Senador Zequinha Marinho sobre Paulo Guedes: “Os números nunca batem”

O parlamentar paraense apontou contradições do ministro da Economia depois da acusação após derrubada de veto presidencial
Senador Zequinha Marinho (PSC-PA)

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Brasília – O clima no Senado não é nada amistoso para o ministro da Economia Paulo Guedes, que chamou os senadores que derrubaram o Veto Presidencial 17 – o qual impediu o aumento de salário de categorias da linha de frente de combate à pandemia da Covid-19 – de “criminosos”, após votação em sessão virtual na quarta-feira (19). O líder do PSC no Senado, Zequinha Marinho (PSC-PA), que vinha apoiando o governo nas mais importantes votações, se junta ao coro de descontentes com as declarações do chefe da pasta econômica.

Marinho disse que só não votaria pela queda do Veto 17 se o governo: “Conseguisse congelar o custo de vida. Quem faz compra semanal no supermercado sabe do que estou falando. É fácil congelar salário, difícil é ter uma economia de mercado com preços justos”.

“Se o governo mandasse para o Congresso uma Medida Provisória diminuindo o rombo causado pelo custeio da dívida de 360 bilhões/ano que são entregues a banqueiros gananciosos, eu seria o primeiro a concordar com o ministro,” disse.

“Se o governo tivesse uma alternativa para não penalizar esses servidores [saúde, segurança e educação] que estão na linha de frente – alguns estão morrendo em função do seu trabalho! Eu me calaria,” protestou o senador.

“Entendo ainda que esses servidores da segurança e saúde deveriam, neste momento de pandemia, ser escolhidos para premiação face à bravura e entrega na luta contra o novo coronavírus e não serem tratados como ‘bodes expiatórios’ e vilões do desequilíbrio das contas do governo,” defendeu Zequinha Marinho, que é funcionário licenciado do Banco da Amazônia (Basa).

Com essas ponderações, o senador continuou: “De repente votaria pela proibição da possibilidade de reajuste desses servidores. Ainda é bom lembrar, que a lei não está mandando reajustar, apenas não está proibindo reajustar, caso o ente público tenha condições para isso,” declarou o senador paraense.

Por último, o senador disse que é importante lembrar que os números apresentados pelo ministro Paulo Guedes “são graciosos e acima de tudo falaciosos! Ele nunca prestou contas dos números proféticos que diz sobre a economia, porque eles nunca batem,” disparou.

Retratação

Numa live fechada nesta quinta-feira (21), num grupo de mensagens, enquanto os deputados revertiam em Plenário a decisão do Senado que derrubou o Veto 17, durante duas horas e meia, vários senadores da situação e da oposição debateram o assunto. A situação de Guedes subiu no telhado e alguns senadores exigiram uma retratação pública do ministro.

O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), vai ter trabalho para apagar o incêndio provocado pelas declarações de Paulo Guedes no Senado. A votação do veto que impede reajustes de servidores da linha de frente da pandemia tem validade até dezembro de 2021.

Os senadores estão furiosos com o governo de Jair Bolsonaro, e prometem até ameaçar votações futuras, incluindo a da desoneração da folha de pagamento para vários setores, ainda sem data marcada.

O clima está pesado. Os senadores que votaram para manter o veto – e foram, portanto, derrotados – se solidarizaram com os colegas que votaram para derrubá-lo. Em um discurso uníssono, com muitos desabafos, chegaram à rápida conclusão de que não deixariam passar em branco a declaração de Paulo Guedes de que o Senado havia “cometido um crime”.

“Ele não pode nos chamar de criminosos. Enquanto ele não pedir desculpas, eu não voto mais nada com o governo,” disse um dos senadores governistas, irritado.

Uma senadora pediu a palavra para contar que, na véspera da votação, esteve com Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, e perguntou a ele qual era a orientação do Planalto na análise do veto. Segundo ela, Ramos ficou de entrar em contato posteriormente, o que não o fez.

Todos os senadores fizeram questão de deixar claro que não receberam qualquer ligação por parte de interlocutores do governo. Ou seja, não houve articulação prévia.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse que a manutenção do veto era fruto de um acordo fechado com governadores quando das negociações para o repasse de R$ 60 bilhões da União a estados e municípios. Senadores rebateram o líder dizendo que “acordo com governadores é diferente de acordo com senadores”.

Os senadores decidiram na tensa conversa virtual dar um jeito de convidar ou convocar Guedes: querem que ele prove que a derrubada do veto provocaria um rombo de R$ 130 bilhões, como anunciado.

“É mentira dele, todos sabemos que é mentira. Ele vai ter que provar,” chegou a dizer um senador.

Davi Alcolumbre (DEM-AP) chegou para a conversa quando a lavagem de roupa suja já estava perto do fim. Foi o suficiente para ele perceber que não havia clima para votar a PEC do Fundeb ainda na noite de ontem. “Para não interferir no brilho da votação,” justificou o presidente do Senado, que evitou se posicionar firmemente sobre as queixas dos pares em relação a Guedes.

Guedes já defendeu reajuste de servidores da linha de frente da pandemia

Paulo Guedes disse que o Senado “cometeu um crime” ao derrubar o veto a reajuste de servidores da linha de frente da pandemia até dezembro de 2021 – que acabou sendo mantido pela Câmara.

Ministro da Economia Paulo Guedes

Ocorre que em pelo menos duas ocasiões Guedes defendeu justamente o contrário do veto. No dia 29 de abril, em coletiva no Palácio do Planalto, ao comentar o tema, o ministro da Economia foi cristalino:

“Os profissionais que estão na linha de combate, como os médicos, enfermeiros, pessoal de saúde, policiais – a turma que está na linha de combate é uma exceção. Durante o período da pandemia, eles estão lá. Se o governo precisar reforçar, contratar mais enfermeiros, dar aumento de salário, ele pode fazer isso. Mas não o resto”.

No dia seguinte, participando de audiência na comissão do Congresso que trata da Covid-19, ele repetiu a mesma tese, afirmando textualmente o seguinte:

“É claro que durante toda essa pandemia, médicos, policiais militares, enfermeiros, todo mundo que estiver na linha de frente de combate deve ser uma exceção a qualquer impedimento de aumento de salário”.

A senadora Daniella Ribeiro (PP-PB) publicou no seu Instagram um vídeo com as duas falas incontestáveis do ministro. A senadora Soraya Thronicke (PSL) fez o mesmo em seu Twitter.

Não à toa, deputados bolsonaristas procuraram O Antagonista para dizer, em reservado, que inicialmente havia acordo e orientação por parte do governo para votar pela derrubada do veto.

A senadora Daniella Ribeiro disse: “Seguimos a sua linha de raciocínio Ministro. E concordamos com ela. Dissemos sim ao PLP 39/2020 com a sua anuência. Se alguém mudou, não fui eu nem meus colegas. Mas, no Senado, o senhor terá́ oportunidade de desmentir a falácia dos números que jogou nas últimas horas em cima do povo brasileiro como responsabilidade nossa, publicando em seguida na sua conta do Instagram dois vídeos em que Paulo Guedes defende que os profissionais da linha de frente de combate ao coronavírus tenham tratamento especial”.

Veja o VT:

VT declaração de Paulo Guedes

Por Val-André Mutran – de Brasília