O Relatório de Produção do 4º Trimestre (RT4T) anunciado ao mercado ontem (3) pela mineradora multinacional Vale pode parecer apenas um calhamaço qualquer de 18 páginas para inglês ver, mas traz informações valiosas para o futuro da região mineradora de Carajás, no Pará, a mais poderosa do Brasil. O Blog do Zé Dudu esmiuçou o balanço consolidado de produção física em 2020 e constatou: vem muita coisa por aí, para deixar em polvorosa os municípios de Canaã dos Carajás, Parauapebas e Curionópolis, até 2024.
A Vale informou ter produzido no ano passado 192,27 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro, sendo 109,42 Mt em Parauapebas e 82,85 Mt em Canaã dos Carajás. É o segundo maior volume de minério extraído em toda a história do Pará, atrás apenas da produção de 2018, quando fora lavrados 193,64 milhões de toneladas. Em 2019, a produção foi de 188,72 milhões de toneladas.
Esses números grandiosos erguem o Pará ao centro das atenções da mineradora porque, hoje, a soma de sua produção no estado de Minas Gerais, berço da Vale, resumiu-se à praticamente metade do volume paraense. Em 2020, a multinacional consolidou em Minas 105,65 milhões de toneladas. Na prática, o combo de produção dos dois sistemas de Minas Gerais (Sudeste e Sul), com todas as minas de lá, atualmente é menor até que o volume anual de Parauapebas.
Planos para o futuro
Mas a Vale quer mais, e 2021 deve ser melhor que antes. No final de 2020, a Vale enfrentou volumes muito elevados de chuva que causaram impacto na produção, diminuindo o ritmo. O Blog observou que, nas contas da mineradora, choveu 22% a mais nas minas de Carajás nos últimos três meses de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019.
Só que, em dezembro, a mineradora reiniciou a operação da mina SL1, na Serra Leste de Carajás, município de Curionópolis, após receber a licença de instalação. A previsão é de que a mina produza entre 4 e 5 Mt este ano e entre no radar de expansão da empresa para ter sua capacidade de produção ampliada a 10 Mt por ano a partir do primeiro semestre de 2023. A Vale pretende adaptar e repotencializar a planta existente a fim de elevar a capacidade nominal de Serra Leste, atualmente em 6 Mt.
Além disso, a multinacional prevê dispersar uma série de investimentos, como abertura de novas minas em Parauapebas e ampliação da potência de S11D em Canaã dos Carajás, o que deve movimentar o mercado de trabalho e gerar milhares de postos com carteira assinada, tanto temporários na implantação quanto fixos na operação. Só com a ampliação da capacidade do projeto instalado em Canaã a multinacional deve desembolsar R$ 7,5 bilhões até 2024 para adicionar 20 milhões de toneladas por ano (Mtpa) ao atual combo de produção, que já está ficando pequeno para a demanda do mercado transoceânico.
O projeto Serra Sul 120 Mtpa, em Canaã dos Carajás, contempla a abertura de novas áreas de lavra, duplicação do transportador de correia de longa distância (TCLD), implantação de novas linhas de beneficiamento na usina, ampliação das áreas de estocagem, entre outras medidas. Antes, porém, de alcançar 120 Mt em S11D, a Vale terá investido até final de 2022 algo em torno de R$ 3,9 bilhões na esteira de outro projeto mais amplo, o Sistema Norte 240 Mtpa. Dentro dele, a meta é subir a capacidade nominal de S11D a 100 Mt. A década áurea do ferro de Carajás aparentemente começa daqui para frente.
INVESTIMENTOS E AÇÕES PREVISTOS PELA VALE EM CARAJÁS (2021-2024)
- Entre outubro e dezembro de 2021 — Repotencializar britadores de Serra Leste, em Curionópolis, adicionando mais 2 Mt à produção.
- Até final de 2022 — Instalar novos britadores para processar corpos minerais de jaspilito na Serra Sul, em Canaã dos Carajás, adicionando mais 2 Mt à produção.
- Primeiro semestre de 2022 — Startar projeto Gelado, com capacidade de 10 Mtpa, em Parauapebas.
- Segundo semestre de 2022 — Startar projeto Sistema Norte 240 Mtpa, aumentando a capacidade do Sistema em 10 Mtpa.
- Primeiro semestre de 2023 — Expandir capacidade nominal de Serra Leste para 10 Mtpa
- Até final de 2023 — Solicitar novas licenças e abertura de novas frentes de lavra em Parauapebas (N1, N2 e N3) e Canaã dos Carajás (ampliação do bloco D e perspectiva para bloco C do corpo S11).
- Durante 2023 — Mudança da Usina 1 para 100% de processamento a seco, impactando temporariamente a produção.
- Primeiro semestre de 2024 — Startar projeto Serra Sul 120 Mt, em Canaã dos Carajás.