meses mais longos seriam março, junho, setembro e dezembro.
Aniversário
E alguém que nasceu em 31 de janeiro? Não teria mais aniversário? “Mais uma vez repito que essa questão de tempo é relativa. A pessoa poderá fazer sua festa normalmente, embora precise mudar a data de nascimento no cartório. Mas basta que ela escolha: prefere “ter nascido” em 30 de janeiro? Ou em 1º de fevereiro? No fim das contas, dá no mesmo”, garante Henry. Da mesma forma, ele não vê problemas em alguém, muito azarado, saber que seu aniversário cairá sempre em uma segunda-feira. “Faça a festa no sábado! Muita gente já faz isso, de adiantar a comemoração ou adiar, de acordo com a conveniência”, afirma.
O astrofísico lembra que não é o primeiro a propor uma mudança. “Ao longo da história, tivemos diversos calendários. A última grande alteração foi o gregoriano (veja quadro). Então, estamos vivendo no século 21 baseados em um cálculos medievais”, diz. O sonho de Henry era que seu calendário fosse adotado em 2006, porque, naquele ano, 1º de janeiro caiu em um domingo. Agora, ele e Hanks esperam que a mudança aconteça em 2017, quando o mesmo ocorrerá. Para isso, contam com o entusiasmo de cidadãos comuns. “Imprima nosso calendário, mostre para os vizinhos e não se esqueça de pedir à sua presidente (Dilma Rousseff) que compre essa ideia”, sugere Henry.
Fusos brasileiros
Em 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei estabelecendo os três fusos brasileiros: Fernando de Noronha (PE), com duas horas a menos em relação ao Meridiano de Greenwich; regiões Sul, Sudeste e Nordeste mais o Distrito Federal e os estados de Goiás, Tocantins, Amapá e Pará, com três horas a menos; e Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Roraima e Acre, com quatro horas a menos.
Por Paloma Oliveto – Correio Braziliense