O madeireiro Wesley Pádua de Oliveira, investigado como suspeito de liderar o grupo que atentou contra a vida de fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e ameaçou incendiar caminhão do Exército em Placas, no oeste do Pará, já respondia a três ações penais quando os atentados ocorreram, em julho deste ano.
As denúncias criminais foram ajuizadas pelo Ministério Público Federal (MPF) entre julho de 2018 e janeiro de 2019. Somadas as penas máximas previstas para os crimes citados em todas as ações, o acusado está sujeito a até 30 anos de prisão.
Nas ações, Oliveira, conhecido como Ceguinho, foi denunciado duas vezes por desmatamento ilegal, e ainda por manutenção de depósito ilegal de produtos florestais, por receptação qualificada, por queimada de florestas, por invasão de terras públicas (esbulho), por usurpação de patrimônio da União, e por furto qualificado.
Os crimes, segundo o MPF e o Ibama, foram cometidos na Terra Indígena Cachoeira Seca do Iriri, do povo Arara, localizada em Altamira, Placas e Uruará, e nos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDSs) Castanheira, Arthur Faleiro e Avelino Ribeiro, em Placas.
Prisão preventiva – Wesley Pádua de Oliveira está preso preventivamente por decisão da Justiça Federal decretada em setembro, quando mandados de prisão e de busca e apreensão pedidos pelo MPF em Santarém (PA) e autorizados pela Justiça Federal foram cumpridos pela Polícia Federal (PF) na operação Flamma e em outra operação realizada em Placas e em Santarém contra o grupo investigado pelos atentados e outros delitos. As operações contaram com apoio do MPF, da Força Nacional, do Exército e da Polícia Rodoviária Federal.
Os dados obtidos nessas operações, e outras informações que vêm sendo coletadas nas investigações, poderão dar origem a novos processos judiciais contra os suspeitos de planejar e executar os atentados em Placas.
Além das ações e investigações em andamento, o MPF instaurou duas outras investigações contra Wesley Pádua de Oliveira. Esses procedimentos acabaram sendo considerados de competência do Ministério Público do Estado, e foram remetidos para a Promotoria de Justiça em Uruará (PA).
Atentado ao Ibama – A tentativa de duplo homicídio qualificado contra a vida de servidores públicos e o atentado contra o patrimônio público do Ibama e do Exército ocorreram em Placas em 15 de julho.
Segundo depoimentos de servidores do Ibama, e registros de autuações, apesar de a madeireira de Wesley Pádua de Oliveira estar sob vários embargos da autarquia ambiental e de ter sido lacrada, no dia da fiscalização foi detectado que os lacres tinham sido rompidos e que a empresa estava funcionando normalmente.
Na madeireira houve um início de tensão e os fiscais foram acuados por um grupo que se encontrava na empresa. Os dois servidores decidiram ir buscar apoio do Exército. Ao sair da empresa, a viatura do Ibama foi perseguida pelo grupo, que utilizava motocicletas e um caminhão carregado com madeira. O caminhão era dirigido por Cristiano de Sousa Paiva, vulgo Metralha, já conhecido dos servidores do Ibama por recorrentemente liderar tumultos contra fiscalizações ambientais na região.
O caminhão emboscou o veículo do Ibama, fechando o caminho e impedindo a passagem. Em seguida, Metralha desceu da boleia, pegou galões de combustível e pneus velhos na carroceria do caminhão e passou a derramar o líquido no veículo da autarquia ambiental, que só não foi incendiado porque os fiscais conseguiram manobrá-lo rapidamente e fugir.
“Não é a primeira vez que tentam me matar. [Já sofri] Ameaças, [e] ameaças a filhos”, relatou à imprensa um dos servidores do Ibama atacados, que preferiu não se identificar.
Atentado ao Exército – Mesmo após o Ibama já ter conseguido apoio do Exército, o grupo da madeireira de Ceguinho não se intimidou. Segundo militares ouvidos nas investigações e informações do delegado da PF Gecivaldo Vasconcelos Ferreira à imprensa, por três vezes Metralha jogou o caminhão carregado de madeira para cima do caminhão do Exército em trânsito, na tentativa de fazer com que o veículo militar saísse de uma rodovia.
Metralha foi auxiliado por um comparsa, que dirigiu um carro de passeio em baixa velocidade em frente ao caminhão do Exército, para facilitar as investidas do caminhão carregado de madeira contra o veículo militar.
A equipe do Ibama e do Exército foram à delegacia da cidade. O grupo da madeireira voltou a segui-los, e cercou o caminhão do Exército em frente à delegacia, ameaçando atear fogo no veículo do Ibama e também no caminhão do Exército. Um dos ameaçadores chegou ao local com uma caminhonete com vários galões de combustível. Foi preciso que os militares engatilhassem suas armas para evitar que o grupo se aproximasse do caminhão do Exército.
Os servidores do Ibama permaneceram sitiados na delegacia das 11h às 23h, e só conseguiram deixar o local após uma negociação com uma comissão de moradores. Durante o dia, as pontes de madeira de duas saídas da cidade foram queimadas.
Metralha, o acusado de jogar combustível na viatura do Ibama e de tentar jogar o caminhão do Exército para fora de uma rodovia, foi alvo de uma das operações de cumprimento de mandados de prisão realizadas em setembro, mas não foi encontrado e segue foragido.
Processo nº 0004560-21.2018.4.01.3902 – 2ª Vara da Justiça Federal em Santarém (PA)
Processo nº 0002770-02.2018.4.01.3902 – 2ª Vara da Justiça Federal em Santarém (PA)
Processo nº 0000079-78.2019.4.01.3902 – 2ª Vara da Justiça Federal em Santarém (PA)
Com informações do MPF