À sombra da Vale, cidade cresce mais do que a China

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No centro de uma grande província mineral, Parauapebas tem crescimento de 20% ao ano e já é a 4º cidade que mais exporta no País

Quem chega de carro a Parauapebas (PA) se depara com um outdoor no qual está escrito: “Suas compras serão aqui”. Instalado na rodovia PA-275, ele indica o local em que será aberto o Unique Shopping, o primeiro do sudeste do Pará. Com inauguração prevista para o segundo semestre, ele terá 14,5 mil metros quadrados, 126 lojas, quatro salas de cinema, um hipermercado, 700 vagas de estacionamento e investimento de R$ 46 milhões.

O Unique Shopping é mais um entre os vários empreendimentos lançados nos últimos meses em Parauapebas. Localizada no centro de uma das maiores províncias minerais do mundo, a cidade cresce em ritmo acelerado desde que foi fundada, em 1988. De lá para cá, a população aumentou 15 vezes, a economia se expande em média 20% ao ano – o dobro da taxa registrada na China – e, no ano passado, ficou em quarto lugar na lista dos municípios brasileiros que mais exportaram.

Terreno onde está sendo construído o Unique Shopping, o primeiro do sudeste do Pará: investimento de R$ 46 milhões

O motivo por trás do crescimento da cidade paraense tem nome: Vale. Com mais de 10 mil funcionários, a mineradora produz 300 mil toneladas de minério de ferro por dia nas quatro minas. No ano passado, quando o mundo se recuperava da crise econômica, a produção chegou a 84,5 milhões de toneladas. Como grande parte dela vai parar em fornos de siderúrgicas fora do Brasil, Parauapebas ficou em quarto lugar na lista dos municípios que mais exportam – atrás de São Paulo, Angra dos Reis (RJ) e São José dos Campos (SP).

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2009 foram enviados R$ 3,8 bilhões para o exterior. “Parauapebas vive em função da Vale”, diz José Rinaldo Alves de Carvalho, empresário e presidente da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Parauapebas (ACIP). De acordo com ele, 100 novas empresas se instalam na cidade todos os anos. As 650 registradas na associação respondem por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3 bilhões, segundo números de 2007 do IBGE.

Antes mesmo de ser fundada, Parauapebas já tinha uma relação de dependência com a Vale. A província mineral de Carajás foi descoberta por acidente em 31 de julho de 1967 pelo geólogo Breno Augusto dos Santos. Ele sobrevoava a região quando o helicóptero teve de fazer um pouso de emergência numa clareira. Ao se dar conta de que a falta de árvores não era resultado da ação do homem, mas da canga (tipo de rocha na qual cresce uma vegetação típica de solos ricos em minério de ferro), concluiu que ali havia uma jazida a ser explorada. Acertou em cheio. A implantação da primeira mina da Vale em Carajás atraiu funcionários da empresa e prestadores de serviço, que criaram um distrito a 160 quilômetros de Marabá. A mina começou a operar em 1985 e, um ano depois, teve início um movimento separatista. Em maio de 1988, quando tinha 10 mil habitantes, Parauapebas virou cidade.

A mina da Vale na Serra dos Carajás, em Parauapebas: exportação de R$ 3,8 bilhões em 2009

Os primeiros empreendedores a chegar aos sudeste paraense encontraram um lugar com muita oportunidade de negócios. Nascido em Campinas, no interior de São Paulo, o engenheiro Ourivaldo Mateus foi para Parauapebas em 1981 como funcionário da Vale. Quando a empresa abriu um programa de demissão voluntário 13 anos depois, decidiu que era hora de tentar melhorar de vida. Com o dinheiro da rescisão, montou a Séculos, empresa de sondagem. Hoje, suas empresas faturam R$ 15 milhões ao ano. Histórias como a de Mateus são comuns em Parauapebas. Carlos Alberto Correia da Silva largou a loja em Goiás para tentar a sorte na cidade. Ao lado de dois irmãos, chegou à cidade com R$ 30 mil e montou uma banca de hortaliças. Hoje, é um dos donos de dois supermercados que, juntos, faturam R$ 30 milhões ao ano. “Isso aqui é o nosso Eldorado”, afirmou Silva.

A fama de Eldorado (país lendário e cheio de riquezas que existiria na América do Sul) ainda atrai muita gente para Parauapebas. Ninguém sabe ao certo quantas pessoas desembarcam na cidade, mas entre os moradores é comum ouvir que esse número esteja perto de três mil pessoas ao mês. Uma parte deles chega de trem. Três vezes por semana, o trem para 1,1 mil pessoas sai de São Luiz, no Maranhão, percorre 892 quilômetros e passa por 25 cidades e povoados antes de chegar a Parauapebas. A bordo, pessoas vindas de várias partes do Nordeste, principalmente do Maranhão, que buscam emprego e, principalmente, uma vida melhor. Numa segunda-feira de abril, José Augusto Serra desembarcou na cidade com uma mochila nas costas e pouco dinheiro no bolso. Não sabia onde passaria a primeira noite, mas já tinha programa para o dia seguinte. “Amanhã cedo saio em busca de trabalho”, disse Serra.

Desembarque: José Augusto Serra deixou o Maranhão para tentar a sorte em Parauapebas

De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Parauapebas tem 150 mil habitantes. Nos próximos cinco anos, esse número deve dobrar. Para abrigar tanta gente será preciso construir pelo menos 50 mil casas. De olho nesse filão, foram lançados dois bairros planejados na cidade. O mais novo deles é da construtora e incorporadora Nova Carajás. Em outubro do ano passado, a empresa começou a vender o primeiro lote de 2,8 mil terrenos de um projeto que leva seu nome. Voltado para moradores de alta renda, ele oferece aos moradores escolas, bancos e centros comerciais numa área de 11 milhões de metros quadrados. Com 20 mil terrenos, bairro tem valor de venda de R$ 800 milhões. O outro se chama Cidade Jardim e é voltado para os migrantes como Serra. Dos oito mil terrenos colocados à venda desde o ano passado, apenas 10% não foram vendidos. “Tem gente de toda parte comprando terra aqui”, afirmou o corretor Amarildo Soares dos Reis.

A riqueza gerada pelos minérios encontrados na região não mudou a paisagem apenas em Parauapebas. Nos próximos meses, outros municípios do sudeste do Pará devem passar por uma grande transformação socioeconômica. O principal deles é Canaã dos Carajás, que já foi um distrito de Parauapebas e se emancipou há 17 anos. Desde que a Vale começou a extrair cobre, em 2002, a cidade saltou mais de duas mil posições no ranking dos municípios que mais evoluíram no PIB. A grande transformação, no entanto, acontecerá nos próximos meses, quando entrar em funcionamento uma mina de minério de ferro, a Serra Sul (ou S11D, como é chamada pelos técnicos da Vale). Com jazida de 11 bilhões de toneladas, é considerada a maior do mundo e vai dobrar a produção anual da mineradora. Não será surpresa se, em breve, Canaã dos Carajás estiver entre os municípios brasileiros que mais exportam.

O Farturão, de Carlos, começou como uma vendinha de hortaliças, cresceu e já emprega 145 funcionários

O Farturão, de Carlos, começou como uma vendinha de hortaliças, cresceu e já emprega 145 funcionários

Fonte: Gustavo Poloni, enviado especial IG a Parauapebas

7 comentários em “À sombra da Vale, cidade cresce mais do que a China

  1. Nome (obrigatório) Responder

    VALE, GENTILEZA INVESTIR NA PESSOA HUMANA DE PARAUAPEBAS, deixa de trazer gente para ocupar nossas vagas nos postos de trabalho.

  2. Bruno Monteiro Responder

    Prezados(as), perdoem o lapso contido da última postagem. A música a que me referia trata-se de “Comida”, de autoria de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, musicada pelos Titãs e não pelos Paralamas, cujo inteiro teor, para quem gosta de um bom Pop Rock, segue:
    “Bebida é água!
    Comida é pasto!
    Você tem sede de que?
    Você tem fome de que?…
    A gente não quer só comida
    A gente quer comida
    Diversão e arte
    A gente não quer só comida
    A gente quer saída
    Para qualquer parte…
    A gente não quer só comida
    A gente quer bebida
    Diversão, balé
    A gente não quer só comida
    A gente quer a vida
    Como a vida quer…
    Bebida é água!
    Comida é pasto!
    Você tem sede de que?
    Você tem fome de que?…
    A gente não quer só comer
    A gente quer comer
    E quer fazer amor
    A gente não quer só comer
    A gente quer prazer
    Prá aliviar a dor…
    A gente não quer
    Só dinheiro
    A gente quer dinheiro
    E felicidade
    A gente não quer
    Só dinheiro
    A gente quer inteiro
    E não pela metade…
    Bebida é água!
    Comida é pasto!
    Você tem sede de que?
    Você tem fome de que?…
    A gente não quer só comida
    A gente quer comida
    Diversão e arte
    A gente não quer só comida
    A gente quer saída
    Para qualquer parte…
    A gente não quer só comida
    A gente quer bebida
    Diversão, balé
    A gente não quer só comida
    A gente quer a vida
    Como a vida quer…
    A gente não quer só comer
    A gente quer comer
    E quer fazer amor
    A gente não quer só comer
    A gente quer prazer
    Prá aliviar a dor…
    A gente não quer
    Só dinheiro
    A gente quer dinheiro
    E felicidade
    A gente não quer
    Só dinheiro
    A gente quer inteiro
    E não pela metade…
    Diversão e arte
    Para qualquer parte
    Diversão, balé
    Como a vida quer
    Desejo, necessidade, vontade
    Necessidade, desejo, eh!
    Necessidade, vontade, eh!
    Necessidade…”

  3. Bruno Monteiro Responder

    DIVERSÃO E ARTE
    Fico contente em morar numa cidade tão próspera economicamente e, ao mesmo tempo, triste em ao olhar para a municipalidade e saber para onde ela caminha. A economia voltada exclusivamente para atividade de exploração mineral deixa o município de joelhos diante de um futuro certo e temido. Com mão-de-obra em sua maioria desqualificada garimpada nos rincões miseráveis, sobretudo, do nordeste brasileiro, Parauapebas vive um drama atual: o capital instala-se na cidade a procura de lucros e o Poder Público (estejamos falando do governo municipal, estadual ou federal) não dá conta da dinâmica social implementada no município. O asfalto é colocado numa base terraplanada sem sistema de esgoto(!), o trânsito é confuso, sem sinalização adequada, com semáforos que invariavelmente não funcionam, com agentes de trânsito também vitimados pela falta de organização total do trânsito na cidade, com vias estreitas, esburacadas, falta de água potável numa das maiores malhas hídricas do mundo(afinal estamos na amazônia), um sistema público de saúde que não atende os usuários com dignidade e, quanto à educação, vide o caos ocorrido ontem no trânsito no final da tarde por conta do movimento reivindicatório da classe de professores.
    O que mais nos deixa aflitos é o pessimismo que se instaura diante da inércia da Administração Pública. Não se vislumbra qualquer sinalização por parte dos poderes constituídos ações que venham a proporcioar um atendimento à contento da missão institucional do Estado(promoção o bem comum).
    Em que pese toda a prosperidade econômica vivida em Parauapebas, o seu futuro é o caos total, cujo prelúdio já se ouve e se vê, basta sair nas ruas e observar com atenção. Alguém já disse que nem só de pão vive o homem. Pois bem, apesar do respeito aos que desejam da vida apenas o paradoxo de não saber ao certo se se vive para ganhar dinheiro ou se se ganha dinheiro para viver, devemos querer mais da vida e de Parauapebas. Como bem disse, salvo engano, Hebert Viana, da banda Os Paralamas do Sucesso, “agente não quer só comida, agente quer comida, diversão e arte…”.
    Bruno Monteiro, Servidor Público Federal em Parauapebas.
    justus777m@hotmail.com

  4. Cabra Indignado Responder

    O guia turistico do autor do texto foi pago pela PMP e interessados, pois todos nós sabemos do outro lado da moeda. A grande maioria vem pra cá e não conhece essa dinheirama toda, só sabe que ela existe nas mãos de poucos, a maioria dos lotes são comprados por investidores endinheirados, a grande massa não tem nem como entrar num investimento desses. É fato que onde a Vale passa corre muito dinheiro, mas é fato também que pra grande maioria fica o caos social e o maior custo dessa grande porcariada que é a exploração mineral e social da Vale.

  5. Estudante Responder

    Parauapebas está às voltas com reportagens compradas. A Última foi da ISTOÉ Dinheiro, com o tema Parauapebas: Economia Acelerada, postada pelo blog, recentemente.

    Particularmente, não concordo quando o autor desta diz que estamos à sombra da Vale. A Vale se beneficia dos produtos encontrados no subsolo do Pará. Ah, claro, se não fosse ela, seria outra empresa mineradora. Porém, a riqueza é do Estado do Pará. O Pará é um dos Estado que mais contribui com receitas, ultimamente.

    A empresa Vale, sim, vive à sombra do Estado do Pará!

    E toda as palavras bonitas, tanto na reportagem da ISTOÉ Dinheiro e nessa, não refletem de fato a realidade dessa cidade. A cidade vive, sim, cheia de oportunistas que enchergam na cidade uma forma de enriquecer às custas do proletariado, que possui apenas a venda de sua força de trabalho para sobreviver.

    E, aí, vejam só, além de sobreviver com o mínimo, o operário ainda se vê às margens com sanguessugas que chegam na cidade, com sua influência coativa capitalista, para enriquecerem às custas de aluguéis exorbitantes e produtos de primeiras necessidades a preços de ouro.

    Mas a inteligência de quem lê essas matérias saberá distinguir e identificar exatamente o que escrevo, aqui. E digo ainda, jamais fará cara de paisagem para o assunto.

  6. Leitor Responder

    Acha bacana a empolgação pela construção do shopping aqui em Parauapebas. Mais não é verdade que este é o primeiro do sudeste. Tucuruí já tem shopping a alguns anos com 3 Salas de cinemas da rede Moviecom e tem a Visão de Belém como sua loja âncora…

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