Brasília – Diante de um atraso além do previsto para o licenciamento em Serra Norte e queda de performance operacional na importante mina S11D, nas operações no Pará, a mineradora Vale informou em boletim ao mercado na terça-feira (31), que a produção registrou 307,79 milhões de toneladas de minério de ferro em 2022, queda de 1,6% ante o ano anterior, com recuo ainda maior nas vendas. A notícia vem antes da divulgação do balanço do 4º trimestre e do resultado anual da companhia.
O boletim registra que o volume ficou abaixo da meta recentemente revista pela mineradora para o ano, de 310 milhões de toneladas. A queda foi parcialmente compensada, no entanto, por um avanço contínuo da produção em Vargem Grande e maior produção via processamento a seco em Brucutu, ambos os ativos em Minas Gerais, além de maior compra de terceiros, pontuou a Vale.
As vendas da commodity somaram 260,66 milhões de toneladas no ano passado, uma queda de 3,8% na comparação com 2021.
A produção de pelotas, por sua vez, totalizou 32 milhões de toneladas em 2022, um aumento de 1,3% na comparação com o ano anterior, com um melhor mix de pelotas de redução direta (49% do total da produção vs. 41% em 2021), “alavancado pelo feed de maior qualidade e aproveitando maiores prêmios de mercado”.
O volume de pelotas produzido, porém, também ficou levemente abaixo da meta para o ano, que indicava 33 milhões de toneladas.
A Vale tem reforçado sua estratégia para focar mais em valor do que em quantidade, buscando avançar na produção de produtos com maior valor agregado.
Já a produção de minério de ferro no quarto trimestre de 2022 foi de 80,85 milhões de toneladas, queda de 1% ante o mesmo período do ano anterior e recuo de 9,9% em relação ao terceiro trimestre.
As vendas do minério no último trimestre do ano do ano passado somaram 81,20 milhões de toneladas, uma queda de 0,7% na comparação com um ano antes, mas alta de 24,2% na comparação com o terceiro trimestre, com impulso da conversão dos estoques formados no trimestre anterior em vendas.
Metais básicos
Já do lado dos metais básicos, a Vale somou produção de níquel de 179 mil toneladas em 2022, alta de 6,4% na comparação com o ano anterior, explicada principalmente pela estabilização das operações após paralisação do trabalho de Sudbury, no Canadá, em 2021, assim como o consistente e forte desempenho em Onça Puma, no Pará, disse a Vale.
A previsão da Vale era produzir 180 mil toneladas de níquel no ano passado.
As vendas do metal somaram 180,8 mil toneladas em 2022, queda de 0,5% ante o ano anterior.
No quarto trimestre, a produção de níquel somou 47,4 mil toneladas, queda de 1,3% ante um ano antes e recuo de 8,5% na comparação com o trimestre anterior. Já as vendas somaram 58,2 mil toneladas, avanço de 30,2% na comparação com um ano antes e alta de 31,4% na comparação com o trimestre anterior, também devido a conversão de estoques.
O metal também é uma matéria-prima chave para a indústria de veículos elétricos em expansão, onde é usado para a fabricação de baterias. A Vale fechou contratos para fornecer níquel para grandes montadoras, incluindo as montadoras Tesla e General Motors.
A produção de cobre da empresa caiu 14,7%, totalizando 253 mil toneladas em 2022, devido a manutenção prolongada no moinho de Sossego durante o primeiro semestre do ano, e manutenção adicional necessária tanto em Sossego quanto em Salobo.
A previsão da Vale era produzir 260 mil toneladas de cobre no ano passado.
”Esses eventos foram parcialmente compensados por uma maior produção no Canadá devido a estabilização das minas de Sudbury e a recuperação de cobre de estruturas que contêm precipitados de cobre em Thompson, reduzindo desperdício como parte da nossa abordagem alinhada à mineração circular”, disse a Vale.
As vendas de cobre somaram 243,9 mil toneladas em 2022, queda de 14,3%.
Mercado financeiro
As ações da Vale recuavam na manhã desta quarta-feira, 1º, após a companhia divulgar resultados operacionais com produção inferior de minério de ferro. Com produção marginalmente abaixo do guidance anual, os números vieram em linha com as projeções, segundo o banco Goldman e o BTG. Às 11h02 (de Brasília), os papéis recuavam 2,56%, a R$92,09. As ADRs caíam 2,30%, a US$18,25.
A produção de minério de ferro registrou um recuo anual de 2%. Segundo a Vale, a retração ocorreu pelos atrasos de licenciamento na Serra Norte, pelo processamento de estéril jaspilito e performance operacional, ainda que compensado de forma parcial por ramp-up contínuo da produção em Vargem Grande, maior produção via processamento a seco em Brucutu e maior compra de terceiros.
Após a divulgação, o Goldman Sachs emitiu relatório em que afirmou que a produção reportada de minério de ferro da Vale de 81 milhões de toneladas no quarto trimestre, uma baixa trimestral de 10%, ficou em linha com as expectativas do banco e do consenso. Segundo os analistas Márcio Farid, Gabriel Simões e Henrique Marques, tendência é de que o mercado reaja de forma neutra.
A mineradora reverteu quase completamente o acúmulo de estoque de 12 milhões de toneladas do terceiro trimestre, destacaram os analistas, que ponderaram que a produção de cobre decepcionou.
As atenções no momento estão voltadas para a China, com a reabertura da economia após a flexibilização das medidas contra a covid-19 e o Ano Novo Chinês. “Acreditamos que a melhoria da demanda física no final do 1º Trimestre de 2023 se tornará cada vez mais importante para um rali contínuo. Acreditamos que o mercado provavelmente ficará desapontado com a melhora na demanda de aço e minério de ferro no 2º Semestre de 2023 devido ao efeito defasado negativo de inícios de propriedades muito fracos em 2022”, apontam os analistas. O Goldman Sachs possui recomendação neutra para os papéis da Vale, com preço-alvo de US12 para as ADRs.
Já o banco BTG, que conta com classificação de compra para os papéis, com preço-alvo de US$19 para as ADRs, avaliou os números da produção como mornos, de forma geral. Para os analistas do BTG Leonardo Correa e Caio Greiner, ainda que alguns dos contratempos da Vale são exógenos, a mineradora deve levar alguns trimestres para recuperar totalmente a confiança do investidor. O BTG reforça que a Vale está mantendo guidance de minério de ferro achatado para 2023 de 310-320 Mt, contra previsão de 307 Mt do BTG. Isso significa, na visão do banco, que todo o crescimento da receita viria de ganhos de preços. O BTG projeta uma queda sazonal nos números de produção e vendas ao longo primeiro trimestre deste ano.
A Vale segue como uma das empresas preferidas do BTG para exposição à reabertura da economia chinesa. “Esperamos que a atividade econômica se recupere gradualmente em 2023, à medida que o governo afrouxa restrições e modera correção do mercado imobiliário (grande demais para falhar)”, afirmam os analistas.
Enquanto isso, o banco UBS BB lembra que as chuvas nas maiores minas de minério de ferro do Brasil caíram novamente na quarta semana de janeiro, o que traz riscos de abastecimento até o final de fevereiro, recomendando acompanhar de perto os níveis de precipitação não somente da Vale, mas de outros produtores como CSN Mineração e Gerdau (BVMF:GGBR4).
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.