Sem citar Canaã, Vale celebra produção e vendas com projeto no município

Com expressões como “desempenho consistente” e “performance robusta”, multinacional, que tem na Terra Prometida atualmente seu maior faturamento, engrandece mina de S11D em seu relatório ao mercado. Marabá também não é lembrada no documento, mas Salobo subiu 25%

Continua depois da publicidade

Tudo bem que não é um livro de geografia para ensinar a posição dos municípios no mapa-múndi, mas sim um relatório voltado ao mercado e a interessados. Ainda assim, a mineradora multinacional Vale bem que poderia espalhar mais a seus acionistas e consumidores das informações contábeis o nome exato do local de onde ela retira milhões de toneladas de minérios e faz sua fortuna mundo afora.

Rindo à toa, a mineradora comemora o sucesso da produção física do minério de ferro retirado em S11D, mina situada na Serra Sul de Carajás, dentro dos limites do município de Canaã dos Carajás. No entanto, em momento algum das oito páginas de seu “Relatório de produção e vendas no 2º trimestre de 2024”, divulgado anteontem (16), a multinacional mencionou a Terra Prometida. As informações são do Blog do Zé Dudu.

Já é tradição a Vale produzir seus relatórios sem creditar o nome dos municípios de onde saem as riquezas. Assim como não cita Canaã dos Carajás, também não reporta outras estrelas paraenses da indústria extrativa, como Parauapebas, Marabá e Curionópolis. Talvez por isso, sem humor para “ensinar” ou tornar didática a geolocalização de seus empreendimentos em relatórios técnicos, prospere uma histórica confusão do que vem a ser Carajás no mundo da mineração — se a região compreende uma província mineral que se expande por diversos municípios no sudeste do Pará ou se resume a uma serra dentro de Parauapebas, como foi impregnado ao longo de décadas.

Mensagem subliminar

Para falar diretamente sobre Canaã, mas sem se envolver, a Vale usa como cobaia os projetos S11D (de minério de ferro) e Sossego (de cobre). No relatório, a mineradora apela para expressões fortes como “desempenho consistente” e “performance robusta” para impressionar tietes, admiradores e amadores de seus processos.

S11D, diga-se de passagem, é a locomotiva da Vale no momento. A mina bateu recorde de produção para um segundo trimestre e fez com que o conjunto de minas de Parauapebas comesse poeira. Inclusive, as minas de Parauapebas baixaram a produção, mas a multinacional afirma que a redução está em “linha com o plano de lavra”. Enquanto a mina de ferro de Canaã aumentou a produção em 4,9% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2023, as minas de ferro de Parauapebas (situadas na Serra Norte de Carajás) e Curionópolis (situada na Serra Leste) caíram 5,5%.

Outra fonte de bonança e alegria da Vale vem de Marabá, que também não tem lugar nos relatórios da empresa, a não ser pelo “nome de guerra” Salobo, a principal operação de cobre da empresa no mundo. A mina marabaense aumentou em 25% sua produção, pulando de 75,5 mil toneladas do metal no primeiro semestre de 2023 para 94,4 mil toneladas no primeiro semestre de 2024. A mina de Sossego, em Canaã dos Carajás, por outro lado, reduziu a produção em 2,5% no período.

Para além do relatório

O que não costa do relatório é o faturamento real da Vale com os minérios extraídos no Pará, mas o Blog do Zé Dudu minerou os dados diretamente da Agência Nacional de Mineração (ANM). E as cifras são impressionantes: no primeiro semestre deste ano, a Vale retirou do subsolo do estado R$ 40,547 bilhões em ferro, cobre e níquel, sem contar ouro e prata contidos no concentrado de cobre, sendo, de longe, a mineradora mais importante. A segunda colocada no ranking, a Mineração Paragominas, parece criança ao movimentar seus R$ 1,068 bilhão, e a terceira colocada, a Mineração Rio do Norte, somente R$ 886,3 milhões.

Para se ter ideia do que a Vale garantiu em apenas seis meses de atividade este ano no Pará, basta comparar com a arrecadação líquida comandada por Helder Barbalho à frente do Governo do Estado em 12 meses: R$ 38,907 bilhões entre maio de 2023 e abril de 2024.

Saiba quanto a Vale faturou no primeiro semestre de 2024 em cada município do Pará e sua equivalência:

  • Canaã dos Carajás: R$ 17,962 bilhões (em minérios de ferro e cobre, o equivalente a 9 vezes e meia a receita líquida de um ano todo da prefeitura local, consolidada em R$ 1,898 bilhão)
  • Parauapebas: R$ 16,548 bilhões (em minérios de ferro e níquel, o equivalente a 6 vezes a receita líquida de um ano todo da prefeitura local, consolidada em R$ 2,688 bilhões)
  • Marabá: R$ 5,096 bilhões (em minério de cobre, o equivalente a 3 vezes e meia a receita líquida de um ano todo da prefeitura local, consolidada em R$ 1,369 bilhão)
  • Curionópolis: R$ 966,35 milhões (em minério de ferro, o equivalente a 5 vezes a receita líquida de um ano todo da prefeitura local, consolidada em R$ 192,3 milhões)

2 comentários em “Sem citar Canaã, Vale celebra produção e vendas com projeto no município

  1. Eunice Responder

    Muito boa análise , a vale nao menciona mesmo os municipios pq simplesmente a vida dela é espoliar eles !

  2. Carlos Responder

    Riqueza que vai, pobreza que fica. Pobre estado rico do Pará, eternamente sucateado por empresas picaretas e políticos horrorosos!!!

Deixe seu comentário

Posts relacionados