O desconforto causado pela interferência do governo, vista como indevida pelo mercado na tentativa de impor um nome (Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda) para dirigir uma empresa privada, apenas por possuir ações como os demais sócios da empresa, recuou e reabriu o caminho normal da mineradora Vale S/A seguir com as formalidades prevista em seu estatuto, de modo a escolher, como deve ser, o nome para presidi-la pelo próximo período.
A Vale informou na terça-feira (6) que não adiou a escolha do novo CEO da empresa. Em comunicado, a mineradora disse que o rito de sucessão está consoante a governança da empresa e que o Conselho de Administração pode tomar a decisão final até 26 de maio, quando encerra o mandato do presidente Eduardo Bartolomeo.
Segundo a companhia, o comunicado foi motivado por uma notificação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que questionou o motivo de não haver a indicação depois de a imprensa noticiar um suposto adiamento. “A decisão do Conselho de Administração sobre a renovação do mandato ou a escolha de sucessor poderá ocorrer até o término previsto do mandato em vigor”, diz a companhia. Leia o comunicado (abaixo).
Existia a expectativa de que a decisão final sobre a continuidade de Bartolomeo ou a escolha de um novo presidente saísse na última reunião do Conselho de Administração na sexta-feira da semana passada, mas os conselheiros devem usar o tempo para analisar um relatório de desempenho de Bartolomeo, feito internamente. O documento recomenda que seja criada uma lista de candidatos para disputar o cargo. Essa lista pode incluir Bartolomeo e outros nomes para um processo seletivo.
A não escolha final foi uma vitória para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tenta emplacar um nome próximo ao Planalto como CEO da Vale. O governo pressionou para que o escolhido fosse o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas recuou depois da reação negativa dos acionistas e do mercado.
Com a desistência da ideia de eleger Mantega, o governo queria ganhar tempo para negociar com os acionistas um nome de consenso. O PT defende a volta de Murilo Ferreira, que presidiu da mineradora de 2011 a 2017. Na época, ele foi levado ao cargo por influência do governo Dilma Rousseff (PT).
Já entre o conselho, o favorito é o ex-presidente da Cosan, Luiz Henrique Guimarães. Ele já faz parte do colegiado como integrante independente. Também é cotado o atual vice-presidente Financeiro da Vale, Gustavo Pimenta.
A ideia de renovar o mandato de Bartolomeo por pelo menos mais um ano não está descartada, mas não é o melhor dos mundos para o governo. A gestão Lula quer alguém com outro perfil e que siga o entendimento do presidente de acelerar investimentos da empresa para gerar empregos e ajudar no crescimento do país.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.