Ela apareceu em meia dúzia de grãos nos anos de 1970, mas ninguém apostava ou acreditava que iria chegar longe. A primeira plantação, experimental, tinha o tamanho de seis campos de futebol e só rendeu uma tonelada, em caráter experimental. O conhecimento técnico-científico da época era cético quanto a sua resistência às intempéries climáticas da Amazônia paraense e, por isso, as plantações eram logo abandonadas. Desde então, até a década de 1990, passou a viver baixos e baixos — não teve altos no período e, inclusive, a produção chegou a zerar em diversos anos. Mas eis que, no século 21, ela, a soja, encontra novos horizontes no Pará e se expande à velocidade da luz.
Neste fim de ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma plataforma interativa, em forma de mapas temáticos, para os resultados preliminares do Censo Agro 2017, e o Blog do Zé Dudu resolveu colher os números da soja, que é a commodity agrícola mais exportada do Pará. Juntamente com os minérios de ferro, cobre e alumínio, mais a carne de boi e o boi vivo, a soja está no topo da cesta de produtos paraenses apreciados pelos gringos.
De janeiro a novembro deste ano, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o Pará exportou 566,8 milhões de dólares em soja e avança para o pelotão dos maiores exportadores, que tem Mato Grosso (7,66 bilhões de dólares), Paraná (4,8 bilhões de dólares) e Rio Grande do Sul (4,57 bilhões de dólares) na liderança.
Expansão
Atualmente, segundo o Censo Agro do IBGE, 577 propriedades paraenses têm plantação e produção ativa de soja, que ocupa cerca de 340 mil hectares no estado. Dentro das fazendas de soja que se espalham pelo Pará caberiam 15 áreas urbanizadas do tamanho de Belém. O instituto calcula que 1,63 milhão de toneladas do grão sejam produzidos por ano.
Os dados são triunfais quando comparados com o Censo Agro realizado em 2006. Naquele ano, o IBGE constatou apenas 18,3 mil hectares ocupados pela soja no Pará. Em números relativos, é possível afirmar que em uma década a soja avançou 1.750% no estado, que se consolidou como a nova fronteira agrícola do país. Antes disso, o maior espaço ocupado pela commodity no estado foram 397 hectares em 1985, área que foi reduzida a 190 hectares em 1995.
Em termos de valor, a soja é, hoje, o terceiro principal produto do campo, com faturamento anual de R$ 1,57 bilhão. Só perde para o reinado do açaí (R$ 5,44 bilhões) e da mandioca (R$ 1,85 bilhão). De cada R$ 100 produzidos no campo pelo Pará, R$ 12 saem da soja, cujo movimento já é o triplo da pimenta-do-reino (R$ 516 milhões), especiaria em que o estado é expert.
É um movimento tão fabuloso que saem de seus grãos que conforma uma produção de riquezas superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de 129 municípios paraenses. E, também, gera um faturamento superior à arrecadação de 143 prefeituras do estado — só a de Belém, no valor de R$ 2,76 bilhões, é maior.
Municípios
O Pará tem 29 municípios que produzem soja. Paragominas é o rei do grão no estado, com 122 mil hectares destinados ao cultivo. A extensão municipal da plantação de soja caberia tranquilamente 65 cidades do tamanho da área urbana de Paragominas. Nesse pedaço de terra são produzidos anualmente R$ 414 milhões em soja. Dom Eliseu, vizinho a Paragominas, vem em segundo lugar, com 84 mil hectares ocupados para soja e movimentação de R$ 261 milhões.
Outros lugares com produção expressiva de soja são Santana do Araguaia (R$ 175 milhões), Ulianópolis (R$ 171 milhões), Rondon do Pará (R$ 160 milhões), Santa Maria das Barreiras (R$ 77 milhões), Mojuí dos Campos (R$ 68 milhões), Novo Progresso (R$ 56 milhões), Santarém (R$ 55 milhões), Belterra (R$ 39 milhões), Cumaru do Norte (R$ 32 milhões) e Redenção (R$ 16 milhões).
Já Água Azul do Norte (R$ 945 mil), Tracuateua (R$ 747 mil), Rurópolis (R$ 439 mil), Goianésia do Pará (R$ 260 mil) e Abel Figueiredo (R$ 158 mil) são as localidades que operam os menores movimentos financeiros com soja.