“Só a educação liberta”

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Por Herbert Viana ( * )

EpictetoComo dito por Epicteto, “Só a educação liberta”. O filosofo grego, que foi escravo em Roma, resumiu em uma frase a máxima que vem sendo comprovada ao longo do tempo: a educação não só liberta o individuo, como também as nações.

Incontáveis são os casos conhecidos de pessoas oriundas de famílias paupérrimas, que através da vitória nos estudos conseguiram galgar um espaço na sociedade, acumulando avanços financeiros e intelectuais em suas vidas. Um exemplo de tais vitórias é a trajetória do maior escritor brasileiro, Machado de Assis, filho de um operário e criado no morro do Livramento no século XIX, que consegue através do empenho da sua madrasta, Maria Inês, acesso a uma escola pública no bairro de São Cristóvão no Rio de Janeiro, onde pode desenvolver suas habilidades literárias, tornando-se cronista, dramaturgo, poeta, crítico e ensaísta.

Nota-se um traço comum nas histórias de vida dos vitoriosos ou, libertos, pela educação: o esforço individual contra um sistema educacional mais favorável a exclusão do que à inclusão. Nosso maior escritor teve como maior incentivadora da sua formação, uma mulher humilde que lutou por um espaço em um colégio público, e é assim quase sempre na vida da maioria, uma luta!

Diferentemente do que acontece nos países desenvolvidos, a educação parece ser de foro privado e não um interesse de Estado, o sucesso individual, como no exemplo de Machado de Assis, é alicerçado na convergência de diversas variáveis que lembram mais a “sorte”, do que o fruto de um plano bem pensado de educação articulada a nível federal, estadual e municipal.

Padece o individuo, padece a sua nação! Os países com déficit educacional são notadamente subdesenvolvidos e com isso enfrentam diversas dificuldades em diversos campos, tudo se torna um desafio em um país “mal educado”, por exemplo, a competividade, capacidade tão valorada em mundo globalizado, no Brasil é baixa. A revista exame (2015) publicou um ranking do índice de competividade do talento global, que mede a qualidade do capital humano, e entre 93 países, o Brasil ficou no 49º lugar, ficando atrás de países como Chile, Coreia do Sul e China, segundo a reportagem da revista, parte deste resultado se deve às caraterísticas da mão de obra brasileira, carente em educação, sendo menos produtiva e pouco inovadora.

Vamos destacar o quesito “Inovação” desta pesquisa, nele o Brasil apresenta dificuldades, conforme dados do INSEAD e ADECCO (2015), nosso país gera poucas patentes de produtos, diferentemente por exemplo, da Coreia do Sul, país bem menor do que o nosso, mas com um forte investimento e, resultado, na educação. Lembram do que escrevi no último artigo? No Brasil há um exército de “concurseiros” ao invés de empreendedores, imaginem a quantidade de patentes geradas por estas mentes, se as mesmas se voltassem para a inovação?

Então, podemos dizer que além de termos um sério problema educacional, os poucos que conseguimos educar satisfatoriamente se dedicam com mais ênfase às jornadas dos concursos públicos, em detrimento à dedicação ao empreendimento inovador que consiste em uma das principais alavancas de desenvolvimento de um país moderno. Eles estão errados? Acredito

que a resposta é que estão “motivados incorretamente”, o errado é aquele que os motiva, no caso, nosso modelo educacional e de prioridade de desenvolvimento.

Quando observamos o panorama educacional com maior amplitude, vemos que a situação merece atenção, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o Brasil ocupa a 60ª posição no ranking mundial de educação, onde foram avaliados 76 países, no relatório de 2015 a OCDE destaca o alto índice de abandono da sala de aula, que segundo a organização, é bastante impactado pela necessidade da criança trabalhar ou pela sua dificuldade de acompanhamento das aulas.

O fato é que ocupamos um lugar muito aquém das nossas possibilidades, podemos fazer mais e melhor, dada nossas condições financeiras (riquezas/PIB) e talentos humanos (mais de 200 milhões de habitantes), tanto que países com menores condições de PIB e de talentos estão a nossa frente, a exemplo do Chile (48ª posição) e Uruguai (55ª).

E quando a educação vai mal, a competividade do país acompanha. A Fundação Dom Cabral (FDC) em parceria com o Fórum Econômico Mundial divulgou em 2015 a 10ª edição do ranking de competividade envolvendo 140 países, e o Brasil figurou na 75ª colocação, para termos referencia os cinco países mais bem colocados foram respectivamente, Suíça, Cingapura, EUA, Alemanha e Holanda.

Na América Latina o país mais competitivo neste ranking foi o Chile, ocupando a 35ª posição, não é coincidência que os chilenos também possuem uma dos melhores sistema educacional do continente.

Investigando onde repousa nossas fragilidades podemos observar os 12 pilares que formam a pesquisa da FDC/Fórum Econômico Mundial, no pilar “Educação superior e treinamento” ocupamos a 93ª posição, e em outros pilares se repete algumas das condições presentes no ranking da revista Exame, como por exemplo, a Inovação que no Ranking da FDC estamos em 84º lugar.

Mas, voltando nossos olhares para o pilar educação, a pesquisa da FDC indica que ~2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos estão atualmente fora da escola do país, quantos “Machados de Assis” podemos está perdendo dentro desta população imensa, daí a necessidade do Estado brasileiro descobrir formas de se tornar uma “D. Maria Inês” para estes jovens e resgatá-los, tornando-os ao invés de analfabetos improdutivos, verdadeiros cidadãos plenos, capazes de empreender e modernizar nosso país a cada ideia gerada em suas cabeças.

A problemática envolvendo a educação brasileira é complexa, não é fácil resolvê-la, muitos administradores e educadores em diferentes gerações vem tentando, e os avanços são lentos, daí a importância de se colocar o tema nas prioridades do país, se queremos crescer como nação, devemos cultivar o debate sobre educação com bem mais intensidade do que fazemos hoje, tanto a nível de politicas publicas, exercendo nosso papel de cidadão, como a nível familiar, assumindo o papel de bons pais educadores, buscando melhorar a educação e orientação dos nossos filhos, complementando e se articulando com os ensinamentos adquiridos e vivenciados nas escolas.

11143456_495581997260774_9029301034804964478_n. [downloaded with 1stBrowser]( * ) – É Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), com mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também possui especialização em Tecnologia Mineral pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Gestão Empresarial pela PUC de Campinas – SP (PUCCAMP).

4 comentários em ““Só a educação liberta”

  1. Senna Responder

    A educação, segundo a Lei, direito de todos e dever da família e do Estado torna-se na verdade um instrumento de poder, quando deveria ser, efetivamente, uma instrumento de governo para firmar um modelo de Nação e, por conseguinte, de sociedade. Como instrumento de governo a educação exige políticas bem planejadas e executadas por um governo forte. Os países citados no artigo são exemplos disso, as políticas educacionais são a base do crescimento e desenvolvimento do País. As diretrizes educacionais consideram as metas maiores das políticas de governo, essa sintonia é imprescindível.
    No Brasil há projetos, mas, infelizmente, há descontinuidade de execução das políticas públicas da área; não podemos deixar de admitir os avanços sociais que o país experimentou de meados da segunda metade do século passado pra cá, certamente motivado por políticas públicas positivas na área educacional. Ocorre atualmente que um governo fragilizado que corta verbas da educação não pode sustentar políticas fortes. O Plano Nacional de Educação que encerra os princípios e metas educacionais, que se consolida em nível de Estado e de Município, e deveriam fortalecer a continuidade das propostas durante dez anos, se esvaem no esvaziamento das suas principais diretrizes por vários fatores, às vezes até mesmo pela impossibilidade de cumpri-las ou alcança-las, dadas as desigualdades verificadas em cada unidade federativa.
    Seu artigo Herbert é um alento, os Governos em todos os níveis precisam levar a sério a educação; o que você escreve é constatável, escolas do semiárido cearense possuem as melhores notas do IDEB, estudantes paraenses, como é caso de Mojú, ganham prêmios pela a inventividade/criatividade em concursos nacionais. Como explicar isso? A Região mais carente do Nordeste é modelo de ensino, estudante de um Estado (no caso o nosso Pará) com o pior resultado nos índices que medem o desempenho dos alunos a nível nacional, recebem medalhas de mérito pela produção de conhecimentos?
    Suas afirmações deixam claro que deixar as crianças por conta somente das escolas não é e nunca foi suficiente, por outro lado a família deixa a desejar pelas condições socioeconômicas; porém, definitivamente, a educação basilar passa essencialmente pela família. Como você afirma o debate é longo e complexo. Mas valeu Companheiro seu artigo é verdadeiramente instigante ao debate.

  2. Pedro Responder

    O debate pela educação deve de fato deixar de se pautar pelos exemplos de vitórias individuais de pessoas que se esforçam de maneira sobre humana e passar a ser o cotidiano de todos aqueles que acreditam em uma nação melhor, assim sim poderemos nos considerar a “pátria educadora”. Mais um artigo de alto nível. Parabéns Herbert.

    Abraço,

    Pedro

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