Protestos do prefeito de Marabá, Sebastião Miranda Filho (PSD), Tião Miranda, e do governador do Estado, Helder Barbalho (MDB), marcaram na manhã desta terça-feira, 5 de abril, a assinatura da Ordem de Serviço para a instalação da planta de Tecnored, no Distrito Industrial local.
Ao tomar a palavra, Tião Miranda fez uma rápida retrospectiva da atuação da Vale em Marabá, e ressaltou que a mineradora tem uma dívida muito grande para com a região, afirmando que a planta de Tecnored não paga nem 5% desse passivo.
Falou das promessas da Vale para Marabá, como a Prometal e a Alpa (Aços Laminados do Pará), que nunca se concretizaram. Lembrou que, por ocasião do anúncio da Alpa, vieram à cidade o governador do Estado, o presidente da República e o presidente da Vale, mas o que ficou foi só o prejuízo à cidade.
Lembrou que uma área de 10 mil hectares foi desapropriada pelo governo do Estado, para o projeto, mas esse espaço hoje está sem utilidade alguma. E disse que ele mesmo ficou com um trauma causado pela promessa não cumprida da Alpa, que resultou em muitos prejuízos a empresários locais que se prepararam para receber o projeto.
Tião Miranda disse que está na hora da Vale “virar essa página”, verticalizar o que é extraído aqui e que só sai, nada deixa, quando há tanto desemprego. “Me deixa triste ver o trem passando, passando, passando. É preciso, verticalizar, empregar a sociedade, tá na hora”, disse, encerrando com um desabafo: “O Pará tem índices alarmantes de pobreza, nada é pior. Não pode só tirar o minério e levar. Tira, leva, vende e não gera benefícios ao Pará”.
Profunda desconfiança
O governador Helder Barbalho reforçou a fala de Tião Miranda, referindo-se ao passivo histórico da Vale para com a região. “É muito importante essa manifestação pública, para que a Vale possa compreender que, talvez, a exploração [mineral] finita seja duradoura, mas a paciência finita do povo do Pará já se exauriu”, destacou.
Disse que não é mais possível o convívio e a relação com a atividade da mineração somente extrativista. “Leve aos acionistas da Vale, que a paciência do Estado do Pará já se encerrou. Nós temos consciência da importância da Vale para nós, mas esta mesma consciência nos dá convicção do que nós significamos para a Vale. Nós queremos apenas que a Vale compreenda, e isso vale também para todas as outras atividades do nosso Estado, que nós queremos ganhar juntos. Fundamentalmente emprego e renda, tributo é algo secundário porque, quando você gera emprego e faz a cadeia produtiva, gira a economia e as condições de arrecadação do Estado se resolvem”, disse o governador, dirigindo-se ao presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.
Helder disse que hoje se vive na região um processo de profunda desconfiança pelo que aconteceu no passado. “Queremos uma solução. Que possamos elevar a verticalização da produção aqui na região”.
“Se a Vale cumprir os compromissos com o nosso Estado, ela terá no Pará tapete vermelho e o melhor ambiente institucional possível”, disse Helder, advertindo que se, em vez disso, a Vale continuar acreditando que é possível utilizar as riquezas do Estado, imaginando que o Pará só serve de almoxarifado para a extração mineral e investir em Minas Gerais a até em outros países, a relação será diferente.
Disse não ter nenhuma dúvida de que o ambiente será extremamente conflituoso até o tempo que “ou nós conseguimos, a fórceps, arrancar da Vale o que ela pode nos dar ou nós vamos inviabilizar o ambiente institucional que deve permear os envolvidos”.
“Não quero aqui, de maneira alguma, até pela responsabilidade do cargo que eu exerço, fazer disso uma manifestação de hostilidade, mas é muito importante que vocês possam levar daqui, de que, ao tempo em que festejamos, no dia do aniversario de Marabá, este investimento, nós alertamos, isto é parte minoritária de um compromisso que está nas mãos da Vale”, afirmou o governador.
Por fim, Helder disse desejar que a próxima vinda do presidente da Vale a Marabá seja para anunciar a tão sonhada siderúrgica com prazo de início ou um modelo que possa efetivamente sinalizar para a sociedade o que haverá de acontecer. “Porque aí nós estaremos num ambiente que será música para os nossos ouvidos, estaremos todos a festejar os interesses e as conveniências da Vale, mas, acima de tudo, festejar que eles são similares aos interesses e às conveniências do nosso Estado”.
Tecnored
A usina de Tecnored terá a capacidade de produção de até 500 mil toneladas de ferro gusa. O investimento é de mais de R$ 1,6 bilhão.
De acordo com a Vale, o início das operações está previsto para 2025. A meta da mineradora é operar a planta com 100% de biomassa até 2030. “A implantação da Tecnored representa um passo importante na transformação da mineração, contribuindo para tornar a cadeia do processo cada vez mais sustentável. O projeto Tecnored é de grande importância para a Vale e para a região e trará ganhos de competitividade, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento para a região”, afirma o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo
O projeto, que será implantado no Distrito Industrial do município, permitirá a produção de ferro gusa com baixa emissão de carbono (gusa verde), e deverá gerar, na fase de implantação, 2,6 mil empregos diretos e indiretos e 400 postos de trabalho na fase operacional. Ao longo de toda a sua vida útil, o projeto tem a expectativa de gerar R$ 15,2 milhões em salários por ano e R$ 350 milhões em exportações anualmente.
De acordo com a mineradora, a iniciativa conta com uma tecnologia inovadora que permitirá a produção de ferro-gusa (usado na fabricação do aço) a partir da substituição de combustível fóssil por biomassa, reduzindo significativamente as emissões de carbono. Desenvolvida ao longo dos últimos 35 anos, a tecnologia permite, ainda, a eliminação de etapas anteriores à produção do aço na usina siderúrgica, proporcionando a redução na emissão de gases do efeito estufa.
Leonardo Caputo, CEO da Tecnored, disse que é uma tecnologia inovadora e anunciou que a realização dos serviços de supressão e terraplenagem devem seguir até o início de 2023, empregando 240 pessoas. “É um passo concreto na criação de uma nova cadeia na indústria de mineração, cada vez mais sustentável. É um orgulho fazer parte desse projeto inovador, e com forte impacto positivo para a sociedade e ao meio-ambiente”, comemorou.
Por Eleutério Gomes – de Marabá
1 comentário em “Tião Miranda e Helder Barbalho cobram do presidente da Vale verticalização e geração de empregos na região”
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