A Vale apresentou nesta quinta-feira (09), durante uma reunião virtual com analistas de mercado, um novo produto que poderá reduzir em até 10% a emissão de gases do efeito estufa (GEE) na produção de aço de seus clientes siderúrgicos. O “briquete verde”, desenvolvido pela mineradora ao longo de quase 20 anos, é formado por minério de ferro e uma solução tecnológica de aglomerantes, que inclui em sua composição areia proveniente do tratamento de rejeitos de mineração. Segundo a Vale, é capaz de resistir à temperatura elevada do alto-forno sem se desintegrar.
A redução de GEE ocorre porque o produto permite ao siderurgista reduzir a dependência da sinterização – processo anterior à produção do aço no qual há a aglomeração do fino de minério de ferro (sinter feed). A sinterização demanda o uso intensivo de combustíveis fósseis para o alcance de uma temperatura de processo em torno de 1.300 oC. Já o briquete é considerado um aglomerado a frio, no qual não ocorre queima, mas uma cura a uma temperatura entre 200 e 250 oC, demandando menos energia. O produto reduz ainda a emissão de particulados e de gases como dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX), além de dispensar o uso da água na sua produção.
Segundo a Vale, o “briquete verde” está incluído na estratégia de reduzir em 15% as emissões de fornecedores, transporte terceirizado e clientes da mineradora até 2035. Em números absolutos, o compromisso de redução soma 90 milhões de toneladas de carbono equivalente (MtCO2e), volume igual às emissões de energia do Chile de 2018, ano-base usado na meta de escopo 31 . Hoje, 98% das emissões totais da Vale são relativas à sua cadeia de fornecedores e clientes.
“O briquete verde faz parte da linha de evolução dos produtos de minério de ferro oferecidos pela Vale ao longo de sua história, resultado de investimentos expressivos em pesquisa e inovação. Até os anos 1960, nosso produto básico era o granulado de alto teor de ferro, o lump. Com a queda da oferta do lump, implantamos as primeiras usinas de pelotização no Brasil, que permitiram o aproveitamento do minério fino (pellet feed) e seguem sendo importantes para a cadeia siderúrgica. Agora, temos o ‘briquete verde’, que vai revolucionar o processo de produção do aço”, explica o vice-presidente executivo de Ferrosos, Marcello Spinelli.
Ainda de acordo com a Vale, a produção desse novo produto será, inicialmente, realizada nas usinas 1 e 2 de pelotização, na Unidade Tubarão, em Vitória (ES) e no Complexo de Vargem Grande, em Minas Gerais. A capacidade inicial de produção é de aproximadamente 7 milhões de toneladas por ano. O start up das três plantas está previsto para 2023. O investimento soma US$ 185 milhões. A estimativa é de que, no longo prazo, a companhia tenha capacidade para produzir acima de 50 milhões de toneladas por ano de “briquete verde”, o que levaria a um potencial de redução de emissão superior a 6 milhões de toneladas de carbono equivalente por ano (MtCo2e/ano) com uso da tecnologia.
Pesquisa
O novo produto começou a ser desenvolvido em 2004 por pesquisadores da então Gerência de Tecnologia de Ferrosos da Vale, em Vitória (ES). Em 2008, a gerência foi absorvida pelo Centro de Tecnologia de Ferrosos (CTF), em Nova Lima (MG), onde continuaram os estudos sobre o briquete. O CTF é uma unidade de pesquisa de alto nível que foi criada pela companhia com função de desenvolver produtos que melhorem o desempenho dos processos industriais dos clientes siderúrgicos da Vale.
Os primeiros testes industriais ocorreram em 2019 em forno a carvão vegetal. Em 2020, foram realizados testes em forno a coque de grande escala. “A partir dos resultados satisfatórios, consideramos que estávamos prontos para iniciar a construção das primeiras plantas para lançar o produto comercialmente”, afirma o diretor de Marketing de Ferrosos, Rogerio Nogueira.
Desde que anunciou sua meta de redução de gases em 15% de clientes siderúrgicos, a Vale vem formalizando parcerias para discutir projetos de descarbonização. Em memorando de entendimento (MoU) firmado com a Ternium, no último dia 19 de agosto, por exemplo, foi acordado o início dos estudos técnicos e econômicos para avaliar a viabilidade da construção de uma planta de “briquete verde” localizada nas instalações da siderúrgica no Brasil.
A Vale também está investindo na concentração magnética a seco de minérios de baixo teor – o Fines Dry Magnetic Separation (FDMS) – e em soluções sustentáveis de insumo rico para a produção de aço tanto em aciarias elétricas como em alto-forno de siderúrgicas integradas.
Net Zero
A Vale busca zerar suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas até 2050. Para isso, a empresa vai investir entre US$ 4 e US$ 6 bilhões para reduzir em 33% essas emissões até 2030. É o maior investimento já comprometido pela indústria da mineração para o combate às mudanças climáticas. As emissões residuais serão neutralizadas por mecanismos de compensação. Todas as metas de redução de emissões da Vale estão alinhadas com a ambição do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século.
Com informações da Vale