A Câmara Municipal de Parauapebas (CMP) abriu oficialmente, na tarde desta segunda-feira (17), um novo período legislativo. Com a realização de sessão solene completamente lotada, a ocasião foi marcada por discursos sobre expectativas de mandato, críticas ácidas ao governo anterior e ratificação dos compromissos assumidos pelos vereadores – então candidatos – de resolver os principais problemas locais e “reconstruir” a cidade.

A décima legislatura da CMP marca não apenas um novo ciclo no parlamento municipal, mas também o aumento no número de vereadores, que foi de 15 para 17. Por conta da mudança, a Casa aprovou, em 2024, resolução que elevou de quatro para cinco o número de membros da Mesa Diretora. 

Sob a presidência do vereador Anderson Moratório (PRD), a solenidade contou com a presença do prefeito Aurélio Goiano e secretários municipais; da juíza Eliene Salgado, representando o Judiciário; do tenente-coronel Aquino, comandante da Polícia Militar em Parauapebas; Guilherme Mello, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA), seção Parauapebas; e ainda de representantes da indústria, do comércio e das igrejas católica e evangélica do município.

Foram quase duas horas, durante as quais os parlamentares tiveram, cada um, cinco minutos para se pronunciar da tribuna. Quase todos seguiram religiosamente o relógio, com alguns sendo até econômicos com as palavras – como o Sargento Nogueira (Avante), que não usou nem dois minutos do seu tempo.

Ao contrário da postura incisiva que apresentou na posse dos vereadores, quando fez duras cobranças ao prefeito, desta vez Nogueira baixou o tom. “Parauapebas precisa de união, independente das ideologias ou pensamentos. Todas as vezes que precisar me posicionar para o bem de Parauapebas irei me posicionar, mas Parauapebas é muito maior do que o vereador Nogueira, do que qualquer secretário e do que o prefeito Aurélio Goiano. Nós precisamos de união para reconstruir nossa cidade,” disse. 

Embates x união

A extrapolação no uso do tempo na tribuna ficou com o vereador Zé do Bode (União), em segundo mandato, e o novato Zé da Lata (Avante), pai do prefeito, e que roubou a cena ao se apresentar com um terno de cor laranja bem chamativo, provocando brincadeiras e comparações com o cantor e compositor Falcão, inclusive nas redes sociais. 

Se continuarem falantes nas sessões plenárias, os dois vereadores podem – ou não – protagonizar alguns embates, já que Zé do Bode foi um dos maiores adversários de Aurélio Goiano, com quem travou muitas discussões na legislatura passada. E Zé da Lata já deixou claro em seu pronunciamento que, a exemplo do filho, não mede palavras para manifestar suas opiniões.

“Eu sei que estamos vindo de um desgoverno desastroso, que só roubou, saqueou o nosso município,” afirmou Zé da Lata, para quem existe um “remedinho” para que Parauapebas volte a crescer. “O remédio é simples: é só não roubar que o dinheiro dá,” ironizou o parlamentar.

Acusado por grupos políticos de ter “mudado de lado” para apoiar a nova gestão, Zé do Bode justificou que “é muito cedo para fazer prejulgamento do atual prefeito” e negou que agora seja aliado de Aurélio Goiano. “Por que usar uma tribuna para fazer um prejulgamento para apontar o dedo para um governo que tem pouco menos de 50 dias?”, questionou, garantindo que fará uma “oposição séria”, cobrando do governo quando necessário. Ao final, o vereador desejou “um bom mandato” ao prefeito.

Homenagem e prestação de contas

Líder do governo na Câmara, o vereador Léo Márcio (SD) usou um vídeo em seu pronunciamento para mostrar as ações dos 47 dias de mandato de Goiano,  enquanto a vereadora Graciele Brito (União) fez uma bela homenagem ao seu pai, o filósofo e ex-vereador Chico Brito, responsável por organizar e comandar o movimento que emancipou Parauapebas de Marabá, em 1988.

Vereadores como Alex Ohana (PDT) e Érica Ribeiro (PSDB) usaram a tribuna para fazer uma espécie de prestação de contas do trabalho que já vêm realizando desde o início do ano, das proposições que já apresentaram na Câmara e que se encontram na pauta da primeira sessão ordinária da Casa, a ser realizada na manhã desta terça-feira (18).

E a pauta está extensa, com 28 projetos de indicação e cinco requerimentos, assinados por 16 dos 17 vereadores.

Dívidas e incômodos com blogueiros

Com chapéu de couro e bem à vontade, o prefeito Aurélio Goiano defendeu a reforma administrativa no seu governo, destacando o trabalho que vem executando, e criticando o governador bem como blogueiros de oposição. 

O gestor defendeu a secretária municipal de Educação, Maura Paulino, acusada de praticar irregularidades na dispensa de licitação para compra de alimentos para merenda escolar de uma empresa de Goiás. “Nossa equipe não é ladrona, nossa equipe não quebrou esse município,” esbravejou, acrescentando que está reformando cerca de 40 das 86 escolas existentes no município. 

“Onde estavam vocês quando o teto das escolas estava caindo?”, perguntou aos blogueiros. Segundo Aurélio Goiano, no ano passado a prefeitura gastou R$ 1,4 bilhão em compras diretas. No mesmo período, afirmou o prefeito, somente a Secretaria Municipal de Segurança Institucional (Semsi) usou R$ 208 milhões no período eleitoral. Gasto esse que foi feito “por um cidadão ladrão chamado Denis Assunção,” acusou.

Nesta segunda, Aurélio Goiano informou que foi surpreendido com mais um péssimo aviso: “Hoje, recebemos mais uma carta ‘maravilhosa’ de endividamento do município ou de negatividade das contas, de R$ 11,6 milhões”. Frente ao quadro econômico-financeiro da Parauapebas que herdou, afirmou que irá “auditar todas as contas” do município.

O presidente da Câmara, Anderson Moratório, foi o último a se pronunciar, com palavras que focaram na importância da democracia e do trabalho da Imprensa em Parauapebas. Isso expôs o desconforto do parlamentar com informações espalhadas em redes sociais, no início deste mês, de que a CMP havia superfaturado a compra de água para o Legislativo. 

“São jornalistas e comunicadores responsáveis que combatem a desinformação,” pontuou Moratório ao conclamar a categoria a buscar a verdade e o esclarecimento dos fatos.

_{Texto e fotos: Hanny Amoras (Jornalista – MTb/PA 1.294)}