Cerca de 100 produtores rurais de municípios das regiões sul e sudeste do Estado se reuniram, na tarde de ontem, quarta-feira (28), em Marabá, com a cúpula da Polícia Civil no Estado e com o Comando de Policiamento Regional II (CPR II) da Polícia Militar. Mais uma vez pediram socorro contra as invasões de terras por supostos integrantes de movimentos sociais e a respeito de outro crime que vem acontecendo continuamente: o roubo de gado.
O encontro aconteceu no Centro de Convenções, com a presença do secretário Regional de Governo, Jorge Bittencourt; do secretário de Estado de Segurança Pública, Luiz Fernandes Rocha; do delegado-geral de Polícia Civil, Rilmar Firmino de Souza; do comandante do CPR II, coronel Mauro Sérgio Marques da Silva; do presidente da Amat-Carajás, Pedro Patrício de Medeiros; do presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, Ítalo Ipojucan Costa; e do vice-prefeito de Marabá, Antônio Carlos Cunha Sá.
O pecuarista Geraldo Capota, de Curionópolis, primeiro a se pronunciar, reiterou o apelo que, segundo ele, vem fazendo desde o primeiro governo Almir Gabriel (1995-1998), clamando por mais segurança para quem produz e que alavanca a economia do País.
“Chorei para o governador Almir Gabriel e continuo chorando esses anos todos”, disse Capota, contando, inclusive, que, para que uma de suas propriedades fosse desocupada, conforme ordem de reintegração de posse, já na época do governo Ana Júlia, foi necessário que ele processasse a então governadora e ela fosse condenada pela Justiça. “Pelo amor de Deus, cumpram a lei”, clamou Capota,
O advogado Pedro Salles, da Agropecuária Santa Bárbara, dona da Fazenda Cedro, se mostrou muito indignado com o fato de a propriedade ter passado nove anos ocupada por integrantes do MST e, após ter sido reintegrada, em novembro passado, semanas atrás ter sido alvo de nova invasão.
A Cedro estava passando por completa reforma, uma vez que foi totalmente destruída durante dos anos em que permaneceu sob o domínio dos sem-terra e, agora, está novamente nas mãos deles. “Até quando um Estado produtor, como o Pará, vai aceitar isso?”, indagou, acrescentando que vários crimes vêm sendo praticados continuamente contra aqueles que vêm inovando, produzindo, gerando empregos e que estão trabalhando legalmente, “com tudo certo”.
A secretária de Assistência Social de Redenção, Jucema Furtado, relatou que, por ocasião do episódio de Pau D’Arco, em julho do ano passado, passou mais de 12 horas com um facão encostado ao pescoço e sendo ameaçada de morte o tempo todo. Ela contou que foi obrigada a pagar, “do próprio bolso, pelo embalsamamento dos corpos” dos supostos sem-terra. “E, ao fim de tudo, uma pessoa do governo me liga de Belém, pedindo que eu providenciasse psicólogo às famílias. Ora, quem precisava de psicólogo era eu”, lembrou, indignada.
Vitório Guimarães, diretor do Sindicato Rural de Redenção, disse que criação do Centro Regional, aproximando o governo da região, faz acreditar que “dias melhores virão”, em razão da presença das autoridades, principalmente da segurança, para que todos possam continuar trabalhando e produzindo.
“As medidas anunciadas, como a reformulação da Deca, reforçando a existência dela, e trazendo para Marabá o CME [Comando de Missões Especiais] são muito importantes. Agora, é preciso que o Estado tenha coragem para que as reintegrações aconteçam”, disse Guimarães, enfatizando: “E não deixar acontecer o contrário, em razão de recomendação do Ministério Público. É muito importante que o governo do Pará seja verdadeiro na defesa do produtor rural, que é quem sustenta a nossa economia”.
Ernilson José de Paula, produtor rural em Sapucaia, contou que ele, a família e vários vizinhos já foram vítimas violência na zona rural: “Temos casos, na nossa casa, e dos nossos vizinhos, que sofreram atentados de terroristas que chegaram à nossa propriedade rural, depredaram tudo e nenhuma solução foi tomada”,
“Não culpamos a polícia, porque sabemos que a polícia prende e a Justiça solta. No nosso País acontece muito isso. Queríamos que o Estado fizesse algo mais em favor do cidadão, de quem produz, cria, gera empego mata a fome, mas se sente desprotegido pelo Estado”, afirmou ele, que considerou a reunião proveitosa e disse que “sempre há uma esperança”.
Ao Blog, o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá, Antônio Vieira Caetano – o Neném do Manelão – falou também do roubo de gado que, segundo ele, vem aumentando bastante na região. “São pessoas que chegam se apresentando como compradores, mas que, de repente, colocam as reses nos caminhões-gaiola, ameaçam com armas, saqueiam também as casas e vão embora”, contou ele, sugerindo que sejam criadas Patrulhas Rurais.
Autoridades da Segurança anunciam medidas urgentes de proteção ao produtor
Ouvido pela Imprensa, o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernandes, lembrou que a Polícia Civil acaba de receber reforço, com a admissão de novos policiais, assim como a Polícia Militar, a partir de junho, terá mais integrantes em suas fileiras. Anunciou ainda que, a partir da semana que vem, acontece a criação da Patrulha Rural da Policia Militar.
“Esse patrulhamento vai ter um trabalho diferenciado, que é ouvir a população, não só em relação à segurança, mas sobre todas as outras demandas que, porventura, a população rural esteja necessitando e que pode ser ouvida por esse policiamento”, explicou.
Quanto à criação de um Gabinete Regional de Segurança, citado por ele na reunião, Luiz Fernandes disse que esse recurso vai ajudar na medida em que terá representatividade de todos os municípios e da sociedade em geral. “Podem participar os segmentos do Ministério Público, do Poder Judiciário, enfim, todos os segmentos da sociedade civil”, descreve ele.
Já o delegado-geral Rilmar Firmino disse que a maior demanda para a qual a Polícia Civil pode, de imediato, apresentar uma solução é a reestruturação Deca (Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá) e a criação da Deca de Altamira, que vai desafogar a de Marabá, a qual estava respondendo pela Regional do Xingu.
“Sem contar que estamos reestruturando a Deca de Redenção e criando a Deca de Santarém. Vamos fechar toda a região oeste, mais parte da região sudeste”, anunciou ele.
Firmino falou também da chegada dos novos policiais civis à região, com um delegado de policia em cada município. “Com certeza, a gente vai ter uma melhoria no atendimento, nas investigações e no trabalho de Policia Judiciária”, afirmou.
Por seu turno, o coronel Mauro Sérgio, comandante do CPR II, disse que a Patrulha Rural, cuja criação foi anunciada por Luiz Fernandes, vai gerar a aproximação com o produtor rural, apesar das distâncias geográficas. “Ele vai ver que não está distante do Estado e que o Estado não o deixou à mercê da criminalidade”, destacou o oficial, acrescentando que “a Patrulha Rural vai ter uma efetividade muito grande”.
Segundo ele, os policiais que atuarão nesse novo recurso de segurança, serão selecionados de modo diferente, de preferência que sejam da região, que a conheçam muito bem e tenham perfil para trabalhar com o produtor rural, do pequeno ao grande, “não para que sejam customizados”, mas que sejam isentos, pensem na questão legal e sejam de fácil comunicação, “a fim de que possam atrair a confiança da sociedade e da comunidade rural”.
Mauro Sérgio anunciou também criação imediata da Companhia Independente de Missões Especiais, subordinada ao CME (Comando de Missões Especiais), com sede em Marabá e pessoal treinado especialmente para determinadas missões, a fim de dar celeridade aos cumprimentos de Mandados de Reintegração de Posse expedidos pela Justiça na região, que hoje demoram muito a serem cumpridos em razão dos excessivos protocolos e da excessiva burocracia oficial.
Tecnicamente, a Companhia Independente de Missões Especiais vai estar ligada a Belém, mas, operacionalmente, receberá orientações do CPR II, a quem vai estar também subordinada a Patrulha Rural.