Por Lima Rodrigues
Após mais de três anos de trabalho na mina de Serra Pelada e com mais de R$ 500 milhões de reais investidos no projeto, agora tudo está parado e sem previsão de retomada devido à falência da empresa canadense Colossus, que tinha parceria com a Coomigasp, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada.
Desde outubro do ano passado, a Coomigasp está sob intervenção, por determinação da Justiça de Curionópolis (PA), a pedido do Ministério Público Estadual. O mandato do interventor Marcos Alexandre Mendes foi prorrogado por mais quatro meses. Em exclusiva, o interventor explica detalhes da situação do projeto da mina de Serra Pelada.
Como está hoje a situação do projeto da Mina de Serra Pelada?
O projeto continua parado, sem operação. A única atividade que está sendo realizada é o bombeamento do túnel. A nova controladora da Colossus, a financiadora Sandstorm, alega que não tem encontrado novos investidores, principalmente pela aprovação na Comissão de Minas e Energia, da Câmara Federal, da cassação do direito de lavra, e que sem novos aportes não há como retomar as operações.
Algumas galerias do túnel foram alagadas e para continuar o bombeamento é preciso recurso. Como serão conseguidas estas verbas para realizar este trabalho de bombeamento?
Caso a Colossus pare com o bombeamento, estamos buscando todas as alternativas junto às autoridades e órgãos competentes para mantermos a operação. Paralelo a isso, a intervenção buscou o poder judiciário, o qual concedeu uma liminar dando poderes à intervenção de ter o controle do bombeamento com recursos humanos e materiais fornecidos pela Colossus sob pena de multa pecuniária de R$ 100.000,00/dia chegando ao máximo de 1 milhão. A Colossus tem direito a recurso e a COOMIGASP aguarda o desenrolar dos fatos.
Estes alagamentos não prejudicam o andamento do projeto?
Sem o rebaixamento do nível freático não há como retomar as operações.
Está havendo dificuldade quanto à entrada de novos investidores no projeto da mina de Serra Pelada?
Sim, notadamente pela votação na Câmara Federal pela Comissão de Minas e Energia pedindo o cancelamento do decreto de lavra.
A anulação da concessão de lavra da joint-venture entre Colossus e Coomigasp em uma comissão da Câmara dos Deputados está prejudicando estas negociações para atrair novos investidores?
Sim, os investidores ficam temerosos em investir em um cenário de incertezas.
Em quanto tempo o senhor acha que um novo contrato será assinado com um novo grupo de investidores?
Não há previsão com o cenário atual, entretanto, as buscas por novos investidores continuam e não somente isso, estamos considerando todas as possibilidades, inclusive a de a própria cooperativa conduzir o projeto.
Neste novo contrato, a Coomigasp ficará com a metade ou continuará o que determinava o contrato anterior de 75% para a Colossus e 25% para a cooperativa?
A intervenção desde que assumiu tomou como uma das bandeiras principais a negociação pela retomada do percentual anterior. Mas, hoje a batalha se concentra em salvar o projeto, não medimos esforços para defender os interesses dos garimpeiros.
Quanto já foi investido no projeto e quanto mais são necessários para se chegar ao início da produção mineral?
Estima-se que já foi investido U$ 360.000,000,00 (trezentos e sessenta milhões de dólares) e falta ainda U$ 150.000.000,00 (cento e cinquenta milhões de dólares), considerando todo o passivo que existe na empresa, inclusive o trabalhista.
Há boatos de que cinco mil garimpeiros poderão invadir o pátio da Colossus em Serra Pelada. Quais as providências estão sendo tomadas pela Coomigasp?
Não acreditamos nessa possibilidade. O garimpeiro está ciente que precisamos passar uma imagem de união para conquistarmos novos investidores.
O seu mandato como interventor foi prorrogado por mais quatro meses. Neste período, o senhor acha que deixará a Coomigasp completamente sanada e o projeto em andamento sem nenhum problema?
As recomendações contidas em nosso mandado de posse em número de 10 (dez) estão em curso, ou concluídas, sendo que uma das mais importantes é a auditoria no cartório a fim de verificar a autenticidade dos documentos. Até meados de junho essa etapa estará concluída, com seu relatório final entregue ao MP, dessa forma conseguiremos fazer a atualização de dados e abertura de conta individual de cada cooperado, para que o mesmo possa receber o que lhe é de direito, quando do início da produção, sem intermediários de quaisquer espécies. Quanto à retomada das operações, não depende apenas da intervenção, tendo em vista a interrupção ocorrida desde dezembro de 2013, neste momento a prioridade é buscar recursos e possibilidades para o bombeamento não parar , enquanto se busca novas alternativas para a retomada do projeto.
Qual sua mensagem aos garimpeiros?
Sabemos que o garimpeiro tem uma grande ansiedade para que tudo se resolva, mas estamos falando de um projeto que consiste em uma parceria cheia de vícios. Trata-se de um projeto com um nível de complexidade alta. Para resolver o caso de Serra Pelada de forma correta, infelizmente é necessário tempo, se fosse para fazer como sempre tem sido feito, já teria uma solução, mas queremos fazer tudo de forma correta e transparente para que o garimpeiro não seja lesado. Portanto, pedimos confiança, união e credibilidade em nosso trabalho.