A queda da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga os estados do Tocantins e do Maranhão, completa duas semanas neste domingo (5). São 14 dias de luto para as famílias de 14 vítimas localizadas e angústias aos parentes de três pessoas que ainda estão desaparecidas nas águas do Rio Tocantins.
O desabamento da ponte aconteceu na tarde do dia 22 de dezembro de 2024. Pouco antes das 15h, o vão central da estrutura, que tinha mais de 60 anos, se rompeu, levando dez veículos e seus ocupantes junto aos escombros. Ao todo, 18 pessoas foram vítimas do colapso da ponte, sendo que apenas um homem conseguiu sobreviver.
Antes da ponte cair, moradores dos dois estados já alertavam as autoridades sobre a situação da estrutura. A queda aconteceu no exato momento em que um vereador de Aguiarnópolis, Elias Júnior (Republicanos), filmava o local para denunciar os problemas da ponte que liga a cidade a Estreito, no Maranhão.
Ela servia de travessia entre os estados e para atender o corredor Belém-Brasília desde a década de 1960, quando foi inaugurada. Segundo documentos de inspeção feita em 2019 pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), houve uma recuperação estrutural entre os anos de 1998 e 2000, mas passados mais de 20 anos, ainda havia muito o que fazer para torná-la segura. A Polícia Federal e órgãos ministeriais estão apurando as causas do desmoronamento.
Ao longo das últimas duas semanas, os trabalhos da Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros Militar, Defesa Civil, polícias Civil e Militar dos dois estados e outros órgãos se concentraram no resgate às vítimas que afundaram junto com os veículos.
Para isso, foi preciso empregar o trabalho de mergulhadores e equipamentos de última geração para analisar a situação dos veículos que caíram no Rio Tocantins. Ao todo, são quatro caminhões, duas caminhonetes, um carro e três motos.
Primeiras preocupações
Na primeira semana, a preocupação se formou em torno das cargas que estavam sendo carregadas pelos caminhões: dois com 70 toneladas de ácido sulfúrico e um com 22 mil litros de agrotóxicos. Foi preciso suspender os trabalhos dos mergulhadores nos primeiros dias para análise da situação da água e descartar ou afirmar possível vazamento das cargas, que comprometeria ainda o meio ambiente.
Até que as equipes fossem autorizadas a chegar ao fundo do rio, os corpos de algumas vítimas acabaram boiando, permitindo assim o resgate na superfície.
No dia 25 de dezembro, equipes da Secretaria do Meio Ambiente do Maranhão e da Marinha informaram que não houve contaminação na água, e as buscas com mergulhadores foram retomadas.
Dados os riscos perto dos pilares da ponte que ainda ficaram em pé, foi preciso instalar equipamentos para medir possíveis abalos na estrutura e garantir a segurança dos mergulhadores.
Profundidade dificulta
O ponto do Rio Tocantins por onde a ponte JK atravessava tem cerca de 48 metros de profundidade. Além desse fator, os escombros acabaram dificultando as buscas pelos desaparecidos.
Para os trabalhos, foi convocada uma força-tarefa organizada com os mergulhadores e utilizados drones e equipamentos subaquáticos da Polícia Federal, da Transpetro/Petrobras e da Marinha do Brasil. Também integram as equipes 87 militares da Marinha, além dos 20 militares que participam remotamente, em Belém (PA), do planejamento e da logística da operação.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) organizou profissionais papiloscopistas e legistas na força tarefa, que trabalham na identificação e liberação dos corpos.
Conforme a Marinha, foram disponibilizados veículos subaquáticos operados à distância (ROVs), que permitem a realização de investigações em ambientes aquáticos de difícil acesso, garantindo segurança tanto para as equipes de mergulho quanto para as operações de resgate.
Equipados com câmeras e iluminação, os robôs ROVs possibilitam visualizar e mapear o fundo do rio, identificando possíveis vítimas e objetos de interesse sem a necessidade da presença de mergulhadores, conforme explicou o almirante.
Trânsito interrompido, balsa e alternativas
Sem a ligação entre o Tocantins e Maranhão, nas últimas semanas os motoristas que precisariam passar pela ponte estão tendo que optar por desvios em outras cidades da região, o que pode aumentar o trajeto das viagens. A situação permanecerá até o início das operações da balsa no Rio Tocantins, promessa do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
A travessia entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA) por meio de balsa teve o início anunciado duas vezes pelo governo estadual. Mas segundo a Marinha do Brasil, a empresa responsável, a Pipes Navegações, atrasou a entrega da documentação necessária e também houve atrasos nas construções de acessos às margens.
Veja quem são as vítimas
- Lorranny Sidrone de Jesus, 11 anos;
- Kecio Francisco Santos Lopes, 42 anos;
- Andreia Maria de Souza, 45 anos;
- Lorena Ribeiro Rodrigues, 25 anos;
- Anísio Padilha Soares, 43 anos;
- Silvana dos Santos Rocha Soares, 53 anos;
- Elisangela Santos das Chagas, 50 anos;
- Ailson Gomes Carneiro, 57 anos;
- Rosimarina da Silva Carvalho 48 anos;
- Cássia de Sousa Tavares, 34 anos;
- Cecília Tavares Rodrigues, 3 anos;
- Beroaldo dos Santos, 56 anos.
Nas manhãs de sexta (3) e sábado (4), dois corpos foram encontrados no Rio Tocantins, mas ainda não foram identificados.
(Fontes: G1/MA e TV Mirante)