Brasília – Atendendo pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marcos Troyjo, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), instituição financeira criada pelos países dos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, anunciou que deixará a presidência da instituição em 24 de março e abre caminho para o plano de Lula emplacar a ex-presidente Dilma Rousseff no comando do banco.
“O NDB iniciou um processo de transição de liderança, que ocorre de forma mutuamente acordada e de acordo com a governança e os procedimentos do banco”, informou o órgão em comunicado oficial.
De acordo com o estatuto do banco dos Brics, o conselho de governadores elegerá um novo presidente indicado pelo Brasil para preencher o mandato rotativo em exercício, que vence em 6 de julho de 2025. “Depois da eleição, o novo presidente assume o posto”, diz as regras.
O presidente demissionário, Marcos Troyjo foi indicado à presidência do banco dos Brics em 2020 pelo ex-ministro Paulo Guedes (Economia). Sua proximidade com o governo Jair Bolsonaro (PL) e a disposição de Lula de emplacar Dilma no cargo tornaram a permanência dele no posto insustentável.
Em nota distribuída à imprensa, o banco elogiou a passagem de Troyjo pela presidência como “instrumental para o sucesso do NDB” e destacou sua participação em realizações importantes da instituição.
“Ele conduziu a expansão inicial de membros do banco, fortaleceu o departamento ESG (ambiental, social e de governança) e estabeleceu o Escritório de Avaliação Independente. Ele também liderou a mudança das operações do NDB para sua sede permanente em Xangai (China)”, diz o texto.
Desde que Lula tornou público a sua intenção de indicar a ex-presidente, afastada da presidência da República num processo de impeachment em que Lula, seu partido e alguns aliados insistem em rotular como “golpe”, sem apresentar qualquer amparo legal para sustentar a acusação, discretamente, Dilma Rousseff tem participado de reuniões virtuais com ministros de Finanças dos países dos Brics, e a expectativa é que os ritos formais sejam concluídos até o fim de março. Ela deve acompanhar a grande comitiva de Lula em uma viagem oficial à China programada para o fim deste mês.
O Núcleo Duro do governo pretende fazer da política externa do governo um contraponto às péssimas notícias domésticas que o governo vem colecionando desde que assumiu. Aumento do desemprego e recorde do desmatamento, queda do PIB e aumento de impostos.
Os ministros ligados à presidência planejam “um grande evento de propaganda com a viagem à China”, disse um burocrata do Palácio do Planalto à par da elaboração da agenda.
Contagem regressiva
As sabatinas com as autoridades estrangeiras fazem parte do processo de nomeação da ex-presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, ela havia conversado com os ministros das Finanças da China, Liu Kun, e da Rússia, Anton Siluanov, expondo sua visão sobre o papel do banco e os desafios do órgão nos próximos anos.
Ao assumir o comando do NDB, Dilma deverá receber um salário superior a US$ 50 mil mensais (equivalente a R$ 257 mil), de acordo com pessoas com conhecimento das negociações.
Lula já afirmou publicamente a intenção de levar Dilma à presidência do banco no dia 16 de fevereiro. “Olha, se depender de mim, ela vai [ser a presidente do banco]”, afirmou o petista. O presidente disse que a nomeação de Dilma seria “maravilhosa” para os Brics e para o Brasil.
“A Dilma é uma mulher extraordinária, uma pessoa digna de muito respeito, e o PT adora ela. Ela, junto à militância do PT, ela é muito querida. E ela tem uma coisa que ela é muito competente tecnicamente. Então, se ela for presidente do banco dos Brics, será uma coisa maravilhosa para os Brics, será uma coisa maravilhosa para o Brasil”, disse.
Dilma, que quer na instituição representantes do Brasil alinhados com sua visão sobre a economia, discutiu com Lula o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, para o conselho de governadores.
A ideia seria convidá-lo para representar o Brasil no conselho como uma espécie de suplente do ministro Fernando Haddad (PT) — que, como titular da Fazenda, integra o colegiado.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.