Em menos de uma semana de investigação, a Polícia Federal descobriu que uma central de telemarketing com sede no Rio de Janeiro foi usada para difundir o boato de que o Bolsa Família, o principal programa social do governo federal, iria acabar.
Mensagem de voz distribuída pela central anuncia o fim do programa, conforme dados do inquérito aberto no início da semana, a partir de uma determinação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A descoberta reforça a tese de que a ação tenha sido organizada. A PF tem cópia da mensagem.
Agora, a polícia quer descobrir quem contratou os serviços de telemarketing e se, de fato, existe algum grupo com interesse político-eleitoral por trás da tentativa de assustar os beneficiários do Bolsa Família. A polícia decidiu também interrogar, a partir da próxima semana, as 200 primeiras pessoas a fazer saques logo após o início da disseminação dos boatos sobre o fim dos programas no fim de semana. A polícia quer saber como cada um deles foi informado sobre o fim do programa e se essas pessoas receberam as ligações do serviço de telemarketing. – Está comprovado o uso do telemarketing – disse ao GLOBO uma fonte que está acompanhando de perto as investigações.
Os boatos sobre o falso fim do programa começaram a ser difundidos no sábado passado e provocaram uma corrida em massa à agências da Caixa Econômica Federal, pagadora do benefício. Segundo informações repassadas pela Caixa aos investigadores, os primeiros saques foram feitos no Maranhão, Pará e Ceará por volta de 11 horas do sábado passado, 30 minutos depois do registro de uma das ligações da central de telemarketing sobre o falso fim do programa. Na segunda-feira seguinte, o governo contabilizou cerca de 900 mil saques no valor total de R$ 152 milhões. Para evitar confusão, o Ministério do Desenvolvimento Social autorizou a Caixa a antecipar nos dias 18 e 19 pagamentos que só seriam feitos ao longo da semana. Coube à Caixa orientar quem estava na fila alertando que não havia risco de interrupção. O governo decidiu ainda mandar mensagens de texto para celulares das famílias vinculadas ao programa para tentar tranquilizá-las.
A presidente Dilma Rousseff classificou a ação de criminosa. E o ministro Cardozo reconheceu que, diante da magnitude do caso com registro de pessoas na fila em 13 estados, tratava-se de uma manobra orquestrada. A ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, chegou a insinuar, no twitter que os boatos teriam partido da oposição. Depois se retratou, mas os líderes da oposição reagiram e passaram a levantar suspeitas sobre setores do governo que, no fim das contas, acabariam obtendo dividendos políticos com o caso. Os investigadores do caso tentam se manter longe dos embates políticos, mas não descartam que o episódio tenha alguma conotação eleitoral. O Bolsa Família tem sido motivo de debate nas principais eleições nos últimos anos. A partir do aprofundamento sobre o uso do telemarketing, a polícia entende que poderá esclarecer o caso.
Fonte: O Globo