Brasília – Em comunicado distribuído por seus advogados, o bilionário sul-africano Elon Musk, considerado o homem mais rico do mundo, desistiu de comprar a rede social Twitter, três meses depois de ter feito uma oferta de US$ 44 bilhões (R$ 231,44 bilhões) pelo negócio. Desde então, as ações da empresa não param de cair na Nasdaq, a bolsa que reúne as empresas de tecnologia nos Estados Unidos.
Um outro documento, enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, o órgão regulador do mercado americano), Musk afirma que a empresa “parece ter fornecido informações falsas e enganosas” e “não cumpriu com suas obrigações contratuais”.
O Twitter avisou que lutará na Justiça para que Musk cumpra o acordo de compra. “O Conselho do Twitter está comprometido em fechar a transação no preço e nos termos acordados com Musk e planeja entrar com uma ação legal para fazer cumprir o acordo de fusão”, disse Bret Taylor, presidente do conselho, em um tuíte.
Fontes que estão perto das negociações preveem uma longa e cara batalha judicial nos tribunais, porque o board (comando da empresa) do Twitter disse que a desvalorização de suas ações chega ao bilhões de dólares. Mas, não é só. Há uma nuvem de desconfiança quanto às práticas adotadas pela rede social. Fala-se na existência de 10% do total das contas serem spam, o que é proibido pela legislação norte americana.
Motivos
O motivo da desistência, segundo o documento, seriam as contas falsas ou de bots (robôs) na plataforma. O bilionário vinha criticando o Twitter nos últimos dois meses, afirmando que a quantidade de robôs era muito superior ao informado pela plataforma, segundo a qual seriam menos de 5% do total. Na quinta-feira (7), a plataforma afirmou que remove cerca de 1 milhão de contas falsas por dia.
Perda de valor
Quando a desistência, revelada primeiro pelo jornal The Washington Post, veio a público, as ações do Twitter chegaram a cair 6,7% nas negociações posteriores ao fechamento do mercado. No horário regular do pregão, os papéis recuaram 5,10%, a US$ 36,81 — 47% abaixo dos US$ 54,20 oferecidos por Musk em abril.
Essa queda no preço das ações e a dificuldade em ter o controle absoluto dentro do Twitter são algumas das razões apontadas por especialistas para a desistência de Musk. As contas falsas seriam uma desculpa. Andre Gildin, sócio da RKKG Consultoria e especialista em tecnologia e telecomunicações, cita ainda o recuo no valor dos papéis da montadora Tesla, a principal empresa do bilionário.
“As ações da Tesla caíram 30% nos últimos meses. O momento das empresas de tecnologia no mercado não é favorável. Então, na prática, ele estaria pagando muito mais do que a empresa está valendo. Além disso, tem a pressão dos acionistas da própria Tesla, já que Musk poderia reduzir o foco sobre a empresa”, explica Gildin.
Ele avalia ainda que Musk percebeu que não teria total liberdade no Twitter, já que os órgãos reguladores têm pressionado por limites. O bilionário defendia liberdade total na plataforma, o que gerou temor de proliferação de fake news e mensagens de ódio.
“Ao perceber que teria certos limites para redesenhar o Twitter, Musk começou a questionar informações públicas como o uso de contas falsas e de robôs. Alegou que não tinha recebido todos os números da plataforma”, diz Gildin.
Para advogado ambientados com negócios que envolvem novos negócios, como startups e redes sociais, as negociações com o Twitter já nasceram envoltas em erros.
Num primeiro momento, Elon Musk demorou a informar à SEC que havia comprado uma participação relevante no Twitter, próxima de 10% do capital da empresa.
“Depois houve mudança do cenário econômico. O Federal Reserve (o banco central dos EUA) subiu os juros, e o dinheiro que era abundante secou. Era previsível que os juros iriam subir, mas, como ele é impulsivo, seguiu em frente. Foi um erro grosseiro. E agora inventa desculpas de contas falsas”, disseram especialistas.
Qual o futuro do Twitter?
Sem Musk, analistas veem o futuro do Twitter com preocupação. Nos últimos meses a rede social mergulhou no caos, com a saída de diversos funcionários.
Para Gildin, o Twitter poderá ficar ainda mais para trás na disputa acirrada pela atenção dos usuários, hoje mais voltada para plataformas de vídeos curtos, como TikTok e Instagram.
“O Twitter nunca conseguiu encontrar um caminho virtuoso. As contas fantasmas também trouxeram mais dúvidas ao mercado. Além disso, com o avanço do conceito do metaverso e da Web 3.0, impulsionados pelo 5G, as plataformas de mensagerias vão ser trocadas pelas plataformas de mensagens dentro dos games e do metaverso”, estima Gildin.
Ele cita como exemplo o Roblox, muito usado por adolescentes. Em 2021, a plataforma registrou 2,5 bilhões de mensagens diárias, contra cerca de 500 milhões de tuítes diários no Twitter: isso corrobora o fato de que, num futuro não muito distante o Twitter perde, sem Elon Musk, a batalha pela Web 3.0 e o metaverso.
Daniel Ives, analista sênior da Wedbush Securities, vê um cenário de “desastre” para o Twitter e projeta que, na segunda-feira (11/7), as ações podem ficar entre US$ 25 e US$ 30:
“É um cenário de desastre para o Twitter e seu conselho, pois agora a empresa lutará contra Musk em uma longa batalha judicial para recuperar o acordo, ou a taxa de rompimento, de US$ 1 bilhão no mínimo.”
Ives se refere à cláusula segundo a qual, em caso de desistência, a parte que quebrasse o acordo pagaria uma rescisão de US$ 1 bilhão de dólares.
Curiosamente, Musk, que usa o Twitter para falar de tudo o que faz, na sexta-feira (8) não se manifestou na plataforma, provavelmente orientados por seus advogados.
Como Elon Musk se tornou o homem mais rico do mundo
O primeiro negócio de Musk foi a Zip2, empresa de software web que fundou com seu irmão Kimbal e com o sócio Greg Kouri. A companhia foi vendida em 1999 por US$ 305 milhões para a Compaq Computer.
Musk co-fundou a X.com em 1999, empresa de pagamento de serviços financeiros on-line e de e-mail. O negócio se fundiu com a Confinity, uma instituição de operações financeiras. A fusão entre as duas companhias deu origem ao Paypal, depois vendido para o Ebay por US$ 1,5 bilhão em 2002.
Ainda com 31 anos, Elon Musk já acumulava um patrimônio de US$ 165 milhões. Em 2022, o empreendedor investiu US$ 100 milhões na criação da Space Exploration Technologies (a SpaceX), projeto voltado a “espalhar a civilização humana pelo espaço” (UOL, 2022).
Além disso, o sul-africano também foi cofundador da Tesla, empresa que fabrica carros elétricos, e que quase foi a falência em 2008, o que não ocorreu devido a um empréstimo de US$ 456 milhões do governo estadunidense. Posteriormente, a Tesla tornou-se “a primeira montadora americana a ter suas ações negociadas na bolsa desde a Ford, em 1956” (UOL, 2022).
Qual a fortuna do Elon Musk?
De acordo com o 36º ranking anual da revista Forbes das pessoas mais ricas do planeta de 2022, o executivo Elon Musk não apenas está na lista das 10 pessoas mais ricas do mundo, como ocupa o primeiríssimo lugar da lista.
Assumindo a liderança no ranking pela primeira vez, o dono da Tesla e da Space X tem uma fortuna avaliada em US$ 219 bilhões (R$ 1 trilhão), tendo tido um ganho de “US$ 68 bilhões em um ano, após salto de 33% nas ações da Tesla” (UOL, 2022). Ou seja, atualmente, Elon Musk é o homem mais rico do mundo.
Quais são as empresas do Elon Musk?
Elon Musk é reconhecido pela criação e participação nas mais diversas empresas, relacionadas a diferentes produtos. Conheça as empresas do empreendedor:
Zip2: empresa de produção de conteúdo para jornais. Após sua criação, foi vendida por valor milionário à Compaq.
PayPal e X.com: um dos primeiros empreendimentos a utilizar o conceito de “banco digital”, inovando em suas funcionalidades. Musk “era dono de quase 12% do negócio quando, em 2003, foi vendido por 1,5 bilhões de dólares ao eBay”.
SpaceX: empresa voltada a temas aeroespaciais e, entre as empresas de grupo privado, foi a primeira a mandar uma nave para embarque na Estação Espacial Internacional – EEI.
Starlink: projeto voltado à implementação de satélites de acesso à internet de alta qualidade ao redor do globo.
Tesla: esse empreendimento é de caráter automobilístico, tem como objetivo a criação de veículos que usam apenas energia limpa para funcionar.
SolarCity: “subsidiária de energia limpa dentro da Tesla Inc”, a empresa trabalha com a fabricação e instalação de painéis solares, bem como o armazenamento de energia através da Tesla, utilizando baterias de alta performance e tecnológicas.
Hyperloop: “desenvolvido entre a Tesla e a SpaceX (duas empresas em que Elon Musk está presente) e que pretende criar um meio de transporte que possa viajar longas distâncias livre de resistência ao ar ou atrito”, permitiria, portanto, um deslocamento em velocidades nunca antes presenciadas.
Gigafactory: também subsidiária dentro da Tesla, é encarregada por confeccionar e fornecer baterias elétricas para os carros.
OpenAI: é uma empresa que trabalha com pesquisas no campo da inteligência artificial e em que Elon Musk atua.
Neuralink: Musk atua nessa empresa que desenvolve pesquisas na área da neurotecnologia.
The Boring Company: destinada à área de infraestrutura.
Fonte: Com Bloomberg e agências internacionais
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.