Há três anos, Antonio e Filomena Silva criam gado na Vila Nova Jerusalém, zona rural de Canaã dos Carajás, no Pará. No último ano, após receber assessoria em campo, os produtores deixaram de criar o gado de forma extensiva e passaram a adotar método de manejo que melhorou o nível produtivo da terra. Com a mudança no modelo de criação e força de vontade, o resultado foi o aumento da produção leiteira, além de muito aprendizado. O conhecimento sobre a nova técnica veio por meio de um projeto de assistência rural desenvolvido pela Agência Canaã com o apoio da Vale no município.
Nos últimos dois anos de desenvolvimento do projeto chamado Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), mais de 180 agricultores e produtores foram beneficiados. O trabalho consistiu em serviços de assistência com foco na melhoria da produtividade e na melhoria da condição de vida das famílias. A atuação direta da equipe técnica formada por zootecnistas, engenheiros agrônomos e veterinário abrangeu os setores da pecuária de leite e corte, avicultura, suinocultura, fruticultura e produção de hortaliças. Produtores das vilas rurais de Ouro Verde, Feitosa, Planalto, Bom Jesus, PA União Américo Santana e Agrovila Nova Jerusalém foram atendidos pelo projeto.
Segundo a gerente de relacionamento com comunidades da Vale em Canaã dos Carajás, Silvia Cunha, o objetivo é tornar as comunidades autônomas. “Com esse projeto junto com outras iniciativas, a ideia é incentivar o desenvolvimento de outras vocações econômicas na região, ampliar a geração de trabalho e renda no campo e dar a orientação necessária para que produtores possam acreditar e crescer com seus empreendimentos de forma independente e demonstrando seu próprio potencial”, diz Silvia.
Grande aprendizado, maior produção
Além da consultoria, é preciso ter força de vontade e visão de futuro para crescer com o empreendimento. Seu Antônio e dona Filomena sabem disso. Acreditaram na orientação técnica e investiram. Em uma área de três hectares e meio, foram feitos oito piquetes para o manejo rotacionado do gado. Em um ano, aumentaram a produção e já fazem planos para o futuro. “Antes com o gado solto, a produção era de 30 a 40 litros por dia, com o manejo rotacionado, tiramos 40 a 50 litros, a produção melhorou. E agora a gente já sonha em aumentar a propriedade”, planeja dona Filomena.
Criador de gado há 15 anos, o produtor José Ribamar Martins, 61 anos, em menos de um ano já colhe resultados com o manejo rotacionado e a melhoria da fórmula da ração. Em um hectare de terra dividiu sua área em sete piquetes usando implementos doados pela Vale e, com recursos próprios, investiu em outros 16 piquetes. Ele conta que com a implantação, a produção subiu de 50 para 70 litros.
Descrevendo a receita toda que aprendeu para fazer o adubo, a ração e os procedimentos para fazer os piquetes e o seu dia a dia dedicado ao trabalho, Ribamar fala qual o segredo do sucesso que levou sua propriedade a virar referência de produção. Segundo ele, a razão está no aprendizado e na coragem para trabalhar.
“A Vale chegou na hora certa para mim. Eu digo que esse casal de engenheiros do projeto foram dois anjos que entraram em nossa vida. Antes o capim não dava. Agora aprendi a fazer ração, adubo biorgânico e os piquetes. Com a instrução que eles me deram e minha força para trabalhar com minha mulher, de lá pra cá, a minha vida só melhorou, melhorou muito. Deu tão certo que a minha propriedade foi exemplo para outros produtores em um dia de campo aqui na minha chácara. Deu muita gente aqui em casa, parecia uma festa”, revela Ribamar.
Além da produção
Para Graça Reis, Diretora da Agência Canaã, o projeto deu impulso ao desenvolvimento da região como um todo. “Um dos principais resultados está no âmbito de escoamento da produção leiteira e de hortaliças e na abertura de novas oportunidades de mercado. Também importante a mudança de mentalidade de boa parte dos produtores, que auxiliou na troca de experiências e utilização de novas tecnologias, trazendo resultados significativos para seus empreendimentos e suas comunidades”, diz Graça.
Segundo a zootecnista Carmen Lúcia e o Engenheiro Agrônomo Sergio Rafael, técnicos do projeto, também estão entre os principais resultados “o aumento da produção e melhoria da saúde dos animais em boa parte das unidades, aumento da produtividade, a conscientização sobre boas práticas de produção e implantação de tecnologias acessíveis à realidade de cada produtor”.
Manejo rotacionado
Um dos fatos que motivaram o projeto foi diagnóstico socioeconômico realizado pela Agência Canaã. O estudo indicou que pecuária leiteira tem papel fundamental na renda de grande parte das famílias, entretanto, em todas essas comunidades observava-se a aplicação de manejos extensivos com baixa produtividade.
O manejo rotacionado diferente da pecuária extensiva (onde o gato é criado solto) consiste em dividir o pasto em áreas, que permitem o uso alternado dos piquetes, em certo período para o pastejo e em seguida o descanso da terra, o que permite o rodízio das áreas e assim a maior eficiência da pastagem