A apresentação do relatório de produção e vendas da mineradora multinacional Vale, referente ao 4º trimestre de 2019, era um dos eventos do mercado financeiro mais aguardados desta semana, e a empresa revelou informações importantes sobre suas operações no complexo minerador de Carajás, aqui no Pará, atualmente o maior fornecedor mundial de minério de ferro de alto teor. Ontem (11), a Vale trouxe a confirmação de dados antecipados pelo Blog do Zé Dudu de que elevou substancialmente sua produção física no município de Canaã dos Carajás e baixou em Parauapebas.
A maior produtora global de minério extraiu 188,72 milhões de toneladas (Mt) no complexo de Carajás no ano passado ante 193,64 Mt em 2018, redução de 2,5% num ano extremamente turbulento para a produção de ferro, em razão do rompimento de uma barragem de rejeitos no município de Brumadinho (MG), o que fez a produção física em outras praças declinar ao passo que o preço da commodity disparou no mercado internacional diante de um cenário de menor oferta.
No Pará, o município de Canaã dos Carajás, titular das operações da Vale na Serra Sul de Carajás, onde está instalada a mina de S11D, viu a lavra saltar de 58,03 milhões de toneladas em 2018 para 73,37 milhões de toneladas em 2019, disparada de 26,4%, segundo a mineradora. A mina de Canaã dos Carajás é hoje, do ponto de vista do custo-benefício, a mais valiosa fonte de receitas da mineradora e já está no radar para uma expansão de capacidade nominal a partir do ano que vem.
Já o município de Parauapebas, que concentra a Serra Norte de Carajás, na qual se assentam as minas de N4E, N4W e N5, viu a produção física baixar ao menor volume em cinco anos. Foram produzidos 112,35 milhões de toneladas no ano passado, queda de 14,5% em relação à lavra registrada em 2018. Já o município de Curionópolis, cuja produção está paralisada na Serra Leste de Carajás, produziu apenas 3 Mt.
2,5 bilhões de toneladas retiradas
O Blog do Zé Dudu fez as contas, com base nos mais diversos relatórios de produção e documentos produzidos pela mineradora Vale, e conclui que de 1984 a 2019 a empresa retirou de Parauapebas 2 bilhões 476 milhões e 840 mil toneladas de minério de ferro. É o suficiente para soterrar dez cidades do tamanho de Parauapebas, cuja mancha urbana ocupa atualmente 45 quilômetros quadrados.
O primeiro milhão de toneladas de minério de ferro retirado da Serra Norte foi em 1985, um ano após o início das operações em Carajás. Em 1988, ano da emancipação de Parauapebas, o volume produzido pela empresa já era de 36,59 Mt, mas o rompimento da marca de 100 Mt só viria acontecer 22 anos depois, em 2010, quando a Vale consolidou 101,17 milhões de toneladas em Parauapebas.
Em uma década de altos e baixos na produção, a Vale marcou seu auge de produção na Serra Norte, com 143,6 Mt, em 2016. Esse pico ocorreu essencialmente por conta da baixa no preço das commodities minerais no mercado internacional, exigindo superprodução física para compensar perdas financeiras diante do cenário de depreciação do ferro.
2 bilhões para retirada em 22 anos
Em seu último relatório anual consolidado, referente a 2018 e entregue à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos em abril do ano passado, a empresa detalha o volume de suas reservas e revela a necessidade de iniciar a exploração nos corpos de N1, N2, N3 diante da exaustão de N4 e N5, historicamente as reservas mais densas de minério no território de Parauapebas.
As minas atuais só têm minério para até 2035. Com a abertura de N1, N2 e N3, a Vale prevê que o minério existente no subsolo de Parauapebas ganhe sobrevida de mais sete anos e dure até 2042. O Blog anunciou, inclusive em primeira mão, a intenção da Vale de abrir novas minas em Parauapebas diante da exaustão das atuais (relembre aqui). Até 2018, segundo a Vale, o volume de minério de ferro medido, provado e provável em Parauapebas, para o conjunto formado pelos corpos N1, N2, N3, N4 e N5, era de 2,02 bilhões de toneladas, bem menos que o que a empresa retirou ao longo de mais de três décadas. Já em Canaã dos Carajás, apenas nos blocos C e D do corpo S11, a multinacional declarou existir 4,29 bilhões de toneladas disponíveis à lavra.