Rolls-Royce Silver Wraith da presidência da república pode ficar fora da posse de Lula

O veículo teria sido danificado em sua última aparição pública
Rolls-Royce Silver Wraith ano 1952 da Presidência da República do Brasil utilizado em datas comemorativas, tais como a posse do presidente - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

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Brasília – O Rolls-Royce Silver Wraith conversível, ano 1952, da presidência da república é um dos carros mais bonitos e conhecidos do país. O modelo, que já foi considerado o melhor carro da companhia inglesa, possui uma rica história e ainda hoje serve como carro oficial para ocasiões especiais, mas a relíquia sobre rodas pode não ser utilizada na cerimônia de posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, marcada para o dia 1° de janeiro de 2023. “O veículo foi danificado no governo Bolsonaro”, a afirmação veio por meio de Janja, esposa do presidente eleito e coordenadora da festa da posse, que não detalhou os defeitos, apenas que haveria algo de errado no banco e que o carro seria avaliado.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada, com Nelson Piquet ao volante do Rolls Royce presidencial – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“O presidente Lula estará no carro aberto, como é o protocolo, se o Rolls-Royce estiver em condições, porque parece que ele foi danificado na última posse”, disse em coletiva de imprensa, na última quarta-feira (7). Mas, a informação está errada, uma vez que o veículo foi utilizado no desfile cívico-militar de 7 de setembro deste ano, dirigido pelo piloto tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet e aparentemente estava em perfeitas condições de conservação.

O Rolls Royce modelo Silver Wraith (Espectro de Prata) conversível serve à Presidência da República há quase 70 anos.

O modelo teria sido utilizado pela primeira vez em uma cerimônia pública nas comemorações do Dia do Trabalho, em primeiro de maio de 1953, no município de Volta Redonda, no Rio de Janeiro.

Segundo dados do governo, a raridade não foi doada pela rainha Elizabeth II, da Inglaterra, como muitos acreditam. O veículo foi encomendado por Getúlio Vargas e teria sido pago por um grupo de amigos do presidente.

Chefes de estado estrangeiros

Em raras ocasiões, o raro veículo de fabricação inglesa foi utilizado em visitas oficiais feitas por chefes de estado estrangeiros.

O primeiro a utilizar o automóvel foi o presidente do Peru, general Manoel Odria, em 25 de agosto de 1953.

Depois dele, andaram no carro também, em visita ao Brasil, figuras como: o rei Balduíno da Bélgica, o presidente francês Charles de Gaulle, e a rainha da Inglaterra, Elizabeth II.

A história por trás do carro da presidência

No Brasil, um modelo histórico resiste ao tempo e continua a nos encher os olhos quando em desfiles e cerimonias oficiais.

Trata-se do Rolls-Royce Silver Wraith, que desde o início da década de 1950, vem sendo utilizado pelos presidentes da república.

A história do Silver Wraith da presidência é marcada por disputas, controversas e diferentes versões que ocupam o imaginário coletivo.

Durante algum tempo circulou a informação que os veículos haviam sido dados de presente pela Rainha Elizabeth II da Inglaterra.

Há ainda versões que o colocam como um presente de Assis Chateaubriand — o magnata da mídia — ao então presidente Getúlio Vargas.

Nenhuma dessas insinuações está correta, o que não impede que o Silver Wraith tenha uma história incrível.

Quando Getúlio toma posse para o seu segundo mandato, em 1951, a presidência contava com dois Cadillacs como carros oficiais.

O primeiro era um modelo fechado de 1941, e o segundo, um modelo aberto de 1947.

No mesmo ano da posse, o Major Ene Garcez dos Reis, que era chefe pessoal da presidência e responsável pelo serviço de transporte, recebe ordens para trocar os automóveis.

O major, então, parte a procura dos novos modelos que irão servir a presidência, realizando coleta de preços nos Estados Unidos e Inglaterra.

É escolhido então, dois modelos da Rolls-Royce pelas condições apresentadas.

Embora atualmente só nos lembremos do modelo conversível, a presidência da época encomendou, também, um modelo fechado.

Rolls-Royce Silver Wraith foi comprado por ordem do ex-presidente Getúlio Vargas

Vale lembrar que em 1950, a companhia inglesa trabalhava com a política de um modelo único de chassis.

Dessa forma, a carroceria era personalizada e adquirida à parte pelos compradores, o que aumentava a capacidade de customização.

Há indícios, inclusive, que essa capacidade, com a possibilidade de um modelo aberto, pesou na decisão final.

Reprodução: Mulliner and Co

A carroceria foi produzida pela H.J. Mulliner, empresa inglesa tradicional que, posteriormente, foi adquirida pela Rolls-Royce.

Além da carroceria fechada e aberta, foi solicitado uma série de detalhes especiais como plataforma no para-choque traseiro e estribos laterais, para a segurança, por exemplo.

Os automóveis começaram a ser fabricados em abril de 1952, com um custo de £ 6.205,00 libras para o modelo Fechado e £ 7.949,00 libras para o modelo aberto em valores da época.

Com o preço pago pelo modelo aberto seria possível comprar 7 automóveis do tipo Jaguar  XK 120.

Jaguar XK 120, modelo 1954, considerado um dos mais belos carros e também fabricado na Inglaterra

Mas, não foram os valores os grandes responsáveis pela polêmica em torno da aquisição dos veículos.

Na década de 1940 a balança comercial brasileira sofria com seguidos déficits e houve um boom na compra de artigos de luxo.

Visando mudar essa situação, o governo havia adotado uma série de medidas comerciais restringindo, inclusive, a importação desses artigos.

A ideia era estimular que, ao invés de gastar com esse tipo de item, os valores fossem investidos no próprio país.

Embora as leis fossem de um período anterior a Getúlio, e, na prática, muitos a burlassem, a aquisição não escapou de questionamentos.

Especialmente, quando em 28 de julho de 1953, o Senador Alencastro Guimarães, denunciou a licença para importação não de 2, mas de 4 automóveis.

Segundo o senador, os dois carros extras seriam vendidos de forma ilícita por uma firma particular.

Quando analisamos o pedido oficial feito à fábrica, realmente causa estranheza, uma vez que esse requer os dois modelos já citados acima, com todas as especificações e mais dois veículos convencionais. O argumento era de que ao chegar ao Brasil seria feita uma escolha entre os quatro modelos.

Porém, se havia essa possibilidade, porque ser tão específico quanto às alterações que deveriam ser realizadas?

Com as pressões políticas, o governo decidiu abrir mão desses carros sobressalentes, os vendendo à importadora.

Durante o governo Fernando Henrique, o Rolls-Royce presidencial sofreu uma restauração geral. O modelo agrega um motor 4.6 litros de seis cilindros. Um modelo pareceido, foi arrematado recentemente por um colecionador na Casa de Leilões norte-americana Bonhams por £ 35.760 mil libras esterlinas ou R$ 229.636,42, na cotação desta sexta-feira (9).

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.