Rússia anuncia primeira vacina contra covid-19

Comunidade científica internacional desconfia de eficácia e segurança do imunizante anunciado como supremacia tecnológica por Vladimir Putin

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Brasília – Anunciado como um feito que demonstra a “supremacia” tecnológica da comunidade científica de seu país, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira (11) que o país registrou a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Científica de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, de Moscou, após menos de dois meses de testes em humanos.
O ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, disse que o teste imunológico mostrou eficácia e segurança, em meio à desconfiança de especialistas ocidentais.

“Esta manhã, pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada”, disse o presidente Vladimir Putin durante uma videoconferência com integrantes do governo exibida pela televisão estatal. “Sei que é bastante eficaz, que proporciona imunidade duradoura”, acrescentando que uma de suas filhas foi vacinada com o imunizante.

O registro da vacina russa havia sido sinalizado no início deste mês. O ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, disse a repórteres no início de agosto que os testes clínicos da vacina contra o coronavírus haviam terminado.

O anúncio surge depois de um aviso da Organização Mundial de Saúde (OMS), feito na semana passada, pedindo respeito às diretrizes estabelecidas para que uma vacina fosse criada com segurança. O temor da OMS, de cientistas e autoridades internacionais é de que, na corrida política pelo pioneirismo da criação do imunizante, etapas que garantam eficácia e segurança sejam negligenciadas.

No fim de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que havia 26 vacinas candidatas em fase de avaliação clínica, incluindo a registrada na Rússia. O país negou que faça parte de uma “corrida” para desenvolver uma vacina, dizendo que deseja cooperar com outras nações. No entanto, há ceticismo internacional de que a Rússia tenha desenvolvido uma vacina eficaz e segura em tão pouco tempo.

Fórmula

A fórmula desenvolvida pelo instituto Gamaleia usa duas cepas de adenovírus, usualmente responsáveis por gripes, e recebem o RNA do novo coronavírus para gerar uma resposta imune. A técnica é parecida, por exemplo, com o modelo da vacina candidata da Universidade de Oxford (Reino Unido) feita em parceria com a farmacêutica AstraZeneca que está em fase de testes em massa em humanos em vários países, inclusive no Brasil.

Nas semanas prévias ao anúncio, cientistas estrangeiros expressaram preocupação com a rapidez da criação de uma vacina deste tipo, enquanto a OMS pediu que a Rússia seguisse “todos os estágios” necessários para desenvolver uma vacina segura.

O temor das autoridades internacionais é de que a Rússia, com objetivos políticos de ser a pioneira na criação de uma vacina, não siga todas as fases de segurança que envolvem a criação do imunizante. Com o anúncio, feito apesar do aviso da OMS, Putin praticamente reivindica a vitória na corrida global por uma vacina contra a Covid-19.

A OMS nunca listou as vacinas candidatas da Rússia como lideranças da disputa por um imunizante entre as mais de 160 desenvolvidas ao redor do mundo. O porta-voz da entidade Tariq Jasarevic afirmou a jornalistas nesta terça-feira que o braço das Nações Unidas para a Saúde está discutindo os procedimentos com autoridades russas, mas ressaltou que, antes de receber qualquer selo de aprovação, a vacina exige uma revisão “rigorosa” dos dados sobre segurança e eficácia obtidos por meio de ensaios clínicos.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.

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