Brasília – A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, anunciou nesta quinta-feira (20) que renunciaria, poucos dias depois que seu novo ministro das Finanças reverteu praticamente todos os cortes de impostos planejados, varrendo uma agenda fiscal de livre mercado que prometia uma mudança radical de política para o Reino Unido, mas, em vez disso, derrubou o governo. O país vive há semanas turbulência econômica e política, há pouco mais de um mês da morte da Rainha Elizabeth II.
“Não posso cumprir o mandato pelo qual fui eleita”, afirmou ela em breves comentários do lado de fora de Downing Street — sede do governo da Grã-Bretanha. A primeira-ministra disse que informou ao rei Charles III que estava renunciando ao cargo de líder do Partido Conservador e que permaneceria líder e primeira-ministra até que um sucessor seja escolhido dentro de uma semana.
Sua saída, depois de apenas seis semanas no cargo, foi uma queda surpreendentemente rápida do poder, e joga seu Partido Conservador em ainda mais confusão, após a saída confusa de Boris Johnson de Downing Street durante o verão.
O anúncio veio minutos depois que Truss teve uma reunião não programada com Graham Brady, chefe de um grupo de legisladores conservadores conhecido como Comitê de 1922, que desempenha um papel influente na escolha do líder do partido.
A viabilidade política de Truss tornou-se tênue depois que suas propostas de amplos cortes de impostos não financiados abalaram os mercados e fizeram o valor da libra despencar. Ela sofreu um duro golpe na segunda-feira (17/10), quando seu recém-nomeado chanceler do Tesouro, Jeremy Hunt, disse que o governo estava desfazendo os últimos vestígios das propostas fiscais de Truss.
Esse anúncio constituiu uma das reviravoltas mais dramáticas da história política britânica moderna e um repúdio humilhante à liderança de Truss. Nas últimas semanas, o apoio ao seu Partido Conservador caiu nas pesquisas de opinião e a agitação entre seus legisladores se intensificou, minando sua capacidade de permanecer no cargo.
Jeremy Hunt, também disse que o governo encerrará sua enorme intervenção estatal para limitar os preços da energia em abril, substituindo-a por um programa ainda indefinido que, segundo ele, promoveria a eficiência energética, mas que poderia aumentar a incerteza para as famílias que enfrentam o aumento dos preços do gás e da eletricidade. A população da Grã-Bretanha amarga uma inflação recorde que ultrapassou a barreira de 10% ao mês, a maior de toda a história do Império.
Mais caos se seguiu na quarta, quando Truss foi vaiada por parlamentares da oposição enquanto respondia a perguntas no Parlamento, e horas depois foi forçada a demitir um de seus ministros mais importantes, a ministra do Interior, Suella Braverman, por uma violação de segurança.
A Sra. Braverman reconheceu ter cometido uma violação técnica das regras de segurança, envolvendo um documento do governo que ela enviou a um legislador no Parlamento através de seu e-mail pessoal. Mas em sua carta de renúncia a Truss, ela disse que tinha “preocupações com a direção deste governo”, acusando-o de quebrar promessas aos eleitores e, em particular, de não conter a imigração.
Ainda na quarta-feira, uma votação sobre a proibição do fatiamento da contas de água eclodiu em quase uma confusão, com acusações de que os ministros maltrataram parlamentares conservadores e os ameaçaram com retaliação se não votassem a favor de Truss.
Fonte: The New York Times
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.