Até o governo dá como certo que algum deputado de oposição dê voz de prisão ao líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, na sessão desta terça-feira (15), da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST na Câmara dos Deputados.
Após a Justiça negar um habeas corpus preventivo a Stédile, diferentemente do que ocorreu com o líder da Frente Nacional de Lutas, José Rainha, que esteve no colegiado no dia 3, o líder intelectual e principal nome do MST poder sair preso na sessão.
Uma reunião foi convocada, às pressas, na segunda-feira (14), e aconteceu no apartamento funcional do deputado João Daniel (PT-SE), reunindo deputados do PT e do PSOL para tratar do assunto.
O roteiro traçado é que Stédile apresente um contraponto ideológico, mostrar “que não deve nada”, procurando dialogar de forma didática com o público que vai assistir à sessão. No final de semana ele desafiou os deputados e disse que não tem medo da CPI do MST: “Estou preparado”.
Também na semana passada, integrantes da oposição na CPI do MST foram surpreendidos pela articulação do governo com o Centrão, que substituiu os deputados que garantiam a maioria nas votações de requerimentos e do relatório final que será apresentado.
Prisão
A CPI já fez a primeira ameaça de prisão durante o depoimento de José Rainha. Ele, inicialmente, negou que ter feito campanha política para a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP). O deputado Ricardo Salles (PL-SP) insistiu no questionamento. Ele disse que a fala poderia configurar falso testemunho e exibiu um vídeo em que o líder dos sem-terra agradeceu os votos dados à parlamentar. Após a apresentação, Rainha recuou e confirmou o apoio.
Relatório
O relator da CPI, deputado Ricardo Salles (PL-SP), já tem um rascunho do relatório final. Fonte ouvida pela retportagem do Blog do Zé Dudu adiantou que ele pretende mirar políticos do PT e do PSOL. Os parlamentares governistas também planejam apresentar um texto substitutivo o mais rapidamente possível como um contraponto ao material da oposição. Com isso, foi dada a largada numa corrida contra o tempo para ver quem apresenta primeiro o documento.
O documento do governo pode ser submetido à votação, mas dependerá da iniciativa do presidente, Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), fazer a abertura do procedimento — algo pouco provável de ocorrer, uma vez que o deputado é um notório bolsonarista.
O plano da inicial da oposição era apresentar o relatório nesta terça-feira (15), mas não há sinal de que isso aconteça. O grupo, porém, pretende manter os trabalhos até a próxima semana, quando planeja fazer diligências na região sul da Bahia.
Na semana passada, o governo recorreu ao Centrão para ter maioria no colegiado, que antes era composto majoritariamente por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O tema ainda está em disputa. Zucco organizou, com o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), Pedro Lupion (PP-PR), um encontro com líderes partidários, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e o vice-presidente, Marcos Pereira (Republicanos-SP), para que possa haver novas substituições de parlamentares menos alinhados ao governo.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.