Por Ulisses Pompeu – Nova Marabá
O Brasão do município de Marabá exibe uma castanheira. Mas isso não impede os moradores tratarem com desdenho a árvore que foi, por 50 anos, a principal responsável pela economia da cidade, com a venda de milhares de hectolitros de castanha por ano. As poucas árvores que resistem na área urbana, agora são vítimas de envenenamento e até sufocamento.
Morada Nova, um bairro de Marabá, tem duas castanheiras na lista das “ameaçadas” de extinção dentro da área urbana. Uma dela foi ‘sitiada’ por um mercado que o governo de Maurino Magalhães – estranhamente – construiu, deixando a árvore dentro dos muros, logo na entrada do prédio. É bom dizer que a castanheira não é árvore para se ficar embaixo durante a queda dos ouriços, que podem causar até mortes.
Outra árvore que crescia frondosa no mesmo bairro, só que na entrada do Residencial Jardim do Éden, passou a sofrer ameaças desde que as mais de 900 casas foram inauguradas e os moradores ganharam uma academia popular. Instalada a poucos metros da árvore, a academia atrai pessoas de todas as idades e o jornalista Ulisses Pompeu vem monitorando a relação da comunidade com aquela castanheira. E não demorou muito para aparecerem mais pessoas para ameaçar a árvore solitária.
Dois quiosques foram construídos praticamente embaixo da castanheira e os primeiros danos à árvore foram identificados: cortaram parte da sua casca, como se os malfeitores estivessem ensaiando um anelamento. Para quem não sabe, anelamento é uma técnica de eliminação de árvores, que consiste na retirada de uma porção externa da seção transversal onde se encontra o floema (casca), impedindo assim a condução de seiva elaborada para as raízes da planta.
A referida castanheira tem 1,60 metro de diâmetro, o que dá para deduzir que possua cerca de 30 anos de vida. Ela está localizada entre a Rodovia BR-155 e a entrada do residencial Jardim do Éden. Há um ano, a árvore foi fotografada a primeira vez, inclusive com marcação de seu ponto de GPS. Doze meses depois os quiosques aparecem – um já em funcionamento e o outro em construção.
O mais antigo possui uma boa estrutura metálica, caixa d’água e banheiro. Crianças brincam ali várias vezes por dia e agora no inverno, quando os ouriços começam a cair, o risco de acidente, deixando alguém aleijado, é grande.
Nesses casos, as pessoas começam a pedir a retirada da castanheira, acusando o perigo. Mas o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) já emitiu parecer avisando que não permite a retirada de castanheiras, que chegaram primeiro ao local.
Na noite desta segunda-feira, a reportagem entrou em contato com o pastor José Leite, diretor da Secretaria de Urbanismo. Ele justificou que não tem conhecimento das duas construções. Em seguida, entrou novamente em contato para informar que o coordenador de Postura, de prenome Alfredo, disse que as tratativas para construção dos quiosques ocorreram via SDU (Superintendência de Desenvolvimento Urbano), sem participação da Postura. Douglas, que seria o responsável na superintendência sobre o assunto, não foi encontrado.
O presidente do COMAM, Jorge Bichara, lamenta o fato e diz que o Conselho deverá enviar uma equipe ao local para analisar a situação e pedir, se for o caso, a retirada dos quiosques e que o município construa uma estrutura para evitar acidentes, colocando telas de proteção para evitar que os ouriços causem danos irreversíveis às pessoas. “Lutamos para preservar as nossas castanheiras, um símbolo histórico do município de Marabá”, explica o ambientalista.
De fato, a castanheira está presente no centro do Brasão do município, que foi criado em 1973, durante o governo de Pedro Marinho de Oliveira. O desenho do brasão é de autoria de Augusto Morbach e é basicamente formado por um escudo em campo verde-esmeralda e bordas em esmalte, cruzado na diagonal por uma faixa (peça) amarela que se bifurca no centro do campo representando os rios Tocantins e Itacaiunas.
Dividindo o campo na vertical está a figura da Bertholletia excelsa, que foi por muito tempo um dos suportes econômicos do município. A árvore está circundada por cinco estrelas (peças) de prata dispostas como se formassem a constelação do Cruzeiro do Sul, que faz parte do conjunto das armas nacionais, sendo que a quinta estrela da constelação. A castanheira está exatamente na bifurcação da faixa e simboliza o núcleo fundador da cidade de Marabá, situada na confluência dos rios.
2 comentários em “Símbolos do município de Marabá, castanheiras vão sendo dizimadas na área urbana”
Infelizmente, a SDU é um órgão que anda na contramão das suas atribuições. Faz coisas que não deveria e o que realmente deveria fazer, faz “vistas grossas”.
Está faltando gestor de pulso forte para colocar esse órgão tão importante para a organização e desenvolvimento do espaço urbano no seu devido caminho institucional.
São anos de desvios de funções e atribuições que vem gerando prejuízos incalculáveis para o município.
Vamos ver o que essa próxima gestão tem a fazer.
Aqui em MaraBágunça é assim mesmo!!!…e, a SDU é a maior especialista em desorganização urbana.