Ricardo Salles pede demissão em meio a investigação

Exoneração foi publicada no Diário Oficial da União
Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que vai provar a sua inocência

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Brasília – Às vésperas da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (Cop-26), principal cúpula da ONU para debate sobre questões climáticas, o presidente Jair Bolsonaro exonerou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A informação foi publicada no Diário Oficial da União e informa que a exoneração foi a pedido de Salles. No mesmo decreto, Joaquim Alvaro Pereira Leite foi nomeado como novo ministro do Meio Ambiente.

“Para que [a investigação] seja feita de forma mais serena possível, apresentei minha exoneração,” disse Salles ao justificar o pedido em entrevista no Palácio do Planalto.

O ex-ministro do Meio Ambiente é alvo de inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), por supostamente ter atrapalhado investigações sobre apreensão de madeira. Ele nega ter cometido irregularidades.

A demissão ocorre um dia depois de Bolsonaro elogiar Salles em evento no Palácio do Planalto que lançou o Plano Safra 2021-2022. “Parabéns, Ricardo Salles. Não é fácil ocupar seu ministério. Por vezes, a herança fica apenas uma penca de processos. A gente lamenta como por vezes somos tratados por alguns poucos desse outro Poder, que é muito importante para todos nós,” disse o presidente durante evento.

O anúncio da troca no Ministério do Meio Ambiente também ocorre no momento em que o governo é acusado de corrupção na compra de vacinas para a covid-19. O deputado Luis Miranda (DEM-DF), aliado do Palácio do Planalto, afirmou ter alertado o próprio Bolsonaro de que havia “corrupção pesada” no Ministério da Saúde, envolvendo a compra da Covaxin.

Na ocasião, segundo o parlamentar, o presidente afirmou que procuraria a Polícia Federal para investigar o caso. Apesar do aviso, o governo seguiu com o negócio em que prevê pagar pelo imunizante indiano um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante seis meses antes.

Queiroga nega

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta quarta-feira (23) que o governo federal não comprou doses da vacina Covaxin, fabricada pela Bharat Biotech. O Ministério Público Federal (MPF) afirmou que há indícios de irregularidades no contrato com a Precisa Medicamentos, representante da vacina no Brasil. A empresa assinou o contrato com a Saúde para fornecer 20 milhões de doses da Covaxin ao custo de US$ 15 a dose (R$ 80,70, na cotação da época), no total de R$ 1,6 bilhão.

Ao ser questionado por jornalistas, Queiroga justificou. “Todas as vacinas que têm registro definitivo da Anvisa o ministério considera para aquisições. Então esperamos esse tipo de posicionamento para tomar uma posição acerca não só dessa vacina, mas de qualquer outra vacina que obtenha registro emergencial ou definitivo, porque já temos hoje número de doses de vacinas contratadas acima de 630 milhões, e o governo federal tem feito a campanha acelerar,” disse após evento no Palácio do Planalto.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a importação – depois de negar inicialmente –, desde que atendidos os requisitos da agência reguladora.

A resposta não convenceu os repórteres. Questionado novamente sobre a possibilidade de aquisição da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde, Queiroga se irritou. “Falei em que idioma? Falei em português. Não foi comprada uma dose sequer da vacina Covaxin nem da Sputnik-V. Futuro é futuro,” disse.

Investigação

As negociações para a compra do imunizante indiano, fabricado pelo laboratório Bharat Biotech e distribuído no Brasil pela Precisa Medicamentos, estão na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado Federal e do Ministério Público Federal (MPF), que investigam possíveis crimes na aquisição.

Por Val-André Mutran – de Brasília