Desde 2019, as 70 universidades federais de todo o País vêm sofrendo para se manter em funcionamento, devido aos sucessivos bloqueios de verbas, imposto pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Educação. Os reitores, como diz a expressão popular, fazem das tripas coração para que o ensino superior gratuito não sofra um colapso. A Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), por exemplo, só neste ano de 2022, já acumula um déficit de mais de R$ 6 milhões.
Em entrevista exclusiva ao Blog do Zé Dudu, o reitor, professor Francisco Ribeiro da Costa, disse que essa redução gradativa de recursos, nos últimos três anos e meio, afeta tanto o Orçamento de Custeio, que é o que faz funcionar a universidade, quanto o Orçamento de Capital, que é aquele que constrói a universidade. “Constrói prédios, compra equipamentos”.
“O que é mais sensível é o custeio. Custear segurança, custear limpeza, custear manutenção. Este ano essa redução foi mais grave, porque nós já estávamos trabalhando com um déficit de R$ 2,7 milhões. Aí soma-se a isso esse bloqueio do governo, de R$ 3,58 milhões e a gente vai para mais de R$ 6 milhões de déficit. Eu tenho recursos hoje para trabalhar só até o final de junho, com as 15 principais despesas que nós temos”, preocupa-se o reitor.
Risco de desemprego
Ele diz que, caso esse bloqueio não seja revertido, isso causará sérios prejuízos para a universidade: “Nós temos, ao todo, mais de 180 servidores terceirizados, entre seguranças, pessoal de limpeza, pessoal de manutenção e outros. E essas pessoas serão diretamente afetadas, são 180 pais e mães de família que podem perder o emprego”, lamenta.
Para tentar reverter esse quadro, que é muito preocupante, o reitor da Unifesspa já está se movimentado. Na semana passada, Francisco Ribeiro da Costa esteve em Brasília, na reunião da Andifes, a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior e decidiu partir para algumas ações.
A primeira foi informar à opinião pública, à comunidade interna e externa sobre o que está acontecendo com a Unifesspa. E é o que a Reitoria está fazendo. A segunda ação foi entrar em contato com a bancada federal do Pará, no Congresso Nacional, tanto deputados quando senadores, para informar o que está acontecendo, qual a real situação, o que também já foi feito pelo reitor.
“E, terceira acontece agora, na próxima semana. Nós vamos a Brasília, para uma grande coletiva de Imprensa, com todos os reitores das universidades federais. Todos os reitores foram convidados, a coletiva será na sede da Andifes e nós iremos mostrar para a Imprensa qual o real estado das universidades federais hoje”, detalha Francisco Ribeiro.
Esperança
Na hipótese de não conseguir reverter o quadro, ou seja, o desbloqueio das verbas, o reitor afirma que parar a universidade em julho chegaria a ser uma atitude radical e que certamente não aconteceria, mas aí ele teria de priorizar gastos: “Eu teria que reduzir drasticamente limpeza, eu teria que reduzir drasticamente segurança, eu teria que fechar alguns locais da universidade onde há circulação de pessoas. Então, eu teria de tomar essas ações para que, no mínimo, conseguisse chegar até agosto, setembro. O que nós esperamos é que, com a mobilização da opinião pública, com mobilização da bancada federal, a gente consiga reverter esse bloqueio. Assim eu espero!”
Boas notícias
Mas nem tudo na Unifesspa é lamentação. Recentemente, no Campus 3, foi inaugurado um bloco de 20 laboratórios, cujo recurso veio de emenda parlamentar do senador Jader Barbalho; e, no dia 20 deste mês, acontece a inauguração do NuPsi, que é o Núcleo de Serviços em Psicologia, para atendimento à comunidade externa, conforme adiantou o reitor.
“E vamos inaugurar, agora em julho, o nosso Atelier de Artes, que é um bloco para o curso de Artes, que vai ter laboratório e uma série de estruturas aos estudantes de graduação e pós-graduação. Então, isso vai aumentar 3 mil metros quadrados de área útil da universidade. Quer dizer, isso exigiria da universidade a contratação de mais 12 pessoas. E eu não tenho… [recursos]. A situação se agrava cada vez mais. É uma realidade. Então, eu conto com a Imprensa, conto com vocês para divulgar essa informação e que a gente consiga, através da mobilização de todos os setores da sociedade, reverter esse bloqueio”, conclama.
RU em todos os campi
Sobre rumores de que estaria em curso um remanejamento nos campi de Marabá, com a Unidade 1 tornando-se somente administrativa e os cursos que funcionam ali sendo transferidos para a Unidade 3, assim como os cursos da Unidade 2, o reitor sorri e diz que não sabe “de onde surgiu essa ideia”.
“Mas, assim, na Unidade 1, nós temos parte do Instituto de Ciências Humanas e tem o Ieds [Instituto de Estudos em Direito e Sociedade], que é do curso de Direito. O que nós estamos discutindo agora é a construção de um prédio e a construção do restaurante universitário (RU) lá, no Campus 1″, anuncia ele.
Segundo Francisco Ribeiro, como a Unidade 1 é um espaço que já está praticamente todo ocupado, o planejamento é demolir o bloco em que fica o auditório, construir na parte de baixo o restaurante e, na parte de cima, outros laboratórios e outras salas de aula. Quanto ao Campus 2, ele afirma não vai ser desativado. “Muito pelo contrário. Imagina, como é que eu vou levar 2 mil metros quadrados de salas de aula, de laboratórios, os nove cursos de Engenharia lá para a Unidade 3? Eu teria de tirar aí quase R$ 60 milhões, coisa que nós não temos”, explica.
Fortalecimento
O que aconteceu recentemente, ainda segundo o reitor, foi que o Instituto de Ciências Exatas (ICE) saiu da Unidade 2 e foi para a Unidade 3: “Tanto que metade desse bloco de laboratórios que foi inaugurado é exatamente para agregar o ICE, que ficou no prédio novo e no prédio em que fica a Reitoria”.
“Então, a Unidade 2 hoje vai ficar só com o Instituto de Geociências e Engenharia. Inclusive, na Unidade 2, nós estamos finalizando a construção do restaurante universitário. Eu espero que até o final deste ano esse RU já esteja inaugurado, funcionando e que nós consigamos iniciar a construção desse bloco na Unidade 1, que vai abrigar o restaurante universitário. É fortalecimento e não retirada!”, finaliza.
Eleutério Gomes – de Marabá