Por Gilberto Ferreira (*)
Não era para vazar, mas vazou. Há dez anos um grupo de países (EUA, Alemanha, França, Inglaterra e – pasmem – Iran) se reuniu em consórcio para desenvolver o projeto “Viagem ao Mundo do Tesouro Perdido”, cujo propósito era enviar um cientista ao planeta XBX, localizado no hemisfério sul da Galáxia de Andrômeda.
Segundo os estudos, esse planeta seria muito parecido com o planeta Terra e teria, além de vida, inclusive inteligente, enormes jazidas de ouro e de diamante. O projeto seria executado em três fases: a) aperfeiçoamento dos estudos para viabilização do transporte do cientista; b) envio do cientista para confirmação da existência dos minérios; c) transporte dos minérios para o planeta Terra.
Para tanto, o consórcio produziu uma máquina que transportaria o homem através do sistema desintegração/integração, tudo movimentado pelo pensamento. Em linguagem simples era assim: o cientista entraria na máquina e elevaria o seu pensamento para o local de destino, no caso, o Planeta XBX. O homem seria desintegrado e, viajando na velocidade do pensamento (que é trilhões de vezes maior do que a velocidade da luz)**, chegaria instantaneamente ao destino. Ali o cientista seria novamente integrado e retomaria à sua forma normal. Exploraria o planeta e, atingido os objetivos, retornaria para a Terra utilizando-se do mesmo método que o levou até lá.
Testada e aprovada a máquina, foi escolhido para viajar o cientista tibetano, naturalizado americano, Suyel Tyrsen.
Suyel entrou na máquina. Fechou os olhos, pensou no planeta XBX e, em segundos, encontrava-se em seu interior. Ficou pasmo com o que viu. O planeta era idêntico à Terra. Tinha seres humanos que inclusive falavam as nossas línguas (inglês, francês, português, alemão…), belas cidades, lagos, rios, mares, enfim, tudo igual. Com uma diferença. Havia muito ouro e diamante, como supuseram os cientistas. Só para ter uma ideia: as casas eram feitas de ouro e de diamante. As ruas eram asfaltadas, quero dizer, diamantadas. Era impressionante. Só mesmo quem esteve lá, como Suyel, poderia mensurar.
O cientista visitou todo o planeta e, se considerando satisfeito com que o vira, resolveu retornar. Então fechou os olhos, pensou no planeta Terra e aqui estava ele de volta.
Tão logo retornou foi levado para uma sala ultra-secreta onde deveria relatar o que de fato havia visto em sua viagem. Começou,então, a contar:
– Lá tudo é igual aqui. Apenas eles têm muito ouro e diamante. Mas o ouro e o diamante não são extraídos da natureza e sim de um laboratório através de uma fórmula que eu trouxe escrito e passo às mãos de vocês. Mas o que mais me espantou – e creio ser a maior riqueza deles – foi o seguinte. Lá todos são felizes. Não há pobreza, miséria, violência, tristeza, enfim, nada de ruim. Tudo é bom e todos vivem felizes. Eu quis saber a fórmula pela qual atingiram aquele nível de vida. E como não são egoístas, explicaram: “É simples. Aqui ninguém deseja ser feliz individualmente. Cada um quer não a sua felicidade, mas a felicidade coletiva. Se houver um homem infeliz no planeta, então ninguém será feliz”. Foi pensando assim que eliminaram todas as suas desgraças: fome, pobreza, violência, desigualdade social, guerra…
Suyel não pode terminar. O Chefe do Consórcio fez um sinal e entraram soldados fortemente armados que o levaram não se sabe para onde.
Em seguida, os líderes se reuniram para discutir quando começariam a produzir o ouro e o diamante a partir da fórmula de XBX e como seria feita a divisão do produto. Não houve concordância e o pau quebrou. Resultado: Não só destruíram a incrível máquina do transporte como também o papel que continha a fórmula de fabricação dos metais preciosos. Ninguém, todavia, falou da fórmula da felicidade.
Todavia, como ela não se perdeu, proponho que passemos a aplicá-la. Daqui por diante não vale dizer “eu quero ser feliz”, “eu tenho o direito de ser feliz”. Teremos de mudar o foco para: “nós teremos de ser felizes” “enquanto houver um homem infeliz na Terra nenhum outro poderá se considerar feliz”. Se nós passarmos a pensar assim, se os grandes líderes da Terra passarem a pensar assim, em breve a fome desaparecerá da África e de todos os cantos do planeta; as favelas sumirão das periferias das cidades; não haverá diferença entre as classes sociais; a violência deixara de existir e o oriente médio e os demais povos não mais guerrearão.
E então, como em XBX, todos nós seremos felizes, muito felizes.
** A luz leva 1 segundo e 3 décimos de segundo para sair da lua e chegar à Terra. 8 minutos e 19 segundos para sair do sol e chegar aqui. Para sair daqui e chegar à Galáxia Andrômeda leva 2 milhões e trezentos mil anos e para atravessar o Universo, de ponta a ponta, talvez uns 15 bilhões de anos. A velocidade da luz é de 299.792,458 km, praticamente trezentos mil quilômetros por segundo.
* Gilberto Ferreira é professor da PUC e juiz de Direito em Curitiba/PR
1 comentário em “Viagem ao mundo do tesouro perdido”
XBX, esse planeta é do Eike Batista.