Vale promete mais R$ 10 milhões para construir pronto socorro em Marabá

Valor será parte da compensação socioambiental pela construção de duas novas pontes sobre o Rio Tocantins
Vice-prefeito Luciano Dias fez vários questionamentos aos executivos da Vale sobre o Tecnored

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Na tarde desta terça-feira, dia 21 de março, a Comissão Especial de Desenvolvimento Socioeconômico de Marabá reuniu-se com oito representantes da Vale para discutir o estágio atual das obras do Projeto Tecnored e também da construção das duas novas pontes rodoferroviárias sobre o Rio Tocantins.

Entre os presentes, o presidente da Comissão de Desenvolvimento, Miguel Gomes Filho; Márcio do São Félix, secretário; o vice-prefeito de Marabá, Luciano Lopes Dias; o presidente da Câmara, Alecio Stringari; o presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, João Tatagiba; a presidente da Fundação Casa da Cultural e vereadora licenciada, Vanda Américo; o empresário e debatedor Ítalo Ipojucan Costa; e os vereadores Dato do Ônibus, Cabo Rodrigo, Ilker Moraes, Aerton Grande e Fernando Henrique.

Pela Vale, participaram da reunião Saulo Lobo, gerente de Relações Institucionais em Marabá, e os engenheiros Ezequiel da Silva, Marcello Fuzziello, Renato Cuzzuol, Paulo Carreira, André Luiz Verones, Breno Lopes de Souza, Gabriel Afonso e Joana Darc.

Ao abrir os trabalhos, Miguelito reiterou que esta é a conversa mais longa que o município está tendo com a Vale, graças à Comissão de Desenvolvimento. Ele ponderou que destratar muito a Vale não dá em nada, e que é preciso que a empresa mantenha a relação de parceria com o município, solicitando um relatório dos investimentos que a Vale fará em Marabá ainda este ano, além de Tecnored e ponte sobre o Rio Tocantins.

Em seguida, Ezequiel da Silva, coordenador de implantação do Tecnored, fez apresentação da primeira etapa já realizada no Distrito Industrial de Marabá, com desmobilização da estrutura que havia no local, supressão vegetal e terraplanagem, que iniciaram em junho de 2022 e terminaram em dezembro. Segundo ele, 180 colaboradores trabalharam no pico da obra no ano passado. 

Engenheiros da Vale apresentaram as novas etapas do projeto da ponte e Tecnored

A próxima fase, de 2023, compreende obras civis e infraestrutura. Até o final de abril próximo a Vale contratará a empresa que apresentar a melhor proposta e as obras iniciam em maio, com construções periféricas do projeto. A mão de obra prevista para este ano é de 200 colaboradores e em setembro e outubro deve ocorrer o pico de obra.

Ele também apresentou as ações sociais desenvolvidas pela Tecnored em Marabá, na Vila do Café, com 83 estudantes e professores da escola João XXIII.

Por outro lado, conforme o compromisso firmado, a Vale atua junto ao Senai para capacitação de mão de obra local. “Em 2023 estamos com cinco turmas de cursos técnicos, com 180 vagas, podendo chegar a 400 oportunidades durante o projeto. Tudo isso apenas para os moradores do município de Marabá, sendo que 50% das vagas são garantidas para o público feminino”, disse Ezequiel.

PONTE DO TOCANTINS

O engenheiro Marcello Fuzziello, responsável pela construção das duas pontes sobre o Rio Tocantins, apresentou aos membros da Comissão de Desenvolvimento um breve relato da engenharia, planejamento e parte social que vêm sendo executados desde o ano passado.

Ele informou que a Construtora Aterpa finalizou seu contrato este ano, com terraplanagem na margem do São Félix. Agora, o chamado “Pacote 2 “ é a construção da ponte.

Renato Cuzzuol apresentou o cronograma da ponte e atualizou sobre a primeira fase do projeto, denominado de Pacote 1.

O engenheiro Paulo Carreira informou que dia 17 de março – sexta passada – o Consórcio Rio Tocantins, que envolve as empresas Engetec e Barbosa Melo, assinaram o contrato para execução do Pacote 2. A primeira será responsável por 70% das obras e a segunda por 30%.

Revelou que em 2022, um total de 494 pessoas foram contratadas no pico de obras da ponte, e que em 2023 serão 1.500 trabalhadores no pico de obra. “Essas contratações, assim como ocorreu ano passado, serão em parceria com o Sine. Além disso, buscamos uma aproximação com a ACIM para fomentar a contratação de empresas da cidade”, disse Carreira.

Ainda segundo ele, mais de 80% de mão de obra local foram utilizadas pela contratada Aterpa e que há compromisso junto à Engetec e Barbosa Melo de fazer o mesmo com as novas contratações. Por outro lado, das 176 empresas fornecedoras para a obra do Pacote 1, um total de 116 eram de Marabá. “Buscamos ao máximo contratar mão de obra e fornecedores daqui. Nem sempre é possível. Mas buscamos sempre ampliar”, afirmou Paulo Carreira.

Ele também apresentou detalhes sobre a construção da ponte, principalmente relacionados aos dois acessos, no São Félix e na Nova Marabá, tirando a dúvida de vereadores sobre possíveis gargalos no trânsito. Informou, por exemplo, que serão construídos 5,4 km de acessos rodoviários, além dos 2,3 km de ponte.

Carreira mostrou que os pedestres vão passar por túnel iluminado para entrar e sair do Bairro Nossa Senhora Aparecida. No lado do São Félix haverá túnel e passarela e garantiu que todo sistema de sinalização da região será readequado.

A Vale, segundo Carreira, contratou uma empresa portuguesa para acompanhar as obras da ponte e que durante os trabalhos dentro do rio, haverá rotas de fugas para garantir a segurança operacional dos trabalhadores.

Joana Darc, coordenadora do Programa Partilhar, informou aos membros da Comissão de Desenvolvimento que durante o Pacote 1 da ponte, a Vale ofereceu cursos de armador e carpintaria, com 100 alunos capacitados. Também promoveu ação cultural com visita ao circo, realizou reforma da ACIM, revitalização da área de lazer e área de convivência comunitária do Residencial Tocantins, no São Félix, além de promover campeonatos de futsal naquele núcleo.

QUESTIONAMENTOS

Após as explanações, os membros da Comissão de Desenvolvimento fizeram vários questionamentos, mas também elogiaram os representantes da Vale. Foi o caso de João Tatagiba, presidente da ACIM. “Hoje há sintonia melhor da Vale com a Câmara e Associação Comercial. O plano para resolver o dilema do fornecimento local para a Vale, que é histórico, começou em junho. Naquela ocasião, havia 8 empresas que estavam aptas a participar de concorrência com a Vale. Hoje, temos 93 com CNPJ de Marabá aptas a fornecer para a mineradora. Não significa que todas vão vender, mas estão aptas”.

A vereadora licenciada Vanda Américo também elogiou a aproximação da Vale com segmentos locais do comércio e poder público, mas ainda considera que há setores da Vale extremamente fechados e preconceituosos, como o de suprimentos. “Não mudou nada, continua sendo horrível o relacionamento com a Fundação Casa da Cultura de Marabá. Os contratos técnicos têm sido dados para empresas de Minas, a despeito de termos aqui profissionais qualificados”.

Para Vanda, é preciso mudar o relacionamento com profissionais graduados da região. Segundo ela, a FCCM presta serviço qualificado, tem excelentes profissionais de espeleologia, por exemplo, mas a Vale não contrata. “Não queremos só o Tecnored, mas outra fatia do mercado, que é nobre”.

Em relação às obras da ponte, disse que o projeto está encaminhando bem, mas não pode permitir que várias vias do São Félix não sejam contempladas com asfalto. “A comunidade do São Félix não pode ficar no pé da ponte sem nenhum benefício. Neste momento, estão só com a lama”, lamentou.

O vice-prefeito Luciano Dias fez algumas ponderações e mostrou-se preocupado com a evasão alta em relação aos alunos que participam de cursos do Senai para formação de mão de obra para o Tecnored. Ele avalia que a grande quantidade de desistência prejudica o número de pessoas formadas em breve e propôs que a Vale assegure antecipadamente vaga de emprego ou percentual para contratação futura. “Há grande desmotivação, porque quem participar dos cursos não vai ficar esperando dois anos para ser contratado”, advertiu.

INVESTIMENTOS A CONTA GOTAS

Sobre o volume de investimentos da Vale em 2023 no Tecnored, o vice-prefeito questionou quanto será aplicado pela empresa e considera que as obras previstas para este ano – segundo relatório apresentado pelos técnicos na referida reunião – vão comportar apenas guaritas e prédios administrativos, o que ele considera muito pouco.

Respondendo a Luciano Dias, Ezequiel da Silva disse que este ano a Vale vai aplicar R$ 100 milhões no Projeto Tecnored e prevê que até 2025 deverá concluir o projeto. “Há desafios de engenharia, por isso esse prazo para a obra. Estamos antecipando as etapas que são possíveis. O período de chuva de seis meses atrapalha um pouco a implantação”, argumentou.

Sobre a evasão no Senai, disse que todos os alunos estarão preparados para disputar vagas no Tecnored e nas outras siderúrgicas que estão retornando ao Distrito Industrial. “Quando a gente for iniciar a produção, tenho certeza que boa parte dos formados já terá sido absorvida no mercado de trabalho local”, prevê Ezequiel.

O vereador Márcio do São Félix também questionou representantes da Vale sobre a pavimentação do São Félix, e disse que protocolou pedido há muito tempo para que a mineradora tivesse compromisso de asfaltar as vias do Novo São Félix. Sobre a Vila Café, que vai se tornar a comunidade mais próxima do Tecnored, pediu garantia do transporte para jovens que fazem curso no Senai, para que não abandonem a formação.

Para o vereador Ilker Moraes, é preciso ampliar o debate, além do Projeto Partilhar, que considera minúsculo na área social. Ele lamentou que as discussões sobre a aplicação dos recursos da compensação da ponte se resumam à Vale e o entorno da mesa do prefeito. “Queremos discutir com a mineradora um projeto para ajudar a resolver o dilema da saúde em Marabá e do transporte coletivo, talvez bancando a rota universitária”.

O vereador Dato do Ônibus confirmou as palavras do colega Ilker e disse que há dificuldade de dialogar com o prefeito de Marabá, e prevê que haverá caos no bairro Araguaia a partir da inauguração da nova ponte rodoferroviária. Ele crê que parte do trânsito de caminhões vai para a Avenida das Torres, para chegar à BR-230. “Precisamos rediscutir isso”, disse.

O presidente da Câmara, Alecio Stringari, também se mostrou um pouco preocupado com o projeto Tecnored e o tempo que vai levar para ser executado. “Quero acreditar no Tecnored, que não seja uma fachada, como ocorreu no passado”.

Ele pediu que a Vale repasse à Câmara Municipal, a cada 60 dias, relatório sobre andamento das obras do Tecnored e ponte, informando números de geração de empregos e contratação de empresas locais.

ALERTA DE ÍTALO

Italo Ipojucan Costa reconheceu o estreitamento da relação entre Vale e sociedade marabaense, por meio de seus representantes. Para ele, é preciso que pequenos modelos minerários tenham vida própria para ajudar na geração de emprego e renda no município.

O empresário relembrou o momento de tensão que o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, passou em Marabá em 2022, com queixas do prefeito Tião Miranda e do governador Helder Barbalho, por ocasião da assinatura da ordem de serviço para início das obras do Tecnored. Para ele, serviu de exemplo para a mineradora se tornar mais sensível com o município.

“Precisamos diversificar a base de produção e a Vale é importante para atuar na indução do modelo de desenvolvimento do Distrito Industrial. Na escala de produção, o Tecnored sempre deixou dúvidas. Para mim, o Tecnored, a Sinobras e a fabricação de tarugos são três pilares para uma nova fase de desenvolvimento de nosso município. Serão respostas para aquilo que lutamos. Nos bastidores, já nos deparamos com o desacreditamento do documento assinado pelo presidente da Vale, governador e prefeito de Marabá”, alertou.

Por fim, Saulo Lobo, gerente de relações institucionais da Vale em Marabá, reafirmou o compromisso da empresa com o termo de compromisso assinado com Marabá e disse que foram sete meses e meio de tratativas antes de ser assinado. “Tudo isso foi discutido em um fórum em que o relator, Mancipor Lopes, emitiu parecer dando atenção em relação à obra da ponte. Afirmo que 100% do que está no termo são políticas públicas municipais”.

Saulo lembrou que o termo de compromisso inicial para construção da ponte previa um aporte de R$ 75 milhões ao município, sendo R$ 65 milhões para pavimentação de vias públicas; R$ 5 milhões para aquisição de coletores de lixo; e outros R$ 5 milhões para investimento na área de saúde.

Mas, após os pedidos de vários vereadores, a Vale se comprometeu em garantir mais R$ 10 milhões para construção de um Pronto Socorro Municipal, totalizando R$ 85 milhões.

Ele elencou outros investimentos da Vale em Marabá em 2023, como construção de um Batalhão Rural para a Polícia Militar; Feira Coberta para o núcleo São Félix, entre outros que serão anunciados posteriormente. “Garanto para vocês que Marabá recebe hoje os maiores investimentos privados no Brasil. Estamos protagonizando momentos importantes”, finalizou.

Fotos: Ascom Câmara de Marabá