Espetacular. Assim pode ser definido o ano de 2018 para a mineradora multinacional Vale, maior produtora global de minério de ferro de alto teor. Nas últimas 48 horas, a mineradora tem feito uma série de divulgações, tanto de produção quanto de resultado financeiro, acerca de seu balanço consolidado referente ao ano passado, do qual não constam os efeitos deletérios do rompimento da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).
De maneira subliminar, e diferentemente dos balanços exagerados e coloridos de outros carnavais, a prestação de contas referente aos últimos três meses de 2018 veio em papel timbrado “cor de velório”, com fundo cinza e laço preto simbolizando luto, provavelmente em decorrência das mais de 300 mortes causadas pelo rompimento da barragem.
No entanto, para além da ilação fúnebre, a mineradora não pode esconder sua felicidade glamorosa em anunciar lucro líquido de “R$ 25,66 bilhões, dos quais precisam ser descontados o valor das reservas mínimas legais e os incentivos fiscais (R$ 2,78 bilhões), em linha com a legislação aplicável”, conforme escreveu em seu relatório de apresentação ao mercado. O lucro a ser utilizado como base para o cálculo da remuneração mínima obrigatória ao acionista foi de aproximadamente R$ 22,88 bilhões em 2018. A parcela de 25% desse montante equivale a R$ 5,72 bilhões, declarou a Vale.
O lucro da mineradora vem de diversas partes do mundo, mas está no Pará o seu caldeirão de fartura, com destaque para a mina de S11D, em Canaã dos Carajás, em cujo projeto a mineradora investiu 578 milhões de dólares no ano passado e ainda prevê desembolsar outros 209 milhões de dólares este ano.
Canaã sobe, Parauapebas desce
Atualmente, o Sistema Norte de produção, que compreende as operações de minério de ferro da Vale no Pará (Serra Norte, em Parauapebas; Serra Leste, em Curionópolis; e Serra Sul, em Canaã dos Carajás), é a maior fonte de renda da multinacional. Desse sistema, também conhecido como complexo minerador de Carajás, a mineradora extraiu 193,64 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro no ano passado, volume 14,5% superior à produção de 2017, quando foram lavrados 169,15 Mt.
Nos recortes municipais de produção, todos em linha com divulgações anteriores feitas pelo Blog do Zé Dudu, o principal destaque é a mina de S11D, na Serra Sul de Carajás, dentro do município de Canaã. A produção física de minério em S11D disparou incríveis 161,6% de 2017 (22,18 Mt) para 2018 (58,03 Mt).
Por outro lado, a produção do mesmo produto em Parauapebas e Curionópolis despencou 7,7%, conforme antecipado pelo Blog ainda em janeiro, rolando de 147 Mt (2017) para 135,62 Mt (2018). Na prática, a diminuição de produção da Vale de 2017 para 2018 implicou não ganho de receitas para o município de Parauapebas na ordem de R$ 40 milhões em royalties de mineração, enquanto Curionópolis deixou de ganhar R$ 1 milhão da mesma fonte.
Marabá atropela Canaã em cobre
A segunda principal fonte de renda da Vale, o cobre, recuou em produção em 2018 ante o ano anterior. Atualmente, o projeto Salobo, em Marabá, já produz o dobro do projeto Sossego, localizado em Canaã dos Carajás. Ambos, porém, apresentaram redução: Sossego caiu 7,5%, passando de 99,7 mil toneladas em 2017 para 92,2 mil em 2018; e Salobo reduziu em 0,4%, passando de 193,4 mil toneladas para 192,6 mil toneladas.
Outro projeto da Vale no Pará que apresentou redução de produção foi a mina de manganês Azul, localizada em Parauapebas, que caiu de 1,42 Mt em 2017 para 1,03 Mt em 2018, baixa de 27,6%. A mina do Azul foi por muito tempo a líder nacional da produção de manganês, mas a produção da Vale caiu tanto, em razão do esgotamento do produto, que a produção da vizinha Buritirama, em Marabá, atualmente é uma vez e meia superior.
Outra produção que caiu foi a de níquel, em Onça Puma, Ourilândia do Norte. A queda foi da ordem de 7,3%, tendo despencado de 24,7 mil toneladas em 2017 para 22,9% em 2018. A queda na produção física de manganês e níquel da Vale em Carajás afeta diretamente a arrecadação de royalties por parte de Parauapebas, de onde saem as duas commodities.