Há uma histórica involução nos indicadores de desenvolvimento social do Pará e, em paralelo, um claro desequilíbrio entre aquilo que o estado efetivamente produz e exporta e a realidade socioeconômica e financeira de diversos municípios. Ao perceber o disparate entre os valores estratosféricos exportados pelos municípios paraenses, em dólar, e a arrecadação, muitas vezes sofrível, da maioria deles, o Blog do Zé Dudu resolveu calcular a distância entre o potencial das localidades exportadoras e sua receita bruta de fato.
Os resultados são desanimadores para um estado que, embora riquíssimo, segue na traseira do progresso do país, com elevado grau de pobreza e de população alheia a serviços sociais básicos. Inclusive, muitos municípios exportadores sequer se dão conta do potencial que têm e do quanto um punhado de empresas se dão bem em suas costas, enquanto o grosso da população vive em situação de pobreza extrema.
O Blog do Zé Dudu cruzou dados da balança comercial de 2020, divulgados pelo Ministério da Economia, com números da arrecadação consolidada naquele ano, conforme informado pelas prefeituras ao Tesouro Nacional. Os valores das exportações, expressos em dólar, foram convertidos para real pela cotação média do dólar no ano passado, de R$ 5,16.
No ano passado, 66 municípios paraenses exportaram commodities, mas o Blog selecionou apenas aqueles cujos volumes ultrapassaram R$ 100 milhões. E foram 23. Entre eles, há um grupo de municípios extremamente prejudicados economicamente, considerando-se o volume de exportações e lucros que eles concedem ao país e o que obtêm de arrecadação.
Disparate financeiro
Canaã dos Carajás é o município que menos fatura comparado ao que exporta. Em 2020, a Terra Prometida enviou R$ 34,806 bilhões, mas sua receita bruta foi de apenas R$ 1,053 bilhão, ou seja, a arrecadação foi 33 vezes inferior à exportação. Mesmo financeiramente rico, Canaã vê infinitamente menos dinheiro em relação ao que merece.
Em Parauapebas, a situação é a mesma. A Capital do Minério exportou R$ 40,35 bilhões no ano passado e viu entrar nos cofres da prefeitura local R$ 2,07 bilhões, cerca de 19,5 vezes menos que o montante embarcado ao exterior. O mesmo disparate é verificado em Barcarena, que exportou R$ 9,375 bilhões e arrecadou R$ 498,72 milhões, diferença de 18,8 vezes.
O drama é o mesmo em Marabá, que exportou R$ 8,073 bilhões e teve como receita bruta R$ 1,121 bilhão — o equivalente a 7,2 vezes menos que as transações comerciais. Ourilândia do Norte exportou R$ 859,22 milhões, mas sua receita foi de apenas R$ 113,79 milhões, 7,5 vezes abaixo. Em São Geraldo do Araguaia e Água Azul do Norte a situação é a mesma: ambos arrecadaram cinco vezes menos que o montante exportado. [CONFIRA A RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS ABAIXO]
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Municípios “livres”
Entre os grandes exportadores do Pará, somente três localidades são suficientemente “desapegadas” dos volumes que embarcam rumo ao exterior: Belém, Ananindeua e Abaetetuba. No ano passado, Belém cravou exportações totais de R$ 1,01 bilhão e arrecadação de R$ 3,48 bilhões. Em tradução livre, a receita bruta da capital paraense foi três vezes maior que as transações originadas da metrópole.
Já Ananindeua processou R$ 387,57 milhões em commodities exportadas, mas sua prefeitura ajuntou R$ 936,57 milhões, praticamente 60% a mais que os embarques. Abaetetuba, por seu turno, exportou R$ 236,46 milhões e arrecadou R$ 292,25 milhões. Na prática, arrecadar mais que exportar não significa que todo o dinheiro das exportações tenha virado receita, mas pode indicar que há um maior aproveitamento em forma de impostos pagos pelas empresas exportadoras, bem como maior equilíbrio entre as forças produtivas privadas e o poder público.
Ao todo, os 23 municípios paraenses com exportações multibilionárias embarcaram R$ 103,625 bilhões em commodities no ano passado, contudo o faturamento das prefeituras, em conjunto, totalizou somente R$ 13,216 bilhões. A diferença média nesse conjunto de municípios é de 7,84 vezes mais exportações que receitas.