O tamanho do tacho de maldades cheio de óleo em alta temperatura aumentou em Brasília desde o início da semana — e agora, faz companhia à fritura da ministra da Saúde Nísia Trindade, sob fogo de lideranças do Centrão no Congresso Nacional, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que pode não resistir à artilharia pesada desferida pelos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil). Os dois membros do governo estão cozinhando o CEO da maior empresa da América Latina, e vozes a par da situação, garantem que no caso de Prates, há o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O clima escalou para o insuportável após uma entrevista que o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, concedeujornal
de São Paulo. Jean Paul Prates se irritou e fontes garantem que ele pediu uma conversa “definitiva” com Lula e pode sair da Petrobras.
O ex-senador petista está inconformado e pretende dar um basta na situação. A saída da estatal está entre as possibilidades consideradas por ele, embora seu desejo maior seja o de que o presidente da República manifeste forte apoio por sua permanência — o que não vem acontecendo.
Martelo batido
Prates pretende definir de uma vez por todas a sua situação na empresa, expondo a Lula as conquistas e os problemas de sua gestão.
Silveira admitiu em entrevista à Folha (aqui, para assinantes) que tem conflitos com Prates. Já Costa estaria inclusive sondando candidatos que poderiam vir a comandar a estatal.
A fritura se intensificou duas semanas após a estatal anunciar, em conjunto com a apresentação do balanço do quarto trimestre, que não pagará dividendos extraordinários aos acionistas, ou seja, não distribuirá recursos acima do mínimo estabelecido no seu estatuto social. A decisão tomada pelo conselho de administração atendeu a um pedido do presidente Lula e contrariou avaliações técnicas feitas por boa parte dos diretores e conselheiros da empresa, incluindo o seu próprio presidente, Jean Paul Prates.
A inapropriada ingerência de Lula fez a Petrobras perder, em apenas um dia, R$ 56 bilhões de reais em valor de mercado em razão da queda de 10% do valor de suas ações na bolsa de valores. “A Petrobras faz política social ao pagar impostos e royalties e ao gerar empregos e investimentos”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Agora, o governo quer voltar ao passado com uma política que nunca deu certo.”
Fontes garantem que o presidente da Petrobras mantém o apoio de algumas lideranças do PT, de senadores da base de Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Eles consideram que a saída de Prates, neste momento, poderia ser traumática para a empresa e o governo, gerando uma crise desnecessária.
O ruído passou a ser gritaria na quarta-feira (3), e os boatos chegaram aos ouvidos dos operadores financeiros na Av. Faria Lima, centro do dinheiro no Brasil, em São Paulo. Em minutos, as ações da Petrobras, que estavam em alta no pregão, voltaram a cair após andarem lateralizadas e com algumas pequenas altas nas duas últimas semanas após o monumental tombo de 10%, em mais um capítulo dessa novela de disputa pelo poder.
Os rumores de uma queda próxima de Prates são tantos que há uma lista de possíveis substitutos já circulando em Brasília. Ricardo Savini, presidente da 3R Petroleum — uma junior oil, está entre os cotados.
Na suposta lista figuram também Bruno Moretti, hoje Secretário Especial de Análise Governamental da Presidência da República. E por último, circula o nome da engenheira química Magda Chambriard, que atuou na Petrobras antes de migrar para a ANP (Agência Nacional de Petróleo), que presidiu entre 2012 e 2016.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.