Vejam vocês, tem muita gente que adora dourar a pílula e alardear que estamos navegando num mar de almirante. Temporariamente estamos, mas… temporariamente. Por isso eu achei muito bacana o argumento utilizado pelo prefeito de que não éramos ricos enquanto município; vivíamos numa situação confortável, mas que não tínhamos nenhuma garantia de que a situação perduraria num futuro próximo. Mesmo parecendo um tanto cruel, o tempo de vacas magras está logo ali na esquina.
O prefeito e outras pessoas que amam esse município, dentre os quais Faisal Salmen, não estão sendo profetas do caos ou arautos de um apocalipse iminente, ao contrário, apenas alertam para uma necessidade premente de que precisamos nos mexer, fazer o dever de casa, nos preparar para os tempos bicudos e não deitar eternamente em berço esplêndido como se o ferro, que graciosamente a natureza nos presenteou, fosse eterno.
Valmir Mariano tem essa consciência e não pra menos, ele conhece a realidade do município como poucos, afinal, por décadas atuou nos grandes projetos minerais da Vale e de outras mineradoras. Ele sabe que com a volúpia que a Vale avança sobre as reservas de ferro, aquilo que era para durar 300 anos, num cenário de 15 milhões de toneladas ano, cai drasticamente quando se registra uma produção de 130 milhões de toneladas por ano.
Com o andar da carruagem, não é exagero o senso comum de que temos uma vida útil como produtores de ferro de uns 30 anos, se tanto, vá lá, talvez raspando o fundo do tacho, como acontece com Itabira agora, uns 40, depois disso, c’est fini.
O que fazer, para não venhamos a ser um município de beira de estrada, um pária que vive às custas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), quando o encanto desaparecer e a carruagem virar abobora? Para uma situação como essa, infelizmente não há receita pronta, se houvesse bastaria dizer a palavra mágica, do tipo Shazam!!, ou abre-te Sésamo!, sei lá, qualquer coisa. Desafortunadamente, não é bem assim. Vamos ter que suar lágrimas de sangue e quem sabe lamentar os milhões de reais que foram jogados na lata do lixo em projetos irresponsáveis e sem sentido.
Nos próximos artigos falaremos mais disso, e vou tentar colocar no papel algumas ideias que trago comigo. Não sou economista e não tenho expertise em planejamento; sou apenas um jornalista juramentado, mas há situações que saltam aos olhos e só não vê quem não quer. Preparar o município para os anos vindouros não é apenas uma obrigação, deve ser uma obsessão de cada um de nós.
* – Marcel Nogueira é jornalista formado pela UFPA e atual secretário de Esportes do município de Parauapebas.
7 comentários em “Tempos bicudos à vista”
Vamos entender o processo em três pequenos passos:
1. Modelo Político – Nosso modelo político não nos permite eleger pessoas progressistas, no máximo conservadores e ainda reacionários. Não permite aprofundamento de mudança visto que quase sempre são eleitos os mesmos políticos, se as cabeças não mudam obviamente nada muda e, consequentemente estamos condenados a conviver com mais do mesmo.
2. Modelo Executivo – Concomitante ao modelo anterior, sem um programa inovador que ouse além das leis vigentes ou esforço herculiano, vamos tapar buracos em asfalto o resto da vida. Não temos suporte legal para inovações, como por exemplo: não há reserva de recurso municipal para investimentos em desenvolvimento em novas tecnologias ou mesmo aprender o que já está aí no primeiro mundo, assim dependeremos apenas de rodovias como citou o nosso amigo André Moraes. Temos minérios, terras e mão de obra, mas temos sempre que comprar de alguém de “fora”, somos totalmente dependentes dos outros restando no máximo ao executivo a manutenção de suas paredes. Sim há raríssimas exceções.
3. Modelo Econômico – Todo o entrave que não permite nosso trem andar chamasse banco. Programaticamente o sistema financeiro atua no Brasil como antítese de seu progresso. Este sistema ao longo de mais de 150 anos dominou todas as frentes importantes no país, desde as próprias regras, judiciário, legislativo, executivo e mais e pior a imprensa. Transformar o país na casa-da-mãe-joana é um projeto, nossa educação é um terrível projeto e sabemos disso.
Sabe aquele clichê de filme de faroeste em que você vê os arbustos resecados rolando ao sabor do vento pelo deserto?
se continuarem a trazer forasteiros para o governo, principalmente as empresas de fora para superfaturar as obras, já estamos condenados, sem chance de defesa!
uma coisa eu sei Parauapebas teria que ter estradas passando por ela e não a 67 KM de distancia
MARCEL, QUANDO ACABAR A FASE DE IMPLANTAÇÃO QUE ESTAMOS VIVENDO, O QUE SERÁ DE TANTA MÃO DE OBRA E O QUE DIZER DE TANDO LOTE? TANTO CRESCIMENTO, PARA QUE ? O PEBA VAI ENTRAR EM CRISE E NÃO DEMORA, POIS QUANDO O COMERCIO DEPENDER SÓ DA VALE, A LOJA HOJE QUE TEM 20 FUNCIONÁRIOS AMANHÃ VAI TER 3, 4 E OLHE LÁ, POIS A VALE NÃO FAZ QUESTÃO NENHUMA DE MOVIMENTAR O COMERCIO LOCAL.
Muito bom Marcel. Normalmente este assunto era abordado em periodo de campanhas eleitorais municipais. É bom que dissecamos a materia incansavelmente, até que chegue a um termo.
Sabemos que os Noruegueses anteciparam o problema do fim das reservas de petróleo em seu país, e criaram um fundo para poupar o dinheiro da produção, resguardando o futuro das próximas gerações. Esse fundo já é possuidor de um saldo de bilhões de dólares. Mas é na Noruega. Lá é possível. Mesmo que Sr. Valmir tomasse esta iniciativa, aí virão outros prefeitos e o fundo irá parar no fundo do poço, literalmente.
bem lembrado,pena aqui na terra “Brasilis”não termos essa opção,falta-nos gestores públicos comprometidos com o bem comum…temos também o complicador povo,despreparado,mal educado,corruptível,mercador do próprio voto,sabedor dos seus direitos e esquece seus deveres,enfim,falta-nos o principal…gente!!!
parabéns sr. Marcel pela lucidez que trata o tema,são ponderações como as suas que podem fazer os gestores públicos compromissados com nossa região pensarem além,temos exemplos no mundo que podem nos dar um horizonte,guardadas as devidas proporções,é o que os príncipes do petróleo dos emirados árabes fazem,estão diversificando a economia para quando o “ouro negro”findar.
resta-nos torcer para que nossos homens públicos tenham a visão de futuro como os governantes da terra dos camelos.
nessa questão não podemos esperar o amanhã chegar para agir,o amanhã começa agora ou melhor começou ontem!
lucidez,determinação,planejamento e ação podem evitar o caos num futuro próximo.
um abraço