Pela primeira vez na história de Parauapebas, um artista plástico da terra irá expor em Paris bem pertinho ao maior e mais famoso museu do mundo. E o artista vai não porque escolheu ir, mas porque, de tão especial, ele foi selecionado em meio a centenas de talentos brasileiros para mostrar o seu trabalho no Salão Internacional de Arte Contemporânea no Carrousel Du Louvre, localizado entre o Museu de Louvre e o Jardim das Tulherias, abaixo da pirâmide invertida do Louvre.
A exposição será em outubro deste ano. E lá, em meio a obras de artistas de todo o planeta, estará a de Sansão Antcorpus, nascido com o nome de Francisco Pereira da Silva há 34 anos, em Parauapebas, quando a cidade ainda pertencia a Marabá. Desde o início de 2018, ele se encontra em Dublin, capital da Irlanda, para aperfeiçoar a sua técnica e divulgar o seu trabalho. Sansão é especialista em desenho hiper-realista, técnica também chamada de super-realismo, que sempre usa fotografia como modelo para a obra.
Para fortalecer ainda mais a produção artística em Parauapebas e, ao mesmo tempo, dar aquela força para Sansão, o Coletivo Confraria das Artes e Letras realizará o evento “Do Pebas a Paris – Feira Beneficente de Arte”, a fim de angariar fundos com vista a incentivar e valorizar a arte e a cultura do município.
Será na sexta-feira, 22, e no sábado, 23, no Centro de Desenvolvimento Cultural (CDC), com exposição de obras e artesanato, leilão de obras de artistas locais, apresentações culturais e musicais, rodas de conversa e muito mais. O evento tem o apoio da Prefeitura de Parauapebas, por meio da Secult, porém muito ainda precisa ser feito no município para o real fomento da cultura.
A confraria é formada por artistas, produtores e ativistas culturais de Parauapebas decididos a mostrar que o município não é rico apenas em minérios. “Engana-se quem pensa assim. Nossa cidade respira arte e abriga talentos que gritam diariamente por incentivo, reúne artistas renomados que muitas vezes não são valorizados e então tentam, desta forma, buscar apoio em outra cidade ou mesmo países, como fez o jovem artista Sansão Antcorpus”, diz o texto da confraria, lido pelo presidente da Câmara Municipal de Parauapebas, vereador Luiz Castilho (Pros), dia 11 deste mês, durante a apresentação da nova turma de alunos da Escola de Música Maestro Waldemar Henrique.
Talento e perseverança
Para o chefe do Legislativo municipal, Sansão é uma prova irrefutável de que a arte transforma positivamente a vida das pessoas. De família de baixa renda, Sansão começou sua formação artística no Centro Educacional da Criança e do Adolescente de Parauapebas (Cecap), hoje o Projeto Pipa. E quem começou orientando aquele garoto foi o professor e tutor Afonso Camargo.
Os dois são amigos até hoje e não perdem o contato. Como não poderia ser diferente, o mestre está “extremamente feliz, satisfeito, completo” por ver o aluno alçar voo tão alto. “Sansão se destacou porque ele perseverou, ele acreditou no seu potencial. Ele não ficou preso somente a uma técnica. Ele bebeu de todas as fontes. Claro que nossa participação no projeto Cecap da época foi de suma importância porque abriu oportunidades, despertou talentos, como é o caso dele, e de outros que também hoje trabalham com o desenho, com a arte ou que desempenham um papel similar a essa atividade”, diz Afonso Camargo.
De aluno, Sansão passou a ser também tutor de arte. Foram seis anos transferindo conhecimento para crianças e adolescentes. Afonso Camargo conta que o artista desenvolveu uma técnica muito ao estilo dele, de incrível sensibilidade. “O desenho hiper-realista é uma técnica muito apurada, difícil pelo fato de a pessoa ter que ter equilíbrio, conhecimento muito grande de proporções, anatomia humana, expressividade. E ele (Sansão) desenvolveu tudo isso”, orgulha-se o mestre.
O resultado de tanta dedicação e estudo veio com a seleção para expor no Louvre. “É como se o artista marcasse um gol de ouro, é como se fossem as olimpíadas, uma Copa do Mundo para o artista estar num espaço que está hoje fazendo essas exposições”, compara o professor, não sem antes ressaltar que antes de ser convidado para a exposição Sansão já vinha sendo reconhecido pelo seu trabalho.
Mais valor à cultura
Com o valor dado à arte de Sansão Antcorpus por agenciadores de fora do Estado, os artistas de Parauapebas esperam que tanto o governo municipal quanto o empresariado voltem os olhos para a produção artística e cultural do município, sempre relegada a últimos planos. “Precisamos investir mais na nossa produção cultural; precisamos incentivar nossas crianças; precisamos dar cabo da Lei de Incentivo à Cultura; precisamos que o empresariado aposte nas pessoas daqui”, sugere Afonso Camargo, que cita artistas que se mudaram de Parauapebas por falta de incentivo.
Enquanto não recebe o esperado impulso, a confraria decidiu criar uma escola de artes plásticas por acreditar nos valores da terra. “Já temos algo desenhado em relação a isso. Para cuidar para que no futuro tenhamos bons produtores culturais, em que essa escola seja vista como referencial”, projeta o mestre.
Convite à população
Afonso Camargo explica que a feira “Do Pebas a Paris” se propõe a angariar recursos também para Sansão Antcorpus porque, na capital francesa, ele vai ter gastos com estadia, alimentação e até mesmo com transporte de segurança da obra que irá expor. E tudo em Euro, que até esta terça-feira estava em R$ 4,30. “Tudo isso é o artista quem gasta. E Parauapebas obviamente vai ajudá-lo. Pra isso, nós contamos com o apoio da nossa comunidade, da nossa sociedade, da nossa Parauapebas”, convida o professor.
“Do Pebas a Paris”, diz Camargo, foi pensada também em defesa de Sansão, para que o artista se sinta abraçado e motivado pela população de Parauapebas. “Os artistas de Parauapebas se reuniram numa confraria em defesa do Sansão, em prol dele. Vamos ter a possibilidade de estar com as vendas de produto no CDC, com o nosso leilão de obras artísticas que estarão lá. Estamos fazendo de tudo para que isso seja feito dentro de uma responsabilidade, é claro, mas precisamos da presença de todos”.