A Vale vai introduzir no mercado, neste mês, um novo tipo de minério de ferro para seus clientes, chamado de Brazilian Blend (BRBF), segundo informou à Platts uma fonte que trabalha na mineradora, mas não quis se identificar. O produto pode chegar no mercado à vista já nesta semana e deve ter uma produção anual de 30 milhões de toneladas métricas.
De acordo com Cecília Silva, gerente-geral de Marketing Comercial da mineradora brasileira, o novo produto da Vale terá teor de 63,1% Fe e é uma mistura de minério de ferro do Sistema Norte de Carajás com minério do Sistema Sul que tem altos níveis de sílica.
A executiva participou do Singapore Iron Ore Week, realizado até amanhã (15) em Cingapura. O evento é considerado um dos maiores de minério de ferro, com a presença de representantes da BHP Billiton, Rio Tinto, Fortescue Metals Group e Vale, os quatro maiores produtores do mundo.
O BRBF terá os teores de 1,7% de alumina, 4.6% de sílica, 0,035% de enxofre, 0,06% de fósforo, 0,5% de manganês e 2% de perda por ignição. O minério de ferro tipo Brazilian Blend vai ser misturado no centro de distribuição da Vale na Malásia.
Segundo a fonte anônima que trabalha na Vale, o novo produto pode ser ofertado no mercado à vista ainda nesta semana com preço fixado ou por um preço variável em função de índices. Não ficou claro se o BRBF vai ser ofertado diretamente para os clientes que a Vale tem contrato.
“Nós estamos pensando em cerca de 30 milhões de toneladas métricas de minério de ferro tipo Brazilian Blend por ano”, disse a fonte da Vale à Platts. O centro de distribuição da Vale na Malásia possui uma capacidade de 30 milhões de toneladas métricas por ano para misturar minério de ferro, com potencial para expandir para até 100 milhões de toneladas anuais.
Fontes da indústria disseram que o BRBF, que possui relativamente baixo nível de impureza e alto teor de ferro, pode se tonar um “forte concorrente” para o minério de ferro tipo Pilbara Blend com 61% Fe, que é um dos produtos de teor médio com maior liquidez do mercado.
O minério de ferro Pilbara Blend é o carro-chefe da Rio Tinto, terceira maior produtora da commodity no mundo, e contém 4% de sílica, 2,5% de alumina e de 0,08% a 0,09% de fósforo.
Um dos clientes que tem contrato com a Vale, sediado na região central da China, disse que a entrada do Brazilian Blend no mercado marca uma mudança na estratégia de depender de produtos com alto teor de ferro e baixos níveis de sílica, características dos minérios tipo Standard Sinter Feed Guaiba (SSFG) e Standard Sinter Feed Tubarão (SSFT).
Depender de apenas um tipo de minério de ferro misturado foi uma tentativa de atender à demanda de compradores chineses que preferiam minério de ferro com teor médio e baixo nível de impurezas.
“Misturando o minério de ferro de alto teor do Sistema Norte de Carajás com o minério do Sistema Sul, a Vale está se esforçando para pegar uma fatia de mercado dos produtos com 60% a 63,5% de ferro, que é dominado pelo minério da Newman e Mining Area C e especialmente pelo Pilbara Blend”, disse uma fonte de uma siderúrgica chinesa à Platts.
Essa fonte afirmou que o baixo nível de impurezas no Brazilian Blend vai se tornar popular com as siderúrgicas chinesas, que estão enfrentando diversas regulamentações ambientais do governo local.
Alguns compradores de minério de ferro do Japão e da Coreia do Sul disseram que o conteúdo de sílica do BRBF é “ligeiramente elevado” em relação aos concorrentes australianos. Siderúrgicas chinesas que consomem o minério de ferro da Austrália disseram que vai levar algum tempo para avaliar as propriedades metalúrgicas do novo produto da Vale.
“Se você olhar para a combinação de alumina e sílica no BRBF, tem apenas 6,3%, e é muito competitivo com o Pilbara Blend, que tem 6,5%, além de ter um teor mais alto de ferro [63,1% ante 61%]”, afirmou outra fonte de uma siderúrgica estatal chinesa.
“Além de ter mais ferro e um conteúdo parecido de sílica e de alumina, o minério tipo Brazilian Blend tem pouco fósforo em relação ao Pilbara Blend”, disse uma terceira fonte de uma siderúrgica da região central da China, que destacou ainda que o nível de fósforo é importante para os compradores chineses, porque altos teores do produto podem gerar custos adicionais no processo de siderurgia. As informações são da Platts.