Brasília – Com menos de 5% das intenções de votos, de acordo com os números das últimas pesquisas de opinião pública, lideranças nacionais do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) temem que a insistência do governador de São Paulo João Doria em concorrer à presidência da República como representante da chamada “terceira via”, cause mais danos do que benefícios à legenda. Essas lideranças começam a costurar alternativas. Fontes ouvidas pela reportagem acreditam que os números de Doria possam contaminar as candidaturas regionais e consequente diminuição do tamanho de sua bancada no Congresso Nacional.
“O partido corre o risco de ter o pior resultado eleitoral desde a sua fundação”, disse uma das fontes. A sigla ocupa apenas a 7ª colocação entre os maiores partidos na Câmara dos Deputados.
No Senado, a posição também não é de protagonista. O MDB lidera com 16 senadores; em segundo lugar está o PSD, com 11 parlamentares; a terceira posição é ocupada pelo Podemos, com 9 senadores; dividem o quarto lugar PT, PP e PL, com 7 senadores cada um; o PSDB amarga a 5ª posição, com seis senadores; o DEM tem 5, em 6º lugar; o Cidadania, PDT e PROS, tem 3 senadores cada; o PSL tem 2 senadores, mas com a fusão com o DEM passará a somar mais 5, e o União Brasil, que nasceu semana passada, terá 7 senadores e ocupará uma posição como 4ª maior bancada; o REDE e o Republicanos tem cada um apenas um senador; e com a saída do senador Zequinha Marinho (PA) para o PL, o PSC fica sem representação no Senado.
Federação
Em meio a divisões internas e questionamentos sobre a candidatura presidencial de João Doria, o PSDB entra nas eleições deste ano enfraquecido e esfacelado por alas antagônicas também nas disputas estaduais. Nos tempos áureos, quando rivalizava com o PT no plano nacional, os tucanos já chegaram a eleger oito governadores, em 2010. O cenário agora é diferente. A legenda tem sido obrigada a lidar com a saída de lideranças regionais, e são relatadas até dificuldades para montar chapas de candidatos a deputado federal por causa do fim das coligações nas eleições proporcionais.
As negociações para participar de uma federação só avançaram com o MDB e com o Cidadania, mas são tantos os problemas regionais que as conversas podem dar em nada. Por exemplo, o partido terá que abrir mão do nome de João Doria à presidência, em favor da senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do partido caso seja selada a federação com o MDB. A federação não permite mais do que um nome para concorrer em cargo majoritário, e como o MDB tem a maior bancada, jamais vai abrir mão para ninguém de oferecer ao eleitor um nome puro-sangue de seus quadros.
O PSDB projeta que terá oito candidatos próprios nos estados este ano, quatro a menos do que os 12 de 2018. Além disso, os nomes que representarão a legenda no pleito de outubro não estão completamente decididos. Há indefinição, por exemplo, no Rio Grande do Sul. Existe ainda outro fator no horizonte: caso seja formada a federação com o Cidadania, em estágio avançado de negociação, podem surgir novos impasses.
Doria deve ficar sem um palanque exclusivo em dois dos três maiores estados do país. Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, os tucanos caminham para apoiar a reeleição de Romeu Zema (Novo), também disputado por Sergio Moro (Podemos), Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Felipe d’Ávila (Novo). No Rio, terceiro estado com mais eleitores, a situação é parecida. O PSDB deve participar do projeto de reeleição de Cláudio Castro (PL), candidato do partido de Bolsonaro. Os tucanos têm a secretaria de Infraestrura e Obras.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral e terra de Doria, o vice-governador Rodrigo Garcia, indicado para concorrer, ainda sofre com o desconhecimento por ser estreante em disputas majoritárias. Em dezembro, Garcia dividia a quarta posição na pesquisa Datafolha com 6% ou 8%, a depender do cenário. O desempenho fica aquém dos últimos candidatos do PSDB no estado, governado pelo partido há 26 anos. O vice-governador conta com a força da máquina para reverter o quadro, mas poderá sofrer com a alta rejeição a Doria. Segundo o Datafolha, 60% dos paulistas reprovam o governo de João Doria.
Mudança de planos
No Rio Grande do Sul, governado por Eduardo Leite, o partido também enfrenta problemas para manter o comando do Executivo. A ideia inicial era lançar o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, mas ele enfrentou resistência de parte das lideranças tucanas. Diante do cenário, Leite passou a ser cobrado para quebrar uma promessa de campanha e disputar a reeleição. O gaúcho também tem sido sondado para migrar para o PSD e concorrer à Presidência. Ele deve definir o destino no mês que vem.
No Mato Grosso do Sul, o terceiro dos estados governados pelos tucanos, o partido sofreu uma baixa importante. Rose Modesto, que em 2018 foi a deputada federal mais votada no estado, anunciou a mudança para a União Brasil para concorrer a governadora. O governador Reinaldo Azambuja, em segundo mandato, lançará o secretário de Infraestrutura, Eduardo Riedel.
O partido ainda enfrentou baixas em outros estados. No Maranhão, o vice-governador Carlos Brandão anunciou, no mês passado, que migrará para o PSB para concorrer com o apoio do atual governador, Flávio Dino. Com o revés, os tucanos não sabem como vão se posicionar. No Pará, Simão Jatene, que já governou o estado três vezes, anunciou a saída do PSDB ano passado, após ver Leite, a quem apoiava, ser derrotado nas prévias. Os tucanos vão apoiar a reeleição do governador Helder Barbalho (MDB) e Jatene ainda não anunciou em qual legenda se filiará. Ele estuda concorrer ao governo do Estado ou a única vaga ao Senado.
Caso a união com o Cidadania vingue, pode haver um impasse no Distrito Federal. Os senadores Izalci Lucas (PSDB) e Leila Barros (Cidadania) vinham se colocando como pré-candidatos a governador. Apesar do cenário adverso, o secretário-executivo do PSDB, Beto Pereira, minimiza possíveis dificuldades em palanques para Doria: “As oito candidaturas que teremos dão à sigla certo protagonismo. Três delas (SP, RS e MS) estão bem postas”, disse.
Criticado por membros históricos
“O PSDB não é mais referência nacional como foi. Na época em que o PSDB teve posições fortes na eleição nacional, com Fernando Henrique, (José) Serra e (Geraldo) Alckmin, o partido era uma referência que se opunha ao PT no campo eleitoral. O PSDB trazia consigo um eleitorado mais liberal e progressista, e também de direita conservador, mas do campo democrático”, apunhalou o tucano histórico, atual diretor da SP Negócios, Aloysio Nunes Ferreira, um dos líderes tradicionais do PSDB que como o ex-governador Geraldo Alckmin, foi procurado na semana passada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em aceno ao centro neste ano eleitoral. Em entrevista a um jornal de São Paulo, Aloysio defendeu como prioridade impedir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro e desconversou sobre uma aliança como o antigo arquirrival Lula da Silva, única liderança do PT.
Perguntando na entrevista se João Doria representou a ascensão desse “extremismo” dentro do PSDB? Aloysio Nunes Ferreira foi taxativo:
“A eleição do Doria surfou na onda ‘Bolsodoria’ de 2018. A campanha do Doria entrou na mesma corrente que votava no Bolsonaro e forçou um pouco a mão ao apresentar o Márcio França (do PSB) como comunista. O Márcio França é tão comunista quanto eu sou hare krishna. Mas ele (Doria) se redimiu depois com uma oposição consistente e corajosa contra o Bolsonaro”.
Sobre a possibilidade da direção do PSDB se posicionar sobre esse movimento de dissidência contra a candidatura de Doria, Nunes Ferreira disse que: “Não adianta tomar medidas administrativas contra isso. Há um descontentamento com o Doria devido aos atritos que ele criou e ao seu voluntarismo na luta interna do PSDB, como essa obsessão de expulsar o Aécio (Neves). Mas o Doria tem feito gestos para aproximar as pessoas”, garante.
Sobre o PSDB não atingir a cláusula de barreira esse ano, o líder tucano disse que isso não existe. “O PSDB tem condições de ultrapassar com folga”. Então por que buscar uma federação partidária com o Cidadania? Ele disse que: “Essa união interessa ao Doria, porque é o primeiro gesto para escapar daquilo que pesa mais negativamente sobre a candidatura dele hoje do que as pesquisas de intenção de voto: o isolamento político.”
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.