2024 é o ano de Canaã dos Carajás, e será inesquecível. O município que mais enriquece no Brasil foi o primeiro, também, a prestar contas do 3º bimestre aos órgãos de controle externo, reportando algo que dificilmente uma prefeitura brasileira vai assumir: aumentou a arrecadação em 25,16% em 12 meses no comparativo com o mesmo período encerrado em junho de 2023.

As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que apreciou as contas consolidadas encaminhadas pela administração de Josemira Gadelha ao Tesouro Nacional e ao Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA). Na prestação contábil, o governo da Terra Prometida declara receita bruta de R$ 2,112 bilhões e arrecadação líquida, já feitas as deduções legais, de R$ 1,95 bilhão entre julho de 2023 e junho de 2024. É um valor recorde.

O Blog examinou que entre julho de 2022 e junho de 2023 a Prefeitura de Canaã dos Carajás arrecadou R$ 1,687 bilhão bruto e R$ 1,558 bilhão líquido, portanto, bem abaixo do momento atual, de agigantamento das finanças públicas. Em royalties de mineração, principal ganha-pão da Terra Prometida, o município já bate Parauapebas. Aliás, se continuar crescendo nesse compasso, será questão de meses — no máximo, 24 — Canaã ultrapassar o município-mãe em receita e importância econômica.

Em 2019, quando Canaã ultrapassou Parauapebas pela primeira vez na balança comercial e em royalties, e o Blog do Zé Dudu deu a notícia em primeira mão (relembre aqui e aqui), os indícios eram claros de que o crescimento da Terra Prometida ameaçaria a liderança da Capital do Minério para muito além das estatísticas.

O Blog chegou a ser criticado por charlatões do conhecimento ao cravar que a arrecadação de royalties de mineração de Canaã ultrapassaria o faturamento de Parauapebas até o final desta década de forma permanente, mas nada melhor que um dia após o outro, e atualmente a previsão já se tornou real. Agora, é contar os dias para, no médio prazo, a arrecadação total da Terra Prometida desbancar a da Capital do Minério, mesmo com a queda prevista para a cota-parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de ambos, queda essa a ser muito mais sentida por Parauapebas.

Melhor 1º semestre

Sabe aquele clichê popular “Dias de luta, dias de glória”? Pois é, a Prefeitura de Canaã dos Carajás dificilmente terá um conceito para “dias de luta” porque só tem vivido dias de glória, ano após ano. E que o diga a prefeita Josemira Gadelha — que pode reclamar de tudo, se é que ela tem algo a reclamar, menos de dinheiro.

No primeiro semestre deste ano, a prefeitura assistiu, sem grandes esforços, aos cofres locais serem abarrotados com R$ 919,85 milhões líquidos, livres, leves e soltos para gastar. Foram R$ 151,99 milhões a mais (ou crescimento de 19,79%) em relação ao primeiro semestre de 2023, quando o faturamento fechou em R$ 767,86 milhões.

Em todos os meses de 2024 a receita levou vantagem em relação a 2023. Mesmo nos períodos mais fracos, como janeiro (com alta de 0,62%) e maio (alta de 3,79%), o placar deste ano foi favorável. Em junho, a diferença de receita chegou a 47,31%, o que, em parte, pode ser explicado pela irregularidade no pagamento dos royalties de mineração ano passado.

Se tudo correr bem, é provável que a administração de Canaã tenha um réveillon com os primeiros R$ 2 bilhões de receita líquida alcançados em 2024, tudo isso com apenas 30 anos de emancipação. Canaã é o município mais jovem da história do país a alcançar receita gigantesca, invejável, que supera capitais e não para de crescer.

O maior dos desafios é fazer essa arrecadação chegar, em forma de serviços públicos eficientes, aos que dela dependem. Mas aí é enredo para outra análise, uma vez que Canaã até está na dianteira do desenvolvimento socioeconômico do Pará, mas muito atrás dos municípios verdadeiramente desenvolvidos, do ponto de vista humano e social, do Brasil. É que nem sempre a solução técnica das desigualdades de lugares subdesenvolvidos está em ter muito dinheiro.